Jovem mobiliza comunidade estudantil brasileira nos EUA
Criada por Matheus Silva, a BRASA oferece apoio para os universitários no exterior e pensa ações de impacto no Brasil
por Marina Lopes 2 de abril de 2015
Pela tradição de família, Matheus Silva seria pescador. Nascido em Boqueirão, no sertão da Paraíba, ele decidiu que iria estudar fora e seguir outro rumo. Aprendeu inglês em um curso gratuito, foi admitido em uma universidade nos Estados Unidos e tratou de conseguir uma bolsa. Hoje, aos 22 anos, cursa economia e engenharia química no WPI (Worcester Polytechnic Institute), ao lado de Boston. Mas quem disse que a essência da profissão do pai e o avô não o acompanhou por lá? Como em uma pesca, assumiu a tarefa de reunir e mobilizar universitários brasileiros que estavam nos EUA, onde criou a BRASA (sigla em inglês para Associação Brasileira de Estudantes).
“Eu vim de uma cidade pequena e fui o primeiro da família a fazer faculdade. Tinha poucas referências de pessoas e organizações que pudessem me ajudar”, lembra Matheus. Pensando nas dificuldades que ele e outros estudantes enfrentaram quando decidiram estudar fora, a BRASA tem uma atuação segmentada em três pilares, oferecendo apoio antes, durante e depois da graduação. A ideia é auxiliar e engajar essa comunidade estudantil em ações de impacto direto no Brasil.
Para os que desejam ingressar em uma universidade norte-americana, a organização mantém um blog chamado Brasinhas, que compartilha relatos de brasileiros sobre a vida universitária no exterior. Além disso, oferecem mentoria gratuita para os alunos que estão com dúvidas no processo de admissão ou em qual universidade estudar. “Colocamos eles em contato com universitários dessas instituições para ajudar”, explica.
Com público universitário que já está nos Estados Unidos, a organização promove eventos e conferências (BRASATech, BrazUSC, BRASA National Conference, BRASA Politics). “Era muito comum que os estudantes brasileiros de Havard não conhecessem os que estudavam no MIT [uma distância relativamente pequena]”, explica. Agora, em dez meses de atuação, eles já contam com uma rede de mais de 800 alunos e estão em 40 universidades diferentes, incluindo nomes como Stanford, Princeton, Northeastern e Yale. Entre os parceiros, recebem apoio da Ambev, BTG Pactual, Heinz, McKinsey&Company e Fundação Estudar.
Na tentativa de encontrar formas mais efetivas para que esses estudantes pudessem colaborar com o país, a BRASA ajuda eles na tarefa de encontrar empregos de férias no Brasil, os famosos “summer jobs”. Os estudantes enviam os seus currículos e a organização faz a mediação com empresas que estão recrutando. Eles também participam de programas de voluntariado, em parceria com a BrazilFoundation, e buscam promover projetos de pesquisa e conexão entre universidades brasileiras e americanas. As oportunidades costumam ser divulgadas por diversos canais, como e-mail, Facebook ou Twitter.
E como fazer para que essa galera não se disperse após o término da graduação e o retorno ao país? Matheus acredita que isso só acontece mantendo o engajamento. Com esse intuito, devem acontecer dois eventos no Brasil ainda este ano, um no Rio de Janeiro e outro em São Paulo. Além disso, a intenção é que os jovens formados continuem conectados com a rede para apoiarem os que ainda estão na universidade.
Para Matheus, essas ações tentam promover uma troca mais efetiva entre o país e os estudantes brasileiros que estão fora. “O Ciência sem Fronteiras é um programa incrível, mas eu ainda acho que é muito unilateral. Eu vejo apenas o Brasil indo para o exterior. É claro que os estudantes voltam para o Brasil, mas eu não acho que os retornos estão sendo tão tangíveis”, afirma, ao destacar a necessidade de interações mais profundas durante esse período.
“Um dos maiores gargalos que o sistema universitário brasileiro enfrenta hoje é a internacionalização”, destaca. De acordo com ele, o número de patentes razoavelmente baixo, a quantidade de artigos publicados em revistas internacionais e os poucos cursos em inglês nas universidades brasileiras são alguns dos fatores responsáveis por esse obstáculo.
No futuro a BRASA planeja expandir a sua atuação para mestrado, MBA e PhD. “Nosso objetivo em longo prazo, em cinco ou seis anos, é se tornar a maior organização estudantil brasileira no exterior”, define Matheus.