Como evoluímos na educação desde o primeiro título na Copa
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Inovações em Educação

De 1958 a 2018: Como evoluímos na educação desde o primeiro título na Copa

Sessenta anos se passaram desde que o Brasil levantou a primeira taça. Veja linha do tempo que combina marcos educacionais e conquistas no futebol

por Marina Lopes / Vinícius de Oliveira / Dados: Portal Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede) ilustração relógio 27 de junho de 2018

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Série Copa da Educação

Quando Pelé estreou no terceiro jogo da Copa de 1958, as crianças do Grupo Escolar Cesar Martinez, escola na zona sul de São Paulo (SP), estavam em aula. No 2º ano do primário, Renato Janine Ribeiro, que viria a se tornar filósofo, professor universitário e ministro da Educação, sabia poucos detalhes do que acontecia na Suécia. Seu colega de classe, Esper Abrão Cavalheiro, médico e atual pró-reitor de pós-graduação da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), só sabia os resultados pelo pai, corintiano fanático que seguia a seleção pelo rádio.

Naquela época, acompanhar a seleção na Copa era tão difícil quanto garantir o acesso à educação para crianças e jovens brasileiros. Quando os jogos ainda eram transmitidos apenas pelo rádio, quase 50% da população sabia sequer ler e escrever. O número de estudantes na escola ainda era baixo: 6.569.322 matrículas no ensino fundamental e 989.700 no ensino médio, segundo dados do Anuário Estatístico do Brasil.

No 29 de junho, em uma partida que começou às 15h no Estádio Råsunda, região metropolitana de Estocolmo, a seleção comandada pelo técnico Vicente Feola venceu os donos da casa com o placar 5 a 2. No entanto, a notícia de que o Brasil era campeão mundial só chegou dias depois. “Com o retorno dos jogadores ao país, fiquei sabendo que eles ganharam a Copa”, recorda Janine, que diz ter acompanhado sua primeira Copa do Mundo pelo rádio em 1962, quando o país conquistou o bicampeonato no Chile.

“A primeira Copa que eu lembro alguma coisa é justamente a de 1958, depois de 1962 e de 1966. Na escola se comentava pouco e não havia muito estímulo. Era uma coisa mais praticada em casa. Meu pai assistia e discutia”, reforça Cavalheiro.

Desde quando a seleção brasileira ganhou seu primeiro título até hoje, muita coisa mudou na tecnologia, no futebol e, inclusive, na educação. Em 1960, apenas 2% da população terminava a educação básica. Hoje, 46,1% das pessoas com 25 anos ou mais têm ensino médio completo. Mesmo ainda abaixo da meta do PNE (Plano Nacional de Educação), o Brasil também reduziu para 7,1% a taxa de analfabetismo da população com 15 anos ou mais, entretanto, ainda enfrenta uma série de desafios para avançar na qualidade do ensino, garantir a aprendizagem dos alunos e promover a equidade.

Quase sessenta anos depois da primeira conquista mundial no futebol, tempo suficiente para levantar cinco taças, o país ainda não conseguiu colocar todos os jovens de 15 a 17 anos no ensino médio, bem como manter esses alunos na escola, já que a taxa de evasão no primeiro ano é de 12,7%, considerada a maior de toda a educação básica.

O acesso na educação infantil também está distante das metas do PNE, que preveem a universalização da pré-escola e 50% das crianças de 0 a 3 anos atendidas. Na avaliação do ex-ministro da Educação, a creche deveria ser a política mais importante do país em termos de educação. “A mudança precisa começar na creche. Temos que substituir a pessoa que olha a criança por um processo educativo em que a criança aprende a se socializar e a respeitar o outro”, sugere.

Em contrapartida, no ensino fundamental o Brasil deu o seu maior passo em direção à universalização, atualmente com taxa de escolarização em 99,2%, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua de 2017. Esses números só foram possíveis após a Constituição de 1988 determinar a gratuidade e obrigatoriedade desta etapa de ensino, e a posterior criação de mecanismos de financiamento como o Fundef (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério). A chegada de novos alunos também trouxe uma série de desafios para adequação da infraestrutura, formação e plano de carreira docente, entre outros.

