Evento do Porvir debate como levar metodologias ativas para a sala de aula - PORVIR
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Inovações em Educação

Evento do Porvir debate como levar metodologias ativas para a sala de aula

Especialista em tecnologia educacional, Ana Paula Gaspar é uma das convidadas do "Encontro com o Porvir" e abre uma série de entrevistas que faremos sobre os diferentes temas do evento. Confira!

por Ana Luísa D'Maschio ilustração relógio 15 de abril de 2024

Estamos a todo vapor com os preparativos do “Encontro com o Porvir: um dia de aprendizagem, conexão e reconhecimento para educadores que transformam a educação”. O evento acontece em 4 de maio, das 9h às 17h, na Camino School, em São Paulo (SP). Garanta já o seu ingresso clicando aqui (as vagas são limitadas!).

Para entrar no clima e fazer a contagem regressiva com base no que será debatido, publicaremos semanalmente aqui no Porvir, até a data do encontro, um breve bate-papo com os nossos convidados sobre cada um dos temas que serão abordados na programação. 

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Começamos esta série de entrevistas com Ana Paula Gaspar. Especialista em tecnologia educacional, Ana é consultora de instituições nacionais e internacionais para a implementação de currículos de educação digital e formação de professores em redes públicas e privadas. No “Encontro com o Porvir”, ela será a mediadora da mesa de metodologias ativas, ao lado do professor Felipe Manoel Cabral, do Instituto de Educação Paulo de Tarso, localizado em Nova Iguaçu (RJ). Ele é o vencedor da categoria metodologias ativas, do Prêmio Professor Porvir, e o escolhido pelo público na categoria “Votação popular”, com 29,51% dos votos entre os 32 finalistas.

Confira, abaixo, a íntegra da entrevista:

Porvir – Em linhas gerais, o que são metodologias ativas na educação?

Ana Paula Gaspar
Divulgação

Ana Paula Gaspar – As metodologias ativas dizem respeito a uma mudança de caminho metodológico na aprendizagem. Classicamente, o conteúdo era apresentado ao estudante por uma aula expositiva ou qualquer outro recurso, convidando só depois para uma avaliação. O que as metodologias ativas propõem é mudar esse caminho metodológico, tentando trazer ao máximo a experimentação, o contato com o conteúdo ou com objeto de conhecimento de maneira ativa e protagonista para o aluno, para que possam construir seus próprios sentidos em torno dos objetos de saber. Com a metodologia ativa, temos um estudante que participa mais do seu processo de aprendizagem. O conhecimento em ação, mobilizado para a resolução de problemas ou para a compreensão do mundo ao seu redor, é apresentado o quanto antes no processo de ensino e aprendizagem. 

Porvir – E como as metodologias ativas aparecem na formação docente?

Ana Paula Gaspar – A resposta da pergunta anterior se conecta com o tópico de formação de professores. Vemos nas formações iniciais e continuadas das escolas e dos sistemas de ensino, bem como nas universidades, um foco muito grande no conhecimento em si e não nas práticas pedagógicas. As metodologias ativas dizem respeito à prática pedagógica e fala-se pouco sobre o assunto e suas variabilidades didáticas possíveis. Esse é um ponto do porquê precisamos abordar antes a formação docente do que [a formação em] metodologias ativas. O segundo ponto tem a ver com o que chamamos no campo de formação de professores de homologia de processo. Por mais que o professor vá entrar em contato com saberes, conceitos, conteúdos relacionados à prática pedagógica, ele não vai entrar em contato por meio de uma aula diferenciada em que o professor possa experimentar e ser autor de suas práticas. Por isso, é importante que o docente passe por experiências, que ele viva aquilo para depois conseguir falar em sala de aula. Temos esses dois pontos: o desequilíbrio entre teoria e prática nas licenciaturas no Brasil e a homologia de processos, que tem a ver com a própria didática do ensino superior e da formação de professores.

Porvir – Como devemos pensar em uma formação de professores em metodologias ativas?

Ana Paula Gaspar – Em relação à formação continuada, é preciso haver o conhecimento do contexto dos professores. O Brasil é um país diverso, com muitas questões de territorialidade, desigualdades, diferenças e, sobretudo, diversidades que fazem da gente ser o que é. Ao pensar em uma formação de professores baseada nas metodologias ativas, a gente precisa ter muito cuidado e muita atenção aos contextos, que se dividem em várias dimensões: em ele ser um professor recém-formado ou um professor mais experiente, em ele ser da educação infantil ou dos anos finais do ensino fundamental, em ser dedicado exclusivamente a uma escola ou se trabalha em mais de uma escola, bem como sua área de atuação. A formação continuada precisa muito dessa personalização para entender quem é esse professor, onde atua e qual é o seu público para que não seja repassada uma receita de bolo e, também, de alguma forma, ele não seja oprimido com possibilidades que funcionam em certos contextos, mas não no dele. 

Porvir – Quais outros pontos devem ser observados na formação continuada desses professores?

Ana Paula Gaspar – Precisamos pensar em como essas metodologias ativas se conectam sistemicamente com todo o arcabouço presente em uma escola. Qual é o currículo, o PPP (Projeto Político-Pedagógico)? A gestão é participativa ou mais centralizada? O tempo de formação dos professores nas escolas é muito curto… Tudo isso precisa estar conectado com a realidade da sala de aula, com uma aplicação prática muito rápida para que o professor consiga implementar esses saberes. Também temos de respeitar o protagonismo do professor, para que ele tenha autoria no que vai levar para a sala de aula.

