Em escola rural, crianças montam coleção de insetos em projeto de ciências - PORVIR
Crédito: Arquivo Pessoal/ Maria Cristina Fachin Liberalesso

Diário de Inovações

Em escola rural, crianças montam coleção de insetos em projeto de ciências

Professora conta como desenvolveu um projeto de iniciação científica com alunos do quarto ano do ensino fundamental

por Maria Cristina Fachin Liberalesso ilustração relógio 21 de fevereiro de 2018

Durante minha profissão, pude provar que o aluno só aprende quando a proposta de trabalho atende ao seu interesse e necessidade. Ele precisa ser o construtor dessas aprendizagens. É fundamental que desenvolva desde cedo habilidades de percepção, observação, investigação, reflexão, análise, formulação de conceitos e conclusões. A partir dessas concepções, vivenciamos em 2016, na escola rural Escola Municipal de Ensino Fundamental São Thomáz de Aquino, em Pinhal Grande (RS), uma experiência com a turma do 4º ano do ensino fundamental. O projeto “Pequeno Cientista” durou cerca de seis meses e teve como objetivo proporcionar à turma a aprendizagem através da pesquisa prática.

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Tudo começou quando encontramos o banheiro das meninas cheio de insetos. Isso despertou o interesse da turma em saber mais sobre aquela bicharada. Vi na situação uma oportunidade de grandes descobertas. A primeira delas: a lâmpada do banheiro ficou acesa durante uma noite inteira e os insetos foram atraídos pela luz. Aos poucos, muitas curiosidades foram surgindo. Registramos tudo o que a turma queria saber, levantamos hipóteses e, mais tarde, confrontamos com respostas que iríamos obter através das pesquisas.

Fotografamos e colhemos exemplares dos insetos, que foram postos sobre uma lâmina de isopor para exames. Também fomos para a internet e selecionamos materiais de interesse para estudos. O assunto tomou conta da turma, e a coleção de lepidópteros da sala de aula aumentou, pois os alunos sempre traziam mais. Montamos um laboratório que era diariamente monitorado, tendo os registros feitos em diários de bordo. Vimos ovos de mariposa, nascimento de lagartas, formação casulos e metamorfoses completas.

Nem tudo saiu como a gente esperava, também surgiram algumas surpresas. Mesmo assim, tudo era aproveitado para estudo. Um dia encontramos uma lagarta morta, e um aluno disse que ela morreu de depressão porque estava fora do seu ambiente. Então, trabalhamos sobre a importância de se respeitar a natureza. Outro dia, encontramos uma mariposa que se confundia com a calçada e pesquisamos sobre mimetismo, camuflagens e disfarces.

Organizamos e classificamos a coleção do laboratório. Cada exemplar foi catalogado de acordo com sua ordem, família e nome científico. Registramos tudo através de gráficos.

Durante o projeto, foram feitas observações fora da sala de aula, para descobrir de onde vinham tais insetos e quais eram seus habitats. Pesquisamos sobre o modo de vida, estrutura corpórea, utilidades e prejuízos para o ser humano e para a natureza. Pesquisamos também sobre o clima e a meteorologia para saber as condições favoráveis ao aparecimento dos bichos no banheiro.

Como complemento, fizemos entrevistas e enquetes na localidade para saber sobre a influência desses insetos na agricultura e na vida das pessoas. Constatamos o uso excessivo de agrotóxicos para controle de pragas, inclusive em hortas e pomares, o que gera degradação ambiental e desiquilíbrio ecológico.

Durante as entrevistas, um dos alunos ouviu que as mariposas pretas eram bruxas. Então, trabalhamos também acerca da mitologia. Concluímos: “As pessoas acreditam, mas na realidade não são e a gente tem que respeitar as crenças delas.”

Ao final das atividades, montamos o projeto científico como se fosse um trabalho acadêmico de pesquisa, com todos os passos. Em dois momentos, os alunos apresentaram pesquisas em eventos formatados como seminário.

Sempre que surgiam dúvidas, a turma era conduzida a pesquisas e experimentos

O projeto foi sendo guiado pelo interesse dos alunos. Cada descoberta gerava novas perguntas. Eu, como professora, não dei respostas. Sempre que surgiam dúvidas, a turma era conduzida a pesquisas e experimentos. Os alunos aprenderam coletar, registrar e processar dados e informações, pesquisar, fazer experimentos, preencher formulários, fazer anotações, diários de bordo, resumos, confrontar e socializar conhecimentos, formular opiniões, hipóteses, conceitos e conclusões, argumentar, montar tabelas, gráficos, quadros comparativos, esquemas, desenhos e painéis.

Dentro da capacidade de cada um, todos participavam das atividades, interagindo coletiva ou individualmente. A avaliação foi constante e formativa. A gente retomava uma ação até que a turma ou determinados alunos conseguissem dominar, respeitando sua capacidade de aprendizagem.

Como produto final do projeto, montamos um livro que foi apresentado à comunidade escolar. Afinal, a divulgação do trabalho e dos resultados é parte importante na pedagogia de projetos.

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Maria Cristina Fachin Liberalesso

Formada no magistério, graduada em pedagogia e pós-graduada em gestão escolar e psicopedagogia clínica e institucional. Tem experiência em docência há 20 anos. Também atuou como gestora de escola e coordenadora pedagógica na SME. Atualmente, trabalha no setor de cultura do município. Já deu palestras e oficinas sobre projetos pedagógicos. Tem oito projetos pedagógicos reconhecidos e premiados a nível estadual e nacional.

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aprendizagem baseada em projetos, ciências, ensino fundamental

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