Empresa de turismo propõe roteiro educativo em Heliópolis
Projeto propõe viagens que explorem experiências sustentáveis; primeira jornada levou a bairro-escola de SP
por Vagner de Alencar 30 de abril de 2012
Imagine uma viagem turística em que o roteiro, apesar de planejado por uma empresa de turismo, não oferece apenas lazer, mas oportunidades educativas. Um passeio em que os turistas participam de atividades em comunidades e debates com especialistas. O modelo Viaje na Sustentabilidade foi proposto pela Tory Viagens e Turismo, empresa especializada em turismo corporativo, e já tem três roteiros disponíveis. A primeira experiência, piloto, foi realizada em Heliópolis.
O projeto consiste em oferecer a quem estiver interessado, normalmente grupos de empresas, jornadas de aprendizagem pré-formatadas ou planejadas sob medida, sempre com a intenção de propiciar vivências transformadoras e reflexões sobre sustentabilidade. “Incentivamos as pessoas a deixarem suas zonas de conforto, questionarem seus pressupostos e preconceitos e, a partir desse ponto de conexão com seus ideais, pensar no ‘futuro emergente’ que desejam para si e para a nossa sociedade”, afirma André Ramos, diretor do programa.
Dentre os três roteiros disponíveis, um acontece na Bahia e dois em São Paulo. O Desenvolvimento Territorial Sustentável no Sul da Bahia (Ilhéus e Itacaré) promove discussões sobre a implantação de um porto na região. O Comunidades Tradicionais e Meio Ambiente no Vale do Ribeira propõe a reflexão sobre o papel das comunidades quilombolas e caiçaras que habitam esses territórios. O Economia Solidária da Cultura na Zona Sul de São Paulo transita por um ambiente cultural efervescente de saraus, coletivos culturais, moedas solidárias, microcrédito e juventude na periferia da maior cidade do país.
Em parceria com o Instituto Tellus, que ajudou a estruturar o passeio a Heliópolis, a Tory levou 15 funcionários de grandes empresas e de diferentes áreas de atuação para um roteiro sustentável na maior favela de São Paulo, no final do ano passado. “Pensamos que seria legal começar pela educação, pela sua relevância para o desenvolvimento de nosso país e fomos então atrás de experiências inovadoras”, conta Ramos.
Para César Matsumoto, do Instituto Tellus, a escolha por Heliópolis se deve, em parte, ao fato de a comunidade vir trabalhando o conceito de bairro educador, que envolve moradores no desenvolvimento local e que pode inspirar os profissionais no cotidiano de suas empresas.
Jornada em Heliópolis
O passeio em Heliópolis durou três dias. No primeiro, a ideia das atividades “preparam o olhar” dos turistas para chegar ao local sem imagens preconcebidas. “Era preciso que o participante entrasse naquela realidade sem achar que já sabia tudo. Era preciso sensibilizar o olhar, a escuta”, diz Matsumoto.
No segundo dia, o grupo se encontrou na estação Sacomã do metrô, a mais próxima de Heliópolis, para, a partir dali, adentrar a realidade da comunidade. Caminharam durante uma hora até chegar aos becos e às vielas de Heliópolis e, como afirma Matsumoto, “colocar a mão na massa, por meio de atividades e interação com os professores das escolas”.
No terceiro dia, a jornada de aprendizado se encerrou com a troca de experiências entre participantes e moradores e um debate, auxiliado por especialistas, sobre como a vivência daqueles dias poderia melhorar a vida dos envolvidos.
Para Ramos, esse tipo de viagem ainda é bastante incomum no Brasil, mas há um movimento crescente na busca por essas experiências. “Infelizmente, esse tipo de ‘formação vivencial’ ainda é algo novo no Brasil e as empresas estão começando a se interessar por isso, complementando e incrementando as formações tradicionais de seus colaboradores.”