Crianças estão ficando cada vez mais criativas
Pesquisa diz que apesar da falta de tempo para brincar, os pequenos dessa década estão com a imaginação à solta
por Channing Spencer e Vagner de Alencar 5 de julho de 2012
As crianças são cada vez mais entretidas por jogos tecnológicos que simulam a realidade e têm bem menos tempo – do que os seus pais tiveram – para brincar e criar os próprios brinquedos a partir de outros objetos, como dar vida a um carrinho com uma caixa de papelão ou uma roupa de boneca por meio de folhas de papel. Mas isso não significa que elas sejam menos criativas. Pelo contrário. Pesquisa recente garante que os pequenos estão com a imaginação solta.
Estudo feito por pesquisadores da Universidade de Case Western, em Cleveland, nos Estados Unidos, mostra que as crianças americanas de ensino fundamental, mesmo com menos tempo livre para o brincar, têm uma imaginação mais aguçada e ficam, inclusive, mais à vontade para interagir com amigos imaginários do que aquelas nascidas há duas décadas.
Os resultados surpreenderam os pesquisadores. “Nós achávamos que tudo ia ficar pior com a falta de tempo, e que as crianças não seriam capazes de interagir com os brinquedos tradicionais. Ficamos surpresos com a descoberta e achamos que ela é de suma importância”, disse Sandra W. Russ, professora de psicologia da universidade, ao EdWeek.
A pesquisa, chamada de Changes in Children’s Pretend Play Over Two Decades (As mudanças nas brincadeiras de faz de conta ao longo de duas décadas, em tradução livre), comparou, durante 23 anos, crianças de mesma faixa etária, de 6 a 10 anos, entre 1985 e 2008.
Disponibilizado on-line este ano, o estudo avaliou hábitos e brincadeiras de 900 crianças de bairros de classe média e de comunidades vulneráveis dos EUA. Os estudantes tiveram suas atividades gravadas enquanto conversavam com os avaliadores e brincavam com diferentes objetos como cubos e fantoches.
Criando os próprios brinquedos
A ideia era observar de que forma elas interagiam com os brinquedos e como, a partir de diferentes objetos, criavam novos brinquedos – como caixas transformadas em carrinhos e prédios ou colares feitos a partir de contas e miçangas. Em seguida, os pesquisadores mediam o nível de imaginação, expressão emocional e capacidade de contar histórias das crianças.
A conclusão dos pesquisadores foi que as crianças não apresentaram diferenças na organização, no envolvimento emocional com a brincadeira ou na capacidade de contar histórias. Porém, o estudo mostrou um aumento considerável (numa escala de um a cinco) na qualidade e no desenvolvimento da imaginação das crianças dos dias atuais.
Segundo Russ, crianças com mais imaginação não são necessariamente mais inteligentes, mas mostram maior habilidade em lidar com os desafios e resolver problemas do que estudantes que são menos criativos no brincar. Os estudiosos ressaltam que, mesmo sendo hoje mais criativas, os processos cognitivos que acontecem em meio às brincadeiras tradicionais continuam sendo importantes para o desenvolvimento das crianças.
Nos Estados Unidos, de acordo com dados da Universidade de Medford, nessas duas décadas, as crianças americanas diminuíram em oito horas o tempo semanal dedicado às brincadeiras depois que chegam da escola. O que apontaria para uma “perda da cultura da infância”.