Futebol e gênero na escola: como aproximar meninas do esporte - PORVIR
Créditos: Assessoria / CBF

Inovações em Educação

Futebol e gênero na escola: como aproximar meninas do esporte

Educadores e especialistas de programas educacionais esportivos compartilham experiências e trazem recomendações para trabalhar o tema com os alunos

por Marina Lopes ilustração relógio 19 de junho de 2019

Pela primeira vez na história, os jogos da Copa do Mundo Feminina foram transmitidos ao vivo na televisão aberta. Apesar da seleção brasileira de futebol feminino marcar presença desde a primeira edição do evento, que aconteceu há 28 anos, na China, desta vez os jogos conseguiram atrair muito mais holofotes. O momento também reforça a necessidade de levantar o debate sobre futebol e gênero na escola. Como aproximar as meninas do esporte e desconstruir estereótipos que cercam a modalidade? Para tratar essa questão, o Porvir conversou com educadores e especialistas de programas  educacionais esportivos.

“O esporte feminino brasileiro está em alta”, garante Vanderson Berbat, diretor do Impulsiona, programa de educação esportiva do Instituto Península que, em parceria com o MEC (Ministério da Educação), oferece formações para professores e coordenadores pedagógicos diversificarem modalidades na escola e trabalharem competências por meio do esporte. No entanto, ele reconhece que ao mapear o contexto da educação física escolar no Brasil, a discussão sobre gênero no esporte ainda é uma questão desafiadora para muitos educadores.

Estimular a participação das meninas obrigatoriamente passa por mudar a dinâmica das aulas, mas como fazer isso? O que fazer para que os meninos também respeitem o espaço delas durante as atividades esportivas? É possível começar um trabalho com equipes mistas? Essas são apenas alguns dos questionamentos que surgem entre os educadores durante as aulas de educação física.

Além de destacar que a prática do futebol feminino na escola deve ser promovida de forma intencional, Vanderson destaca que os professores também podem identificar oportunidades que extrapolam os horizontes da quadra. “Podemos trabalhar a temática em outras disciplinas. A temática do esporte que é muito atraente para estimular que os professores possam tratar gênero com os alunos”, menciona.

A temática do esporte que é muito atraente para estimular que os professores possam tratar gênero com os alunos

Com esse foco, a equipe do Impulsiona desenvolveu o conteúdo pedagógico “Esporte não é coisa de menina?”, que aborda a desigualdade no esporte e também aponta exemplos de mulheres que estão se destacando no meio. Disponível de forma gratuita plataforma do programa, o material é recomendado para professores de ciências humanas ou linguagens do ensino fundamental 2 ou ensino médio.

Duas semanas antes do início da Copa do Mundo de Futebol Feminino, o conteúdo pedagógico voltado para essa temática recebeu o dobro de acessos diários em relação aos demais meses do ano. De acordo com dados cedidos pelo Impulsiona ao Porvir, a partir de junho professores de ambos os sexos passaram a consumir o conteúdo na plataforma (51% feminino e 49% masculino), tendo como os principais estados de origem Bahia, Minas Gerais e São Paulo.

“Como o professor usa ações do cotidiano para tornar as aulas mais atraentes? Estamos falando de Copa do Mundo Feminina, e o Brasil tem uma seleção madura para jogar. Esse tema deve ser trabalhado nas escolas não apenas com a oferta do esporte, mas como valor e competência”, diz o diretor do Impulsiona.

Estamos falando de Copa do Mundo Feminina, e o Brasil tem uma seleção madura para jogar. Esse tema deve ser trabalhado nas escolas não apenas com a oferta do esporte, mas como valor e competência

Nos programas e projetos desenvolvidos pela Fundação Gol de Letra, que tem atuação na Vila Albertina, em São Paulo (SP), no Caju e na Barreira do Vasco, no Rio de Janeiro (RJ), o trabalho com turmas mistas de meninos e meninas também é uma das ações que ajuda a promover a equidade na prática de diferentes modalidades, como basquete, vôlei e futsal. Apesar da prática gerar uma resistência inicial de alguns meninos, o educador esportivo Mauricio Amatto menciona que isso muda quando durante as atividades eles começam a entender que elas também têm o direito de estar na quadra. “Eles precisam entender que a turma é mista e que as meninas também têm o direito.”

Para trabalhar a temática, a organização também desenvolve ações direcionadas para a discussão sobre gênero e sexualidade no esporte, como é o caso do projeto Sexualidade em Ação, que oferece oficinas educandos da Fundação, assim como alunos e professores de escolas públicas da região da Vila Albertina (SP), e do projeto Gol pela Igualdade.

Nas atividades, são trabalhadas questões como desigualdade de gênero, estereótipo de gênero, liderança e protagonismo feminino e o espaço ocupado por homens e mulheres no esporte. “Ultimamente, temos trazido bastante a reflexão sobre a Copa Feminina, o espaço na mídia para elas, quais investimentos foram feitos [nas modalidades femininas] e a diferença desses investimentos”, descreve Juliana Cristina Santos, educadora social da Fundação Gol de Letra. De acordo com ela, também é importante mostrar referências para a turma. “Uma ação que estamos fazendo durante as nossas atividades é trazer figuras inspiradoras, pensando nessa questão da representatividade.”

A educadora social Mallena Sales Gomes ainda ressalta que, durante as atividades, os professores devem estar sempre atentos para acompanhar como as meninas estão participando. “Estão jogando? Estão tocando a bola para elas?”, exemplifica. “Quando trabalhamos gênero, trazemos essas questões para que meninas e meninos reflitam.”


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