A importância da feira de ciências na autodescoberta
As engenhocas criadas por estudantes de ensino fundamental e médio podem incentivar a curiosidade e estimular o empreendedorismo
por Marina Lopes 20 de março de 2014
Um colete salva-vidas com GPS, um robô que ajuda nas tarefas domésticas e uma armadilha para pernilongos. Com soluções criativas para diversos problemas cotidianos, as ideias desenvolvidas por estudantes de ensino fundamental, médio e técnico de todo o país podem ser mais do que simples engenhocas expostas na Febrace (Feira Brasileira de Ciências e Engenharia), que acontece nesta semana em São Paulo. Entre uma experiência e outra, os projetos criados pelos alunos podem fomentar o interesse pela ciência, despertar a curiosidade e estimular o empreendedorismo.
“Quando incentivamos a criatividade, os alunos passam a descobrir do que eles gostam e quais são os seus potenciais”, explicou a professora Roseli de Deus Lopes, coordenadora-geral da Febrace. De acordo com ela, as feiras de ciências podem representar uma forma de empoderar o aluno para aprender de uma forma diferente. “Não é como uma coisa que o aluno precisa ler em um livro, decorar e responder em uma prova para receber uma nota.”
O desenvolvimento do método, o raciocínio lógico e o incentivo da comunicação oral podem ser um dos conhecimentos agregados com o desenvolvimento de projeto de ciências. Para Adriana Depieri, doutoranda que pesquisa o impacto da feira de ciências no desenvolvimento do aluno, muitas vezes esses eventos também criam o primeiro contato entre os estudantes e as instituições de pesquisa. De licença do Departamento de Popularização e Difusão da Ciência e Tecnologia do Ministério da Ciência e Tecnologia para concluir o seu doutorado, ela acredita que a atividade é uma ótima oportunidade para desenvolver uma aplicação mais prática dos conceitos aprendidos na escola. “Ela [feira de ciências] mostra que o aluno pode ser o protagonista”, defendeu.
A criação da engenhoca
Para produzir uma engenhoca, o primeiro passo que o estudante precisa dar é o de pensar em um problema que afete a sua realidade e, a partir disso, começar a formular possíveis soluções. Apenas neste ano, a Febrace apresentou 26 projetos ligados à temática da água, algo que foi identificado pelos estudantes como um problema próximo do cotidiano deles. Após a formulação da sua hipótese, ao longo do desenvolvimento do trabalho, o jovem registra toda a sua experiência em um diário de bordo, incluindo as etapas, erros, acertos e mudanças de ideia durante o projeto. Esse relatório ajuda a comissão avaliadora identificar a realidade e o perfil do aluno.
Segundo Roseli, a experiência de se participar de uma feira de ciências pode ser muito intensa e envolve uma série de desafios, que vão desde a formulação do projeto até a dificuldade encontrada pelos estudantes para conseguir recursos para pagar a viagem até São Paulo – para apresentar seu trabalho na Poli/USP durante a Febrace. Além disso, os jovens, que têm entre 14 e 21 anos, assumem a tarefa de explicar sobre o seu projeto para um público variado, entre jovens, adultos e até mesmo especialistas da área. “É uma verdadeira aula de geografia, interação social e comunicação oral”, afirma a professora, referindo-se ao contato que os alunos que vêm de longe têm com outras realidades.
Dentro desse processo, o papel do professor orientador vai além de apenas acompanhar o desenvolvimento do projeto. “Ele deve ser um provocador que acredita no potencial do seu aluno”, pontuou a coordenadora-geral da Febrace. “A gente ouve muitos discursos de que primeiro é preciso ter um bom laboratório na escola para conquistar alguma coisa. Por outro lado, existem professores que mostram que as transformações surgem quando se confia e investe no aluno.”