Em projeto maker, turma da EJA propõe soluções para desafios da comunidade
Professora de Santos (SP) conta como a atividade promoveu o resgate da autoestima dos alunos que não concluíram os estudos no tempo regular
por Kelvia Maria Ramos Ronqui 26 de fevereiro de 2020
Sou professora na Educação de Jovens e Adultos da rede municipal de ensino de Santos (SP). Trabalho com um público composto por alunos que não tiveram oportunidade de concluir seus estudos no tempo regular por diferentes fatores: dificuldade de aprendizagem, inserção prematura no mercado de trabalho, ausência de estrutura familiar, entre outros. Para ressignificar os conteúdos escolares de maneira relevante e inovadora, desenvolvi o projeto “Box Maker: um olhar para a EJA”.
O principal objetivo do projeto foi criar oportunidades para os alunos utilizarem recursos tecnológicos de baixo custo na resolução de problemas cotidianos. A proposta contemplou o processo de inserção dos alunos no “mundo maker” e a percepção deles enquanto protagonistas de seu meio social. As atividades eram realizadas de forma colaborativa, a fim de propiciar a construção coletiva e reflexiva de todos os protótipos.
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As ações programadas para início do projeto não seguiram um roteiro específico, pois tudo começou a partir de situações provocadas pelos próprios alunos. Porém, algumas noções básicas foram apresentadas para abordagem de aplicações tecnológicas e suas funcionalidades, permeando pela evolução da tecnologia e suas implicações na vida prática.
A partir de então, o primeiro contato com os materiais físicos ocorreu por intermédio de leds, com a ação de ligar e desligar usando pilhas e baterias. Para essa atividade, evitei qualquer orientação técnica, ou seja, tudo ocorria mediante as explorações dos alunos.
Esses momentos foram extremamente valorosos, pois conseguimos relacionar ao nosso fazer muitos dos conceitos estudados no âmbito escolar. Nesse sentido, as aulas aconteciam e evoluíam de acordo com as experiências dos envolvidos. As atividades eram articuladas de forma colaborativa, em que cada um contribuiu de alguma maneira, gerando um aprendizado construído a muitas mãos.
Após o desvendar de alguns princípios básicos, partimos para a programação com o Scratch. Depois fizemos a integração da programação para Arduino – S4A. Durante a criação de pequenos experimentos (ligar leds, construir semáforos, ligar buzzer, entre outros), os próprios alunos experimentaram e descobriram outras possibilidades.
O primeiro protótipo foi um robô construído com material reciclável, placa arduino, protoboard, jumpers, módulo bluetooth e sensores com movimentos controlados pelo auxílio de um tablet.
Ao longo do desenvolvimento do projeto, muitos problemas reais foram levantados enquanto os protótipos estavam sendo construídos. São eles: sistema de monitoramento de deslizamentos dos morros da cidade, sensores de iluminação acionados mediante movimento de pedestres em pontos de ônibus e captação de resíduos sólidos nas bocas de lobo.
Além do conhecimento formal adquirido, o que notei de mais significativo foi o resgate da autoestima dos alunos envolvidos. Observei que as vivências ao longo do percurso propiciaram novas perspectivas, entre elas, o protagonismo na construção do aprendizado e do seu futuro.
O olhar para situações desafiadoras resgatou o sentimento de pertencimento à sociedade. Esse movimento possibilitou parcerias com outros órgãos públicos e privados a fim de solucionar aqueles problemas.
Observar essa apropriação e possibilidade é uma experiência que se torna um divisor de águas na vida de qualquer professor. Os alunos já não são mais os mesmos. As vivências adquiridas ao longo do desenvolvimento do projeto propiciaram novas perspectivas, uma delas é o de se sentirem capazes de realizar qualquer coisa.
Kelvia Maria Ramos Ronqui
Graduada em matemática e pedagogia, professora da rede municipal de ensino de Santos e São Vicente. Pós-graduada em Alfabetização e Letramento. Integrante da Seção de Educação de Jovens e Adultos da Secretaria Municipal de Educação de Santos (SP).