Estudo alerta para mudanças necessárias nas parcerias entre plataformas digitais e escolas - PORVIR
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Inovações em Educação

Estudo alerta para mudanças necessárias nas parcerias entre plataformas digitais e escolas

Relatório desenvolvido pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil reforça a importância de refletir sobre o cuidado com a segurança de informações pessoais de alunos, docentes e comunidade escolar

por Ruam Oliveira ilustração relógio 29 de novembro de 2022

Depois do período mais agudo de Covid-19, utilizar plataformas digitais na educação parece ser senso comum. Durante a fase mais complicada da pandemia, e até mesmo depois dessa fase, muitas escolas passaram a incluir em seus projetos pedagógicos o uso de tais recursos. 

No entanto, a inserção de plataformas digitais no cotidiano da educação – em sua grande maioria feita às pressas por diversas instituições – colocou outras preocupações em segundo plano, tais como a utilização dos dados dos estudantes. 

Muitas empresas, como Google, Microsoft e outras, passaram a oferecer gratuitamente suas plataformas a diversas escolas, criando parcerias com secretarias de ensino. O segundo relatório do CGI.br (Comitê Gestor da Internet no Brasil) intitulado “Educação em um cenário de plataformização e de economia de dados: parcerias e assimetrias” dedica-se a entender como se deram tais parcerias e quais são os prós e contras delas.

Situação atual

Se durante a pandemia era praticamente obrigatório que fossem utilizadas plataformas digitais por conta da impossibilidade de se realizar reuniões e encontros presenciais, agora o cenário é de complemento. 

Recorrer a ferramentas digitais é um passo que não tem volta. Já faz parte do cotidiano das escolas, mesmo que não seja em uma utilização para aulas síncronas e de atividades constantes. 

O relatório do CGI.br, no entanto, destaca que muitas redes de ensino e até mesmo universidades “adotaram tais plataformas sem esboçar nenhuma preocupação em relação ao uso comercial de dados de professores e alunos por parte dessas empresas”, sem levar em consideração que essas plataformas são produtos empresariais. 

“Um dos grandes problemas dessas plataformas que usam IA (inteligência artificial) é seus algoritmos serem opacos: não se sabe como as plataformas efetivamente utilizam os dados, uma vez que tais informações estão no âmbito de patentes e direitos autorais”, alerta o relatório. 

Este é o segundo de uma série de três publicações que o CGI pretende fazer a respeito da plataformização. O conceito diz respeito a processos, como fluxos econômicos e sociais, que são feitos por meio de sistemas globais online, em sua grande maioria baseados em inteligência artificial e algoritmos. 

Como e por que escolher uma ferramenta

O relatório é crítico em relação a adoção deliberada de plataformas e ferramentas digitais na educação sem que antes haja uma reflexão sobre sua finalidade. “Há uma série de produtos em criação atualmente para atender a diferentes necessidades educacionais, como plataformas de conteúdo, de jogos, de exercícios, de gestão escolar, de comunicação com a família, de monitoramento de presença”, diz o texto. 

O comitê destaca que com essa profusão de possibilidades de uso, existe risco de fragmentação da atividade escolar, com efeitos ainda desconhecidos. “Nesse sentido, é importante compreender como as secretarias as têm escolhido, adotado e utilizado, quanto custam e que benefícios — ou riscos — elas têm trazido para a educação”.

O texto faz algumas perguntas para gestores e secretarias sobre a adoção dessas plataformas, tais como: 

  • O uso das ferramentas é feito através da criação de parcerias entre as secretarias e a empresa? 
  • Se sim, foram facilitadas por algum intermediário, foram resultado de alguma abordagem da empresa ou de uma busca das próprias secretarias?

Essa preocupação com os critérios que guiam as escolhas está relacionada ao uso de informações pessoais que é feito por essas empresas. Atualmente, os dados das pessoas são considerados o novo petróleo. Com eles, tais companhias podem pensar em estratégias de marketing, monitorar gostos e até mesmo pensar em produtos para venda.

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“Comportamento online, informações de perfis, localização, que tipo de dispositivo utilizam, o que fazem enquanto estudam ou estão em aula virtual e com quem se relacionam são alguns dos dados capturados pelos aplicativos”, alerta o relatório. 

Rafael Evangelista, conselheiro do CGI.br e coordenador do grupo de trabalho responsável pela publicação, destaca que o ideal agora é que as escolas e secretarias olhem para o futuro. “O estado de emergência imposto pela pandemia exigiu uma adoção às pressas de tecnologias digitais na educação, como forma de evitar a interrupção do ano letivo. Mas temos de projetar como isso será daqui para frente. É preciso rever muitos desses acordos com empresas privadas, garantindo que atendam ao interesse público”, destaca. 

Uma solução mencionada no relatório é a criação de plataformas digitais próprias, que permitam às secretarias um pouco mais de autonomia para que não fiquem reféns de grandes empresas. Estados como Paraíba, Maranhão, Santa Catarina, Rio de Janeiro e Salvador, por exemplo, possuem suas próprias plataformas voltadas para o ensino. 

“O desenvolvimento de plataformas próprias indica uma possível alternativa a soluções de grandes companhias, que podem oferecer maior autonomia e segurança para as secretarias”. O levantamento, contudo, não conseguiu distinguir sob quais circunstâncias cada uma dessas plataformas foram desenvolvidas ou financiadas. 

Rafael pontua que é importante que o país crie formas seguras de garantir acesso às plataformas digitais de educação, sem que tais medidas sejam adotadas devido a crises que assolaram o mundo como a da Covid-19.

Assista à live de lançamento do relatório

Leia o relatório na íntegra

Confira o primeiro relatório da pesquisa


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