Estudantes de Mogi fazem vaquinha para participar de turnê pela Espanha - PORVIR
Crédito: Weerayut / Fotolia.com

Inovações em Educação

Estudantes de Mogi fazem vaquinha para participar de turnê pela Espanha

A experiência internacional de quatro jovens da rede pública irá se transformar em um livro sobre participação infantil e protagonismo

por Marina Lopes ilustração relógio 30 de junho de 2017

Após se destacarem em projetos do grêmio nas suas escolas, quatro estudantes da rede pública de Mogi das Cruzes (SP) foram convidados a participar de uma turnê de aprendizagem pela Espanha. Ao lado de 200 participantes de diferentes países, eles vão percorrer 15 cidades para compartilhar experiências e conhecer práticas educativas que estimulam o protagonismo infantil.

A bordo de um ônibus, a jornada pelas cidades espanholas faz parte do projeto Gira por la Infância, que oferece aos selecionados uma formação técnica em promoção de participação infantil. Com atividades que incentivam o exercício da cidadania e a criação de políticas públicas na perspectiva das crianças, o curso itinerante começa no dia 16 de outubro, em Huelva, e termina dia 30 de outubro, em Madri.

Apesar de terem sido contemplados com uma bolsa de estudos, para arcar com os custos de passagem aérea e logística da viagem, Leandro Marcondes, 16, Leonardo Luan, 16, Gustavo Costa, 16, e Maria Luiza Fernandes, 17, saíram em busca de apadrinhamento, organizaram eventos nas escolas da região e criaram uma vaquinha virtual. Disponível no site Vakinha, a campanha lançada pelos jovens tem a meta de arrecadar R$ 10.000 até o dia 15 de julho.

“A gente não vai lá só para aprender, mas também para compartilhar o que está acontecendo aqui. Vamos levar uma outra visão do brasileiro”, garante a jovem Maria Luiza Fernandes, que concluiu o ensino médio na Escola Estadual Doutor Deodato Wertheimer e hoje atua como vice prefeita jovem e conselheira da juventude no município.

Na foto: Leandro Marcondes, Wesley Santos, Leonardo Luan, Maria Luiza Fernandes e Gustavo Costa. Incialmente, cinco estudantes de Mogi iriam para a turnê na Espanha, mas Wesley Santos irá participar de uma competição na mesma data

[/media-credit] Na foto: Leandro Marcondes, Wesley Santos, Leonardo Luan, Maria Luiza Fernandes e Gustavo Costa. Incialmente, cinco estudantes de Mogi iriam para a turnê na Espanha, mas Wesley Santos irá participar de uma competição na mesma data

Nos dois últimos anos, como representante do grêmio estudantil, Maria Luiza participou de um projeto de gestão democrática, promovido pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Para ampliar o envolvimento dos jovens nas decisões da escola, ela e alguns colegas organizaram uma pesquisa e foram de sala em sala conversar com os estudantes. “A gente mostrou para eles que existem plataformas de democratização dentro da escola e que elas podem ser usadas para requerer melhorias”, conta, usando como exemplo a própria atuação do grêmio.

Na Escola Estadual Irene Caporali de Souza, os estudantes Leandro Marcondes e Leonardo Luan também usaram o grêmio como um instrumento para ampliar a representação dos jovens. Por lá, foram criados clubes juvenis e disciplinas eletivas para os estudantes decidirem o que desejam aprender. “Os próprios alunos criam coisas e fazem escolhas conforme o seu projeto de vida”, explica Leonardo Luan.

E as ações não ficam apenas dentro da escola. Frequentemente, eles se envolvem em campanhas de arrecadação de alimentos e organizam visitas a asilos da região. “Eu acho que a participação do jovem é muito importante porque é só dessa maneira que a gente vai conseguir mudar o Brasil”, defende Leandro Marcondes, que trouxe a experiência da sua antiga escola para o grêmio da Irene Caporali. “Antigamente eu não gostava de participar de nada, eu nem gostava de ir para a minha escola.”

O menino garante que a experiência no grêmio mudou a sua forma de encarar a escola. “Um dia a diretora me chamou na sala dela e questionou por que eu não mudava a escola ao invés de mudar de escola. Foi aí que organizamos um grupo de alunos que não gostavam da escola e achavam que algo deveria ser feito para mudar nossa realidade”, lembra Leandro, que hoje é vice prefeito jovem de Mogi.

Quem também quis mudar a sua realidade foi Gustavo Costa. Incomodado com a quantidade de colegas que abandonaram Escola Estadual Jose Sanches Josende, ele mobilizou o grêmio para ir atrás de todos esses estudantes. “Começamos a bater de porta em porta e falar: dona Maria, cadê o seu filho? Bora colocar ele para estudar. Assim fomos resgatando esses alunos”, conta. Hoje, eles acolhem os jovens que voltam para a escola e oferecem apoio para eles superarem dificuldades.

Para Rosania Morales, dirigente regional de ensino de Mogi das Cruzes, o destaque dos estudantes é resultado de um trabalho contínuo que estimula a participação e o protagonismo dentro das escolas. “Cada um deles tem uma vertente de atuação. Nós não falamos o que eles precisam fazer, mas eles descobrem o que é mais interessante dentro do seu contexto”, diz.

Após compartilharem suas experiências e visitarem práticas educativas em diferentes cidades espanholas, os estudantes de Mogi dizem que pretendem escrever um livro para contar o que aprenderam durante a viagem.

Para apoiar o grupo, os interessados podem doar pela campanha no site Vakinha. Empresas também podem entrar em contato com o Conselho Independente de Proteção da Infância, do qual todos os jovens fazem parte, para conseguir abater doações dos seus impostos.

Outros estudantes e professores da rede estadual de São Paulo também foram selecionados para a turnê.


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competências para o século 21, ensino médio, financiamento coletivo

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