Estudo apoia gestores na definição de velocidade de internet para escolas - PORVIR
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Inovações em Educação

Estudo apoia gestores na definição de velocidade de internet para escolas

Parâmetro facilita compreensão e apoia gestores públicos no desenho de estratégias de contratação de internet

por Maria Victória Oliveira ilustração relógio 18 de agosto de 2022

Um megabit por segundo (1 mbps) por estudante durante o maior turno da escola é o parâmetro de velocidade mínima adequada para viabilizar o uso de internet para atividades pedagógicas em escolas públicas, de acordo com a nota técnica “Qual a velocidade de internet ideal para minha escola? – Como definir o plano de Internet baseado em parâmetros técnicos e pedagógicos”

Recém-lançada pelo CIEB (Centro de Inovação para a Educação Brasileira), o documento, que conta com coordenação técnica do GMB (Grupo Mulheres do Brasil), MegaEdu e NIC.br (Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR), a publicação tem como objetivo auxiliar gestores públicos na tomada de decisão para a implantação de políticas de conectividade nas escolas públicas brasileiras. 

Raquel Costa, especialista em educação e tecnologia do CIEB e participante da elaboração do conteúdo da Nota Técnica, explica que a definição de um parâmetro de referência de velocidade simples é importante principalmente porque traduz um conceito complexo. “Por trás da indicação de uma velocidade mínima por estudante, existe uma série de cálculos técnicos sobre métricas de qualidade de internet, de infraestrutura necessária para permitir múltiplos acessos à rede, e da demanda necessária para diferentes atividades pedagógicas.”

A criação de um parâmetro direto, portanto, facilita a compreensão e ajuda na hora de o gestor público desenhar a melhor estratégia para contratação de internet em suas redes. 

Adaptando às realidades 

Em um paralelo simples, a internet oscila quando algumas pessoas, simultaneamente, enviam e-mails com documentos anexados, assistem vídeos, realizam vídeo-chamadas ou jogam online em casa. “Agora, potencialize esse uso em dez, cinquenta ou centenas de vezes a mais. É o que acontece quando uma escola contrata internet sem ter um parâmetro de referência pensado para o seu uso”, exemplifica Ana Lídia Schroeder, gerente de projetos da MegaEdu.

Ana comenta sobre a importância de a velocidade de banda larga ideal para uma escola estar atrelada às intenções de como os professores e alunos poderão ensinar e aprender mais e melhor, e não somente à necessidade do presente. 

Ou seja, mais do que melhorar o cenário atual, é interessante pensar no potencial que uma internet e conexão de qualidade podem oferecer. “Uma escola adequadamente conectada amplia as possibilidades de acessar ferramentas de ensino e aprendizagem de qualidade”, afirma a gerente de projetos. 

Além disso, outro ponto relevante é analisar as demandas de cada localidade, que variam entre escolas e regiões. “A utilização do parâmetro de referência da velocidade de 1mbps por aluno garante à escola o acesso à internet necessária para o pleno uso pedagógico. Assim como pessoas diferentes calçam e vestem números diferentes, a demanda de banda larga de uma escola será diferente da de uma residência, e a demanda de escolas com mais ou menos alunos também. Com o parâmetro de referência é possível entender de maneira clara e objetiva a internet que os diferentes tamanhos de escolas, em termos de número de alunos, precisam”, cita Ana Lídia. 

‘Conectividade significativa’ 

Segundo a Organização das Nações Unidas, cerca de 54% da população global tem algum tipo de acesso à internet. Ter acesso a internet, entretanto, não significa necessariamente ter conexão suficiente para fazer uso de todas as ferramentas disponíveis no mundo online: nessa conta estão boas conexões de alta velocidade e também dispositivos com internet móvel de baixa qualidade. 

Nesse contexto, a Nota Técnica traz o conceito de Conectividade Significativa, elaborado pela Alliance for Affordable Internet (A4AI), uma coalizão global formada para garantir acesso universal a uma internet de qualidade. 

O termo pode ser aplicado no contexto educacional. Raquel cita que o Censo Escolar 2021, quando aponta que 78% das escolas declararam possuir acesso à internet, pode trazer uma falsa sensação de que o Brasil está muito perto de conectar todas as escolas públicas. É aqui que entra o conceito de conectividade significativa: Qual a qualidade dessa conexão? Essa internet está disponível para todos os estudantes da escola? Quais os tipos de atividades pedagógicas são possíveis de serem realizadas com a internet disponível? 

