Escola de período integral: o que é preciso para estruturá-la?
O tempo da oferta integral é uma extensão do aprendizado, e não apenas um período destinado a atividades extras. Confira recomendações da gestão da Camino School
por Leticia Lyle / Filipe Brancalião 5 de novembro de 2024
Transformar uma escola em período integral exige muito mais do que estender o tempo dos estudantes no espaço escolar. Trata-se de reimaginar a escola como um espaço de expansão de todas as dimensões da aprendizagem — acadêmica, artística, esportiva e socioemocional.
Como configurar uma oferta expandida? O que oferecer?
O tempo da oferta integral é uma extensão do aprendizado, e não apenas um período destinado a atividades extras. Para garantir esse aprofundamento, as escolas devem oferecer uma programação diversificada que contemple múltiplas áreas do conhecimento — Humanidades, Ciências, Matemática, Linguagens, Artes e Esportes. Essa organização permite que os estudantes explorem diferentes habilidades e interesses, ampliando sua compreensão do mundo e promovendo o desenvolvimento completo de suas capacidades.
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As trilhas de aprendizagem e os projetos interdisciplinares são essenciais nesse período. Esses caminhos personalizados oferecem aos estudantes a oportunidade de aprofundar conhecimentos e resolver problemas reais, conectando teoria e prática. É fundamental que o contraturno não seja percebido como uma sobrecarga, mas como um espaço significativo de aprendizado, que estimula a curiosidade e o engajamento dos estudantes.
Importante: a presença de professores especialistas é crucial para garantir a qualidade das atividades oferecidas. Esses educadores orientam os estudantes em suas trilhas e projetos, atuando como mentores e ajudando-os a desenvolver suas competências em áreas específicas.
Atividades eletivas e recreativas
As atividades eletivas e recreativas são pilares importantes para a estrutura do período integral, pois reforçam o protagonismo e a autonomia dos estudantes. As disciplinas eletivas permitem que cada estudante explore temas e áreas de seu interesse, aprofundando conhecimentos que despertam sua curiosidade. Esse modelo estimula a tomada de decisões e a capacidade de planejar o próprio aprendizado, promovendo maior envolvimento e motivação.
Por outro lado, as atividades recreativas, muitas vezes organizadas como afterschool (contraturno), desempenham um papel essencial no desenvolvimento socioemocional. Práticas como esportes, teatro, música, dança e meditação proporcionam momentos de descanso e socialização, fundamentais para o equilíbrio entre aprendizado e bem-estar. Essas atividades são também uma oportunidade para que os estudantes desenvolvam habilidades interpessoais, colaboração e empatia em um ambiente descontraído e estimulante.
O sucesso dessas propostas depende da variedade de atividades oferecidas e do respeito pelos interesses e perfis dos estudantes. A combinação entre desafio e prazer é uma estratégia eficiente para promover a participação ativa de todos, garantindo que cada estudante encontre atividades que despertem sua paixão e curiosidade.
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Estrutura e planejamento
Para que o período integral funcione de forma eficaz, é necessário repensar a gestão do tempo e dos espaços escolares. A reorganização do currículo é uma etapa essencial, assegurando que o aprendizado seja fluido e que haja tempo suficiente para a realização de projetos e atividades práticas. Além disso, é preciso adaptar a infraestrutura da escola — como salas de estudo, laboratórios, quadras esportivas e espaços artísticos — para atender às novas demandas pedagógicas e promover diferentes formas de aprendizado.
A formação contínua dos educadores é outro aspecto indispensável. Professores e colaboradores precisam estar preparados para lidar com a diversidade de interesses dos estudantes e para trabalhar de maneira interdisciplinar. A preparação para o período integral também envolve desenvolver habilidades para a mediação de conflitos, comunicação eficiente e promoção de um ambiente acolhedor e inclusivo.
Por fim, é essencial estabelecer uma comunicação clara e frequente com as famílias, que são parceiras fundamentais nesse processo. Explicar o propósito das atividades no contraturno e mostrar como elas beneficiam o desenvolvimento integral dos estudantes fortalece a confiança e o engajamento da comunidade escolar.
Para além da carga horária estendida
A implementação de uma escola em tempo integral é uma transformação na forma de conceber o aprendizado e a organização da rotina escolar. As atividades no contraturno e as experiências eletivas e recreativas são elementos fundamentais para uma educação integral que valoriza não apenas o desempenho acadêmico, mas também o desenvolvimento pessoal e social dos estudantes.
Ao promover trilhas de aprendizagem, projetos interdisciplinares e atividades que combinam conhecimento, prática e bem-estar, a escola se torna um espaço significativo de crescimento para cada estudante. Dessa forma, a jornada escolar ganha sentido e relevância, preparando os jovens não apenas para os desafios acadêmicos, mas também para uma vida plena e significativa, onde autonomia, curiosidade e aprendizado contínuo se tornam valores essenciais.
Leticia Lyle
É pedagoga e mestre em Currículo e Educação Inclusiva pelo Teachers College da Columbia University, nos Estados Unidos. É cofundadora da Camino Education e da Cloe, além de diretora da Camino School. Também é coautora do livro "Convivência Ética na Educação" e conselheira do Instituto Porvir e do Instituto Ame Sua Mente.
Filipe Brancalião
Doutor em Pedagogia das Artes Cênicas (ECA/USP) e diretor pedagógico da Camino School