De professor a gestor: como secretarias de educação podem promover a formação de líderes - PORVIR
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Inovações em Educação

De professor a gestor: como secretarias de educação podem promover a formação de líderes

Educadores podem sonhar com um futuro além da sala de aula desde que recebam formação para desenvolver as habilidades que ainda não possuem

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por Maria Victória Oliveira ilustração relógio 28 de julho de 2021

Para quem deseja alçar novos voos dentro das redes públicas de educação, as possibilidades de atuação vão muito além da sala de aula. Quem vive o “chão da escola” traz consigo uma valiosa experiência sobre o cotidiano de professores e alunos  que mais tarde será importante para implantar programas e desenhar novas políticas públicas. É o que defende Ademir Almagro, secretário municipal de educação de Novo Horizonte (SP).

O educador, que passou 20 anos atuando em sala de aula, conta que sempre teve vontade de assumir outros cargos na secretaria. De professor passou a assessor técnico pedagógico e depois assumiu a coordenação pedagógica de uma escola da rede municipal de Novo Horizonte. “Eu já tinha uma experiência muito grande em sala de aula como professor e tinha vontade de contribuir de outras formas”, comenta Ademir.

Carlos Uehara, gerente de desenvolvimento de lideranças na Fundação Lemann, avalia que a vivência de sala de aula e eventualmente como coordenador pedagógico, diretor de escola, técnico da secretaria não é fundamental, mas traz diferenciais para quem sonha em assumir posições de gestão na rede pública.

“Uma coisa é ler, pesquisar e ouvir pessoas que passam por isso. Outra coisa é vivenciar. Porém, a função, os escopos e objetivos de um líder de secretaria é diferente de um professor. É importante que quem ocupe esse cargo também tenha outras competências que não necessariamente estão em ser um bom professor.”

Uma coisa é ler, pesquisar e ouvir pessoas que passam por isso. Outra coisa é vivenciar

Inspiração e exemplo: o papel dos líderes
Assim como Ademir, Adriane Gallo, secretária municipal de educação de Ferraz de Vasconcelos (SP) diz que o exemplo de seus antigos gestores a inspirou em traçar novos caminhos na educação. “Sempre quis assumir novas funções pois os desafios me motivam e eu enfrento com muita inspiração”, reforça.

Em sala de aula, Adriane passou por todos os níveis de ensino: desde a educação infantil até a EJA (Educação de Jovens e Adultos) e ensino superior. Seu grande aliado nesse processo foi o gosto pelos estudos. “Sempre mudei muito de cidade, então tive que abrir mão de alguns concursos. Mas onde chegava conseguia me alocar porque nunca deixei de estudar. Fiz o magistério, cursei pedagogia, fiz especializações e mestrado em psicologia”, explica. Antes de assumir a secretaria, Adriane teve experiências como coordenadora pedagógica, auxiliar supervisora de ensino, retornou à sala de aula e esteve à frente de uma escola enquanto diretora.

Onde chegava conseguia me alocar porque nunca deixei de estudar

Toda essa vivência acabou lhe proporcionando repertório e conhecimento, além do desenvolvimento de habilidades fundamentais para profissionais que ocupam posições de liderança. Carlos pontua, por exemplo, que é fundamental que os educadores acreditem no na trajetória e potencial dos alunos e tenham altas expectativas em relação a eles e à rede de ensino. “Quando o líder possui essa crença, ela transparece para as equipes e dá o tom que inspira muita gente. Isso é fundamental: um bom líder precisa inspirar”, explica.

Outras habilidades imprescindíveis aos líderes são: saber conduzir pessoas, ter uma escuta atenta e empática considerando os perfis de cada público com o qual terá que lidar – alunos, famílias, educadores, equipes, sindicato –, e a capacidade para tomar decisões, enumera Carlos. “Um líder precisa garantir que haja avanço. Na educação isso significa colocar de pé os planejamentos para garantir a aprendizagem dos estudantes da rede, além de  conduzir as equipes que vão fazer a operação. É muito importante ter essa habilidade de mobilizar muita gente com conversa e diálogo”, completa.


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Do micro ao macro
Um ponto comum trazido por Ademir e Adriane é a importância de “virar a chave” ao sair da sala de aula para assumir outro cargo: não se trata mais de pensar o conteúdo de sua próxima aula, e sim ter um olhar mais amplo. “Quando assumimos um novo cargo, é necessário um olhar para a rede. Você precisa pensar no sistema”, explica Ademir.

Quando assumimos um novo cargo, é necessário um olhar para a rede. Você precisa pensar no sistema

Alcançar o nível mais alto, o de secretário de educação, traz exigências das mais variadas e que a um primeiro olhar podem não ter muito ligação direta com o dia a dia de professores e alunos. “No começo é um grande desafio pois, enquanto professor, você não tem a formação específica para isso. Enquanto assessor técnico ou mesmo coordenador pedagógico, era necessária essa visão do que chamamos de macroeducação, mas ainda tinha muito a questão pedagógica ligada à sala de aula, ao conteúdo e formação de professores. Mas na secretaria tem a parte burocrática de cuidar da cozinha-piloto e do transporte escolar”, exemplifica Ademir.

Nesse processo de ampliar os horizontes, Adriane reforça a importância de duas habilidades: conhecimento, considerando o porte e a rede de conexões dentro de uma secretaria municipal de educação, e relações interpessoais citadas por Carlos, que, se bem trabalhadas, são capazes de proporcionar apoio mútuo entre escola e secretaria para a implementação de políticas públicas e planos de carreira dos profissionais da educação.

A formação de novos líderes
E como planejar essa nova carreira? Não basta contar com a vontade dos educadores em sala de aula para assumir novas funções dentro de uma secretaria de educação. A própria rede precisa realizar uma preparação e se estruturar para que os educadores possam assumir postos de liderança.

Carlos explica que é necessário observar três pontos. O primeiro diz respeito a uma divulgação transparente dos objetivos da função em questão e quais habilidades e competências são esperadas da pessoa que assumir o cargo.

A formação adequada, combinando teoria e prática, para que professores e gestores possam se preparar para novas atribuições é outro ponto de atenção. Ademir explica que, ao ser convidado para ser assessor técnico pedagógico, já tinha alguma noção das novas responsabilidades, mas a grande dificuldade era não ter formação específica para isso.

Segundo o educador, além da ausência de materiais e referências que pudesse pesquisar, um dos desafios nesse período foi a questão de assistir às aulas dos educadores, tema que ainda era pouco comentado com o uso de métodos e processos quando ele assumiu o cargo de assessor. “Hoje eu reconheço que o que fiz lá no começo estava errado. Era quase uma invasão da aula do professor, pois assistíamos e não tinha nenhuma devolutiva. A experiência me ajudou a melhorar esse ritmo e a derrubar mitos e resistências que eu mesmo tinha enquanto professor.”

Por fim, Carlos reforça que é necessário um processo avaliativo posterior à formação, considerando as ações pedagógicas desenvolvidas e os resultados apresentados.

 

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carreira, liderança escolar

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