Como transformar uma biblioteca em um espaço maker
Veja os principais passos de uma professora para reformular o espaço de uma escola norte-americana
por Susan Bearden, do EdSurge 4 de dezembro de 2014
Aqueles que visitarem a biblioteca da escola norte-americana Holy Trinity Episcopal Academy, em Melbourne, Flórida, podem se surpreender ao descobrir que ela tem pouca semelhança com as bibliotecas escolares de antigamente.
Vários alunos de 5ª série sentados em computadores, desenvolvem etiquetas de bagagem em 3D usando Tinkercad para ser impresso na impressora 3D Makerbot. Nas mesas centrais da biblioteca, os alunos estão criando máquinas Rube Goldberg usando peças manipuláveis ou o aplicativo RubeWorks no iPad. A biblioteca é um burburinho de atividades e alunos engajados, pontuados por gritos de excitação. E quem toma conta desse espaço maker, é a bibliotecária Judy Houser, uma educadora veterana que deu o passo visionário de transformar esta biblioteca uma vez tranquila em um espaço onde os alunos não só aprendem a amar a leitura, mas aprendem a explorar, criar e inovar usando uma variedade de ferramentas.
Passo 1: Pesquisa
Incentivada por seu marido a comprar um Pi Raspberry [um microcomputador do tamanho de um cartão de crédito] para os alunos usarem, Houser descobriu o movimento Maker enquanto pesquisava como incorporar o dispositivo em seu currículo. Intrigada para aprender com outras bibliotecas que já tinham incorporado espaços maker, ela expandiu sua pesquisa. “Era óbvio que um espaço maker em nossa biblioteca poderia proporcionar oportunidades únicas para os alunos começarem a explorar, inventar e criar”, diz Houser.
Houser começou pela leitura do livro Invent to Learn (Inventar para Aprender, em livre tradução), de Sylvia Martinez e Gary Stager e participou de um seminário realizado pelos autores, mas não parou por aí. “Eu pesquisei espaços maker na internet e visitei uma escola que tinha um. Também estou conectada com outros Makers, tanto pessoalmente quanto via email, e participei de uma conferência sobre tecnologias educacionais”, acrescenta ela.
Inspirada pelas possibilidades, Houser abordou alguns pais da escola que eram arquitetos para ajudar a elaborar um plano para um canto da biblioteca. Alguns meses depois, o primeiro espaço maker da biblioteca estava pronto.
Passo 2: Financiamento e Ferramentas
Os fundos para a criação do espaço maker vieram em parte através de uma doação da Harris Corporation, uma empresa de engenharia com base Melbourne. Além de uma impressora 3D, Houser adquiriu um Pi Raspberry, um Makey Makey, snap circuits, gyrobots, Legos e uma variedade de materiais de construção para a criação de máquinas de Rube Goldberg. Outros materiais do espaço incluem eletrônicos reciclados que os estudantes podem desmontar e reaproveitar e alguns kits de ferramentas que antes estavam abandonados nas garagens.
Passo 3: Transformando o ensino
Criar o espaço maker inspirou Houser a ensinar de maneira diferente. “Antes, eu fazia exposições durante aulas na biblioteca”, analisa. “Havia discussão, mas eram poucas as oportunidades para o aluno guiar a aprendizagem – a iniciativa era quase sempre minha.”
Com o novo espaço, isso mudou. “Agora, coloco as instruções acessíveis por meio de uma unidade de rede compartilhada, mostro algumas técnicas, e deixo os estudantes verem o que conseguem fazer. Eles escolhem o que querem aprender”, explica.
E os estudantes não estão apenas decidindo o rumo de seu próprio estudo – eles ensinam uns aos outros. Houser diz que, com essas novas ferramentas e atmosfera, os estudantes “ensinam aos outros, e frequentemente a mim, enquanto trabalham colaborativamente”, e acrescenta que “tem sido mais comum pedir por ajuda aos próprios colegas. Temos muitas oportunidades de aprendizado a partir de erros – as crianças entendem que revisar é um importante passo no processo de design.”
O que tem causado maior surpresa com o espaço maker, segundo Houser, é que ele é um lugar de equidade. “Estudantes não buscam mais só quem é mais popular, mas aqueles que possuem interesses em comum ou habilidades as quais querem aprender”, diz. Atualmente, as atividades são desenvolvidas por alunos do 2º ao 6º ano, mas existem planos para expansão para o ensino infantil num futuro próximo.
Passo 4: Olhando para o futuro
De acordo com Hauser, a reação de estudantes e pais em relação ao espaço maker tem sido surpreendentemente positiva, e quando perguntada que dicas daria para outros professores interessados em criar um espaço similar, Judy sorri. “Primeiro, dê um beijo de despedida na biblioteca silenciosa. Não se intimide quando adultos aparecem para reclamar do barulho – colaboração demanda comunicação!”
Pelo lado prático, Houser recomenda envolver o máximo de pessoas que for possível. “Peça a pais, integrantes da equipe de professores ou qualquer outra pessoa para vir dar uma mão”, diz. “Não ache que você tenha que criar o ambiente perfeito ou que ele deve ser igual aos outros. Lembre-se que é o processo que importa, não o produto.”
Outras sugestões incluem pedir a pais que criem suas próprias contas no Tinkercard para que crianças consigam trabalhar em seus projetos 3D quando estão em casa. Além disso, usar vídeos do YouTube, como o de Rube Goldberg, para motivar os estudantes. O vídeo “This too shall pass”, de Goldberg, é obrigatório, segundo Houser.
Futuros planos para o espaço maker incluem uma incursão no mundo de eletrônicos vestíveis e cortes a laser, iniciativas que devem ser financiadas pela associação de pais. Houser também pede doações para ajudar a financiar um kit de littleBits, conjunto de módulos eletrônicos para crianças montarem circuitos. E enquanto o espaço ainda é tecnicamente uma “biblioteca “, Houser planeja abri-lo para novos projetos – especialmente por conta da resposta dos alunos.
“A biblioteca sempre foi um lugar popular no campus, mas agora tenho que pedir que os alunos saiam quando a aula acaba”, diz.
*Matéria originalmente publicada no EdSurge