Currículo de referência em tecnologia e computação busca resolver problemas a partir do pensamento digital - PORVIR
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Inovações em Educação

Currículo de referência em tecnologia e computação busca resolver problemas a partir do pensamento digital

Elaborado pelo CIEB, documento incentiva que redes e escolas possam adotar estratégias e o trabalho com competências guiado pela BNCC para que alunos desenvolvam habilidades a partir do uso de tecnologias simples e complexas

Parceria com CIEB

por Maria Victória Oliveira ilustração relógio 23 de novembro de 2020

Repensar uma proposta curricular não é tarefa simples. Ao mesmo tempo em que é preciso revisitar metodologias antigas, também é necessário se adequar às novas políticas educacionais, como o Novo Ensino Médio e a BNCC (Base Nacional Comum Curricular), que determina uma série de competências e habilidades a serem desenvolvidas. A quinta competência geral da BNCC, por exemplo, reforça a importância de “compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva”.

Para apoiar redes de ensino e escolas em processos que envolvam o uso de tecnologia em suas propostas curriculares, o CIEB (Centro de Inovação em Educação Básica) elaborou o Currículo de Referência – Itinerário Formativo em Tecnologia e Computação (clique para acessar), uma ferramenta que oferece diretrizes e orientações, entre marcos conceituais, inspirações, bases metodológicas e teóricas para a construção do itinerário formativo.

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“Entender de tecnologia se tornou condição fundamental para ler e compreender o mundo, tal como Paulo Freire se referia à alfabetização. Não por acaso, muitos países estão atualizando – ou já atualizaram – o currículo de suas escolas para incorporar esses novos conhecimentos”, destaca Lúcia Dellagnelo, diretora-presidente do CIEB. De acordo com ela, o documento pode ser entendido tanto como um ponto de partida e fonte de consulta para os gestores educacionais e coordenadores pedagógicos, como também como um currículo pronto para implementação. “As diretrizes são claras, muito bem embasadas e, ressalto, adequadas à realidade da rede pública e ao seu corpo docente”, afirma.

Entender de tecnologia se tornou condição fundamental para ler e compreender o mundo, tal como Paulo Freire se referia à alfabetização

Pensar em um percurso formativo especificamente para que alunos possam desenvolver as competências e habilidades relacionadas a tecnologia e computação é uma das preocupações do currículo de referência. Segundo Flávio Campos, um dos consultores responsáveis por coordenar a produção do documento, a ideia é fazer com que crianças e jovens não se limitem a serem usuários de tecnologia, mas quem possam entender todo o processo de criação da tecnologia e, a partir disso, pensar em novos arranjos e usos.

No cenário pré e ainda mais no pós-pandemia, ter autonomia na hora de propor soluções, não basta que os estudantes saibam mexer no celular. Luci Ferraz de Mello, sócia-fundadora da LF Edu-Com, comenta que, possivelmente, as pessoas ainda não se deram conta sobre o fato de o digital ser muito mais relevante do que muitos imaginam. “O papel da escola é formar cidadãos. Mas o que significa isso? Em uma sociedade altamente tecnológica, o aluno deve saber pensar soluções a partir do seu propósito de vida. Um assistente social, por exemplo, pode pensar em um aplicativo para fazer um acompanhamento melhor das famílias que atende. Ou seja, estamos falando de soluções digitais, isso passa por uma aprendizagem sobre o processo de pensar e resolver problemas”, explica.

Estrutura do currículo
O currículo elaborado pelo CIEB está dividido em três eixos: Cultura Digital, Pensamento Computacional e Tecnologia Digital. Cada um se subdivide em dez conceitos associados, que agrupam competências, conhecimentos, habilidades, atitudes, práticas, indicadores de avaliação e materiais de referência.

No eixo Cultura Digital, por exemplo, são apresentadas duas competências principais: ‘Propor ações criativas que contribuam para a transformação da sociedade, analisando e utilizando as tecnologias de forma crítica, considerando os diferentes tipos de mídia e as relações humanas mediadas por elas’  e ‘Analisar a relação tecnologia e sociedade, avaliando suas potencialidades e riscos, considerando a ética, a sustentabilidade e o empreendedorismo, a fim de atuar no mundo de forma responsável’.