Hoje, no 5º ano da Escola Estadual Cesar Martinez, Arnaldo Kazuo Britto, 10, é uma das mais de 27 milhões de crianças matriculadas nessa etapa. Diferentemente de Janine e Cavalheiro, o menino acompanhou todos os jogos das seleções do Brasil e do Japão, interesse explicado pelo seu sobrenome de origem japonesa. “Têm alguns jogos que são no meio da aula. Depois que volto da escola, pego o tablet e vejo no aplicativo de futebol”, conta o aluno que, durante a conversa, também revela sua preferência pela matemática. “Porque eu não preciso ficar escrevendo texto e consigo colocar o número exato da conta”, justifica.

Até a década de 90 o grande desafio ainda era a inclusão, mas, com mais crianças e jovens nas escolas, o país passou a olhar mais atentamente para o aprendizado e começaram a ser criados mecanismos de avaliação importantes, como o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (1990), a Prova Brasil (2005), o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (2007) e a Avaliação Nacional de Alfabetização (2012).

Na escola de Arnaldo, a mesma por onde passaram dois importantes nomes da educação nacional, hoje os indicadores possibilitaram identificar que ao término dos anos iniciais do ensino fundamental, 88% dos alunos saem com aprendizado adequado em português e 85% em matemática. Porém, os dados da Prova Brasil apontam que isso ainda é uma realidade distante da média nacional, em que níveis de proficiência caem para 50% em português e 39% em matemática.

Ao contrário do que acontecia em 1958, as avaliações também permitem acompanhar a evolução de cada escola ao longo dos anos. No caso da Cesar Martinez, entre 2013 e 2015, a Prova Brasil mostra que escola aumentou o aprendizado dos alunos do 5º ano: 26 pontos percentuais em português e 23 pontos percentuais em matemática. O Ideb também subiu de 6,1 (2007) para 7,3 (2015).

Fachada atual da Escola Estadual Cesar MartinezCrédito: Maria Victória Oliveira

De acordo com a coordenadora Solange Aparecida da Silva, os resultados são atribuídos a uma série de fatores, entre eles, o trabalho com jogos, desafios e projetos. “O que deu muito certo também foi o estudo da matemática por meio de desafios. Trabalhamos muito as adversidades e os planos de aula são feitos a partir do que os alunos querem aprender”, exemplifica. A diretora Roseli Aparecida Lira Leite também reforça que a proposta de uma gestão democrática faz a diferença no dia a dia. “Junto com a sala de aula, oferecemos ao aluno muitas coisas bacanas. Eu penso que se o aluno gostar da escola, se ele for um sujeito ativo e atuante, vamos construir a educação dentro do que idealizamos.”

Ao mesmo tempo em que os indicadores educacionais permitem acompanhar quem está melhorando, eles também reforçam disparidades educacionais em um país de dimensões continentais. Enquanto nos anos iniciais do ensino fundamental o município de Sobral, no Ceará, se destaca com a nota 8,8; oito municípios ficaram com nota abaixo de 3. Como mostrado na última matéria da Série Copa da Educação, a redução de desigualdades ainda está entre os maiores desafios do Brasil, assim como a urgência de colocar a educação na agenda pública. “Educação não pode ser prioridade de Estado, tem que ser uma prioridade da sociedade. Se a sociedade não assume a educação como prioridade, vamos ter políticas, na melhor das hipóteses, iluministas”, diz Renato Janine Ribeiro.

Do primeiro título, em 1958, até a homologação da Base Nacional Comum Curricular e o debate atual sobre ensino médio, veja marcos importantes da educação brasileira:


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avaliação, educação infantil, ensino fundamental, ensino médio, Série Copa da Educação

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