Critérios a serem observados na formação continuada de professores:
– Foco no conhecimento pedagógico do conteúdo
– Homologia de processo
– Trabalho entre pares
– Formação de duração prolongada
– Coerência sistêmica (quando projeto pedagógico, infraestrutura da escola e apoio da gestão apoiam a mudança de prática).

Porvir – Como a escola deve se conectar com as metodologias ativas?

Ana Paula Gaspar – Podemos puxar os critérios mencionados anteriormente, sobretudo o da coerência sistêmica. É importante que a escola entenda que é preciso uma certa coerência do sistema escolar para que isso funcione. O PPP (Projeto Político-Pedagógico) tem de combinar. Não adianta, por exemplo, eu dar uma formação prolongada de aprendizagem baseada em projetos, que é uma metodologia ativa antiga, mas muito poderosa, se a escola não cria tempos e espaços para que os professores planejem, juntos. Ou ainda se a escola não oferece tempo necessário para o desenvolvimento de projetos de média e longa duração. É difícil fazer um projeto de uma semana; ele precisa, geralmente, de um trimestre. Isso precisa estar contemplado. 

Porvir – O currículo também precisa favorecer as metodologias ativas? 

Ana Paula Gaspar – Certamente. Para exemplificar, vou continuar mencionando a aprendizagem baseada em projetos. Se o currículo da escola diz que o ensino de computação é de maneira transversal, quer dizer que o professor de geografia pode trabalhar competências de pensamento computacional e programação em suas aulas. Mas essa transversalidade precisa caber no tempo dele, visto que está inserindo mais um conteúdo e que vai precisar organizá-lo, articular com os saberes da área de geografia. Do ponto de vista da escola, esse esse tópico da coerência sistêmica é o mais importante. Não basta o professor passar por uma uma formação de metodologia ativa se ele não tem essas condições garantidas na escola. Outro ponto importante, e pouco falado, é o reconhecimento profissional. 

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Porvir – Poderia exemplificar?

Ana Paula Gaspar – Trata-se tanto do reconhecimento financeiro, quanto do reconhecimento profissional e, ainda, do reconhecimento que insere o professor nesse sistema formativo na aprendizagem entre pares. É preciso que esse professor tenha tempo remunerado para apoiar outros professores. É preciso ver o que ele faz em sala de aula reverberando em um avanço profissional, com reconhecimento cultural e financeiro.

Porvir – Qual futuro da educação queremos a partir das metodologias ativas?

Ana Paula Gaspar – É um futuro mais inclusivo e equitativo. Pesquisas informam que quanto maior a variabilidade didática dos professores, mais perfis é possível incluir. Sabemos que o Brasil tem inúmeras desigualdades e diversidades, é preciso que professores olhem para diferentes alunos, para diferentes crianças e jovens e se atentem para a importância da diversidade das metodologias ativas, para que todo mundo caminhe junto e ninguém fique para trás. Quando a gente usa metodologias diversificadas, a fim de incluir a todos, alcançamos melhores resultados. 

Porvir – Por que é importante reconhecer as práticas de professores para impactar escolas ou redes?

Ana Paula Gaspar – Além da coerência sistêmica, é importante reforçar a prática pela pesquisa. Há estudos recentes mostrando que uma das formas mais efetivas dos professores aprenderem é entre eles, entre pares. É preciso que professores sejam reconhecidos pela gestão da escola e também entre professores. Vejo, nesse aspecto, que o Porvir faz isso muito bem. Ao criarmos comunidades, é dada visibilidade aos educadores e suas produções em sala de aula. Esse reconhecimento entre pares é fundamental para que possam se sentir apoiados, admirados e reconhecidos. Mas como não vivemos só de elogios e tapinha nas costas, é preciso também em professores que investem na sua prática e em professores que ousam sair do óbvio e se esforçar… Não estou aqui falando de um esforço individual, e sim coletivo, suportado por uma estrutura. Ainda assim, acho que é não é tão simples. Entre professores que avançam, implementam e transformam suas práticas pedagógicas garantidas nessas condições, é preciso ter reconhecimento profissional e saber o quanto eles contribuem para a sociedade, para a formação dos estudantes. É importante que apareça como premiado do Porvir, acredito que essa é a cereja do bolo. 

Porvir – O impacto dessas práticas, de fato, ultrapassa os muros da escola…

Ana Paula Gaspar – Vemos esses impactos e acho que estamos precisando resgatar, no Brasil e no mundo, a vontade das pessoas jovens em ser professores, e dos professores não saírem das escolas antes de eles se aposentarem. Fala-se muito de um apagão de professores no mundo inteiro. Sabemos do esgotamento mental e da precariedade da saúde mental desses profissionais, por isso precisamos reconhecer como os professores impactam a qualidade da educação. Muitas pessoas sabem que um bom professor é um fator decisivo. Sem fazer esse reconhecimento em diversas dimensões, a gente não vai prosperar. É preciso entender o lugar dos professores no processo de ensino-aprendizagem e nos esforçar para alcançar esse reconhecimento que tanto precisam. 



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competências para o século 21, educação mão na massa, metodologias ativas

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