Em seguida, apresentam-se 10 unidades curriculares: seis essenciais (como autoria digital, letramento midiático, ciência e pesquisa na era digital) e quatro eletivas (como empreendedorismo tecnológico, desenho técnico e vetorial e diagramação e editoração).

Dentro de cada UC, estão a competência que está sendo trabalhada, os recursos necessários, as temáticas e atitudes envolvidas, bem como conhecimentos, habilidades e práticas sugeridas. A proposta é oferecer exemplos práticos, de forma a facilitar a aplicação do currículo.

Interdisciplinaridade e aplicação
Para implementar o currículo de referência, redes e escolas podem associar o documento  a outras áreas e componentes, em um movimento de promover cada vez mais interdisciplinaridade. “Quando eu e o Rodrigo Dias estávamos desenhando o currículo, algo em que pensamos muito foi na possibilidade de elaborar diferentes arranjos e combinações curriculares. O itinerário para o ensino médio se baseia em possibilitar diferentes arranjos a partir de uma estrutura flexível, para que a escola possa propor esses caminhos e que os alunos possam desenhar seu percurso formativo”, diz Flávio.

O itinerário para o ensino médio se baseia em possibilitar diferentes arranjos a partir de uma estrutura flexível, para que a escola possa propor esses caminhos

Considerando as 26 unidades curriculares dispostas entre os três eixos, o itinerário formativo conta com 1.440 horas de atividades. Dessa forma, são inúmeras as possibilidades de combinação de eixos e competências a serem trabalhadas. “Em Pensamento Computacional, por exemplo, dá para trabalhar matemática com os algoritmos, já que essa disciplina é a base para programação. Já no eixo de Cultura Digital, é possível vislumbrar fortemente as ciências humanas nas unidades curriculares, como sociologia, filosofia e discussões sobre ética e cidadania digital”, exemplifica.

Ao longo do itinerário, também é possível desenvolver trabalhos e atividades envolvendo habilidades socioemocionais, ou seja, propostas que estimulem a reflexão sobre o papel do aluno no uso da tecnologia. “Nós procuramos olhar muito para esse lado da cidadania digital. Isso está presente na hora que o aluno precisa criar um site e deve pensar em como pode colocar sua opinião, por que deve manter o respeito na web e o que fazer quando se depara com pessoas que estão se expondo na internet. É todo um trabalho pensando na vivência online do estudante.”

Luci também destaca a necessidade de uma proposta lúdica, que realmente mostre aos alunos a finalidade do que estão aprendendo. “Uma coisa que os estudantes adoram é programar aplicativo, porque eles estão vendo de fato o objetivo. Quando começamos a trabalhar essa ressignificação do saber e trabalha realmente competências, conceitos, a aplicação prática, e a atitude – que é resolver problemas utilizando esse conhecimento conceitual e essa habilidade prática dentro de diferentes contextos, que é a beleza na BNCC –, aí sim você consegue bons resultados, porque começa a mudar o modelo mental dessa garotada.”

Parcerias para infraestrutura 
Além de pensar na estrutura curricular, outro ponto que é necessário ter em mente quando se pensa em um itinerário de tecnologia e computação é a infraestrutura, que muitas escolas e redes de ensino não têm, seja em termos de conectividade da própria rede, como as dificuldades com as licenças de programas que os alunos deveriam usar e os próprios recursos e equipamentos dos estudantes.

Por isso, a consultora também defende que, uma das opções a curto prazo, é a realização de parcerias entre as redes e outras instituições de ensino que já tenham essas instalações e possam compartilhá-las. “Muitos institutos federais têm laboratórios e mão de obra especializada. Então firmar parcerias com esses atores pode ser uma opção para o curto prazo. Mas à médio e longo prazo, as redes podem ir montando os próprios laboratórios e formando grupos de professores para trabalhar os itinerários”, ressalta Luci.

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aprendizagem baseada em projetos, ensino médio, personalização, programação, socioemocionais, tecnologia

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