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Diário de Inovações

Com ajuda de filtros e vídeos, professora trabalha alfabetização online no ensino fundamental

Em aulas remotas, Viviane Ferreira conta com colaboração de famílias e prioriza afeto e acolhimento para dar continuidade ao processo de alfabetização

por Viviane Cristina de Moraes Ferreira ilustração relógio 14 de abril de 2020

Desde o começo do ano eu sempre realizo muitas reuniões com as famílias porque o período de alfabetização é muito delicado. Acho que o acolhimento é uma das principais ferramentas para alfabetizar. Quando veio toda a questão do coronavírus, ficamos pensando como ia ser. Uma das coisas que comentei com a minha orientadora era que precisávamos dar um jeito de continuar a troca de afetos e sensibilidade mesmo que fosse online, porque a minha prioridade são as crianças. Ao mesmo tempo que algumas já estão apropriadas da leitura e escrita, outras não estão. Então pensamos em maneiras para que eu pudesse me comunicar com todo mundo, para que ninguém se sentisse diferente.

O caminho que encontrei foi gravar vídeos. Tento fazê-los de uma maneira muito leve para que os alunos consigam me compreender. Faço brincadeiras que fazia em sala de aula, uso os filtros para o rosto das redes sociais e vou mexendo na ferramenta, já que também estou aprendendo junto com eles. Tudo para que se sintam o mais confortável possível do outro lado da tela e felizes de estar me vendo.

Nesse primeiro momento, o meu combinado com as famílias foi apenas deixar que as crianças assistissem aos vídeos, pois como falo de maneira muito clara e simples, elas saberiam o que fazer. Antes disso, eu tinha pouca familiaridade com tecnologia. Foi agora que aprendi a gravar um vídeo, a editar, colocar uma música de fundo. Meus dias têm sido bem longos em razão disso. Fico o tempo todo estudando e me aprimorando, porque a parte de tecnologia realmente não era o meu forte. Outra coisa que aprendi foi a postar o link do vídeo que subo no YouTube diretamente no aplicativo que a escola usa para o contato com famílias do primeiro ano do ensino fundamental.  Minha preocupação tem sido atingir os estudantes em pequenos grupos porque, quando falamos de alfabetização, nem todos estão lendo, escrevendo e fazendo interpretação ao mesmo tempo.

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Em ciências, estamos trabalhando os animais. Na semana passada, por exemplo, eles fizeram uma pesquisa sobre os animais e apresentaram o que descobriram divididos em pequenos grupos em uma reunião no aplicativo Meet. Fui anotando os nomes de animais que eles mais se identificavam, variando entre palavras polissílabas, trissílabas, dissílabas e monossílabas. Em seguida, reuni cada grupo e fiz sondagens com os estudantes, onde eles deveriam escrever uma palavra e depois ler para mim. Esse é o nosso processo de diagnóstico, algo que já realizávamos mensalmente em sala para que eu pudesse ver a evolução de cada estudante e em quais áreas preciso avançar com cada um para que todos se alfabetizem. Portanto, é algo com que já estão acostumados.

Para aqueles que não conseguem acompanhar, eu faço uma rodada nesse grupo menor perguntando onde precisam de ajuda. Devemos ter esse olhar e sensibilidade para poder ajudar as crianças e também falar com as famílias, para que todos sintam-se acolhidos. O maior desafio nisso tudo é prender a atenção dos alunos e fazer com que eles me escutem. Como estou de um lado da tela e eles do outro, minha preocupação é “será que estou chegando até eles, será que estão me entendendo?”.

Nesse sentido, a devolutiva das famílias é fundamental. Tudo é feito com muito combinado com os pais. Algumas famílias ainda são bem resistentes a todo esse movimento, alegando que as crianças ainda são pequenas e não entendem direito. Mas o meu combinado é que devemos caminhar com a alfabetização e continuar com o que estávamos fazendo em sala de aula, mesmo que à distância.

Os pais sempre sabem o que vai acontecer pois comunico meu planejamento semanal a eles. Hoje, por exemplo, recebi mensagens de algumas famílias que estão vendo a evolução dos filhos, dizendo que o trabalho está bacana e que a criança sente mais segurança ao escrever quando vê a “prô” do outro lado da tela. Além de termos um horário para que os pais tirem dúvidas, eles também enviam fotos e vídeos das atividades e eu sempre dou um retorno, para que a criança se sinta estimulada e a família não se sinta sozinha.

Acredito que quando fazemos com amor aquilo que a gente gosta, pensando no serzinho que está do outro da tela, vale a pena. Sou alfabetizadora há 20 anos e não sei fazer outra coisa. Esse é um momento de parceria e afeto, e sem o vínculo da professora com a família, não acho possível um trabalho que dê retorno positivo para quando nós voltarmos a nos encontrar.

 


Viviane Cristina de Moraes Ferreira

Leciono há 21 anos. Sou graduada em pedagogia e pós-graduada em psicopedagogia. Minha área de atuação sempre foi com as séries iniciais. Trabalhei na educação infantil mas minha grande paixão é a alfabetização. Nela, já estou há aproximadamente 17 anos.

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aplicativos, coronavírus, dispositivos móveis, ensino fundamental, tecnologia, videoaulas

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