Estudantes brasileiros desenvolvem fogões para África
Em projeto do MIT, alunos de quatro países testam tecnologias de baixo custo e sem danos à saúde
por Patrícia Gomes 28 de maio de 2012
Um grupo de alunos do segundo ano do ensino médio do Colégio Bandeirantes, em São Paulo, decidiu extrapolar os muros da escola em algo como… 9.000 km. Para desenvolver o seu projeto da feira de ciências, os jovens de 16 anos estão participando de um time que envolve estudantes de outros três países com o objetivo de desenvolver fogões que não façam mal à saúde para comunidades rurais de Uganda e Ruanda, na África.
Nesses dois países, o uso de fogões primitivos, normalmente feitos de argila e com combustão a partir de gravetos, é uma questão de saúde pública. A fumaça preta emitida por eles provoca doenças respiratórias graves, atrapalha no desenvolvimento cognitivo de crianças e gera várias outras mazelas associadas. O problema é tão sério que as Nações Unidas estimam que quase 2 milhões de pessoas morram todos os anos no mundo por complicações decorrentes da inalação dessa fumaça.
Diante dessa situação, a ONG ugandense The Kasiisi Project pediu ajuda ao D-Lab, do MIT, laboratório que desenvolve tecnologias de baixo custo para melhorar a qualidade de vida de famílias de baixa renda pelo mundo. Em seguida, o MIT desenvolveu um material sugerindo cinco tipos de fogão mais eficientes e menos danosos à saúde e começou a procurar escolas parceiras para testar e aperfeiçoar os modelos.
O Projeto Educacional Global de Fogão Eficiente para Cozinhar foi aceito por escolas dos EUA, Ruanda, Uganda e Brasil. A partir das sugestões da cartilha do MIT, os jovens deveriam aprimorar os fogões para que a sua construção fosse viável financeiramente para a população ruandesa e ugandense, contando com matérias-primas disponíveis nessas regiões. Além disso, eles precisavam ter o cozimento eficiente e, claro, não ser danoso à saúde.
Aqui no Brasil, coube ao professor de física Renato Villar, do Bandeirantes, apresentar o projeto a um grupo de seis alunos do segundo ano do ensino médio, que aceitou participar. Primeiro, Villar fez reuniões via Skype com os outros professores envolvidos no projeto e, com eles, organizou um site para registrar os avanços dos alunos. “Estamos trabalhando em cooperação com os EUA e com a África. Conversamos por conferência de voz com os professores, e os alunos também conversam entre si, trocam experiências”, diz Villar.
Para construir os fogões, os alunos têm aulas de método científico para aprender a registrar as etapas da investigação. Estudam química e física para desenvolver conceitos de combustão; biologia para aprender sobre biomassa e sistema respiratório; e inglês, para dividir os resultados com os colegas das escolas de outros países. Aprendem ainda sobre a cultura de vários lugares do mundo e, de quebra, dão sua contribuição para resolver um grave problema social.
“Nas conferências, a gente fala do fogão, eles nos dão dicas para melhorar o que estamos fazendo, falamos sobre o material e a quantidade de água ideal para ferver. Mas falamos também do cotidiano de São Paulo e ouvimos as histórias deles”, diz Isabella Marchetti, 16. “E além de fazer um trabalho muito legal, a gente ajuda muita gente que está precisando. Essa fumaça intoxica e mata as pessoas”, completa Gabriel Almeida, 16.
A equipe brasileira já construiu três tipos de fogão e, nesta semana, começa o quarto. “Já estamos conseguindo ferver a água”, comemoram os alunos. Por sugestão da professora Patrícia Matai, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), os jovens vão testar um modelo em que a queima ocorra a partir de bambu, e não de graveto ou carvão, que são as opções mais comuns.
Segundo Villar, o bambu é barato, eficiente em termos energéticos e, pelas condições climáticas semelhantes entre os dois países e o Brasil, poderia ser facilmente cultivado por lá. “Vamos testar essa ideia que a professora da USP deu. Sabemos que o bambu pode ser eficiente, mas precisamos experimentar. O legal é que essa ideia ninguém teve ainda”, diz Larissa Lopes, 16.
Quando os testes estiverem terminados, a intenção dos jovens é levar a sugestão para regiões vulneráveis do interior de São Paulo em que esse tipo de fogão é usado. “A gente nem precisa ir tão longe para ajudar. Aqui perto também tem gente precisando”, diz Isabella.