Há um abismo entre uma escola na qual todos os estudantes utilizam a internet diariamente para atividades pedagógicas, incluindo acesso a plataformas virtuais de aprendizagem, jogos educacionais e atividades com vídeo, de escolas em que os estudantes acessam a internet quinzenalmente no laboratório de informática para realizar pesquisas em sites de busca. 

“Evidentemente, as duas escolas possuem acesso à internet, mas a pergunta que realmente importa é o que é possível realizar, pedagogicamente, com essa internet. O quão significativo é o uso da internet para os processos de ensino e aprendizagem nessas escolas? Quando buscamos essa resposta, nós estamos adicionando um entendimento do quão significativa é essa conectividade”, afirma Raquel. 

Trecho da Nota Técnica aponta que, na realidade das escolas, uma conectividade significativa “diz respeito a garantir que todos(as) os(as) docentes conseguem utilizar a internet da escola para os processos de ensino, que a gestão escolar consegue estruturar os processos administrativos da escola com o uso de tecnologia e que os(as) estudantes utilizam essa internet em diferentes formas de aprendizagem, desde pesquisas simples em sites de busca até atividades mais estruturadas em ambientes virtuais de aprendizagem.” 

Montando um plano 

Quais são, então, os principais pontos a serem considerados na elaboração de um plano de contratação de internet para a escola? O que os gestores não podem deixar de fora? 

Além de desconstruir a ideia binária de ter ou não internet (já que isso não retrata as disparidades de condições do acesso), Paulo Kuester Neto, coordenador de ciências de dados na área de medição de qualidade de internet do NIC.br e participante da elaboração do conteúdo da Nota Técnica, cita quatro parâmetros da A4AI que ajudam a entender o uso de uma internet de qualidade: frequência de uso, dispositivos de acesso, disponibilidade de dados e velocidade de acesso. 

“A frequência de uso no caso da escola deve ser planejada para ser diária. Os dispositivos de acesso dependem muito da atividade proposta. A disponibilidade de dados refere-se a sempre que precisar acessar terei o trânsito de dados ativo”, explica, além do quesito da velocidade mínima definida pela NT de 1 Mbps/aluno no maior turno. 

Também é importante considerar o tipo de tecnologia a ser contratada, privilegiando, segundo Paulo, meios que favorecem uma melhor velocidade e baixa latência (tempo entre saída e recebimento de pacote de dados), como a fibra óptica. 

Outra dica é verificar a possibilidade de contratações maiores, pela prefeitura, com o objetivo de negociações junto a provedores. “Ao pensar em contratos assim, abre-se a possibilidade de prever uma melhoria de velocidade para as escolas no meio da vigência, já que as tecnologias vão se alterando rapidamente ao passar dos anos”, cita Paulo. 

Monitoramento 

Depois da contratação de um plano, gestores devem avaliar e monitorar se a internet está sendo utilizada de maneira eficiente na escola. Além de ferramentas de medição – como o medidor SIMET, software gratuito que o próprio gestor escolar pode baixar e instalar no computador da escola – e monitoramento da qualidade da internet, o acompanhamento pedagógico é igualmente fundamental, como explica Raquel. 

“Contratar internet para as escolas só faz sentido a partir do momento em que sua utilização insere a escola em uma cultura digital que permeia a vida cotidiana de gestores, docentes e estudantes, tornando-se capaz de oferecer experiências educacionais presenciais, híbridas e online, por meio das tecnologias digitais”, afirma. 

Para Paulo, uma alternativa para avaliar a eficiência do uso é observar se há democratização do acesso nos ambientes escolares: salas de aula, biblioteca e espaços pedagógicos para além do espaço administrativo. 

De acordo com dados da TIC Educação 2021 divulgada em julho de 2022, 82% dos professores de escolas públicas citaram o número insuficiente de computadores por aluno e 72% citaram a baixa velocidade de conexão à internet nas escolas como barreiras ao uso das tecnologias digitais em atividades educacionais.

“É sempre preciso avaliar se a internet contratada está em consonância com o plano pedagógico para que as atividades planejadas possam ser executadas de forma fluida e sem gargalos ou problemas”, ressalta o coordenador. 

Ana Lídia cita também a importância de uma atenção a infraestrutura de wi-fi que permita que a internet contratada seja uma realidade dentro da sala de aula e no ambiente escolar como um todo. 


TAGS

conectividade, ensino fundamental, ensino médio, tecnologia

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