Novo mapa mostra como é a qualidade da internet que chega à escola pública - PORVIR
Crédito: Talaj/iStockPhoto

Inovações em Educação

Novo mapa mostra como é a qualidade da internet que chega à escola pública

Ferramenta une bases de dados e tem como objetivo facilitar a criação de planos para melhoria da conectividade na educação brasileira

Parceria com CIEB

por Maria Victória Oliveira ilustração relógio 5 de abril de 2021

A comemoração dos cinco anos do CIEB (Centro de Inovação para a Educação Brasileira) teve um gosto especial. Além de contar com a participação de especialistas que ajudaram na compreensão dos inúmeros desafios envolvidos na conectividade nas escolas públicas brasileiras, o seminário internacional “Repensando o papel das tecnologias na educação” marcou o lançamento do Mapa Integrado de Conectividade na Educação, ferramenta que oferece dados sobre a conectividade de escolas espalhadas por todo o país.

“Ao longo desses cinco anos, sentimos muito orgulho do trabalho que fizemos, mas, mais do que nunca, temos um senso de responsabilidade nesse momento. Precisamos apoiar os secretários de educação e o Ministério da Educação no estabelecimento e implementação de políticas públicas que garantam que a tecnologia seja uma alavanca para melhorarmos a qualidade e equidade na educação. Temos a responsabilidade de fazer com que essa pandemia, que causou tanto sofrimento, seja um momento de virada e transformação que a nossa educação brasileira tanto precisa”, comentou Lúcia Dellagnelo, diretora-presidente do CIEB.

Conheça o mapa
O Mapa Integrado de Conectividade na Educação é o primeiro produto do projeto Conectividade para Educação. Lançado em 2020, sob coordenação do do CIEB e do NIC.br, a iniciativa tem como objetivo reunir dados e referenciais que possam apoiar políticas públicas de conectividade na educação.

Ao reunir diferentes bases de dados e informações sobre a conectividade nas escolas das redes municipais e estaduais do Brasil, o mapa tem como objetivo fornecer um retrato mais completo sobre o tema e, com isso, subsidiar gestores e o ecossistema para que sejam aproveitadas as oportunidades para se melhorar a conectividade nas escolas.

Por conta da dimensão e complexidade desse desafio, o projeto conta com a contribuição do GICE (Grupo Interinstitucional de Conectividade na Educação), composto por órgãos governamentais, operadoras, provedores regionais, empresas de tecnologia, associações e organizações do terceiro setor, unidos com o objetivo de construir conjuntamente soluções técnicas para os desafios de conectividade da educação pública no Brasil.

“Entendemos que cada um tinha uma parte da informação e que somente em conjunto é que conseguiríamos realizar uma missão tão difícil e complexa e que pudesse ajudar os secretários de educação a entender a sua rede e poder filtrar e recortes os resultados de acordo com suas necessidades”, explicou Paulo Kuester Neto, cientista de dados do NIC.br.

MCrédito: Reprodução

Dados de conexão à internet nas escolas municipais de São Paulo

Navegação
Entre as métricas que marcam presença no mapeamento estão: métricas de internet, como largura de banda, latência (tempo de resposta de um servidor ao um comando de usuário) e perda de pacotes (conjunto de dados que não chegam ao usuário); métricas temporais, relacionadas a dia e hora; métricas geográficas, sobre o estado, cidade e distritos; e as métricas do provedor de internet.

No filtro inicial da ferramenta, é possível escolher o estado e qual rede deseja visualizar: estadual ou municipal. Em seguida, apresentam-se outras opções de filtragem, como velocidade de download na escola, tecnologia declarada, recurso recebido, um comparativo do download e da latência com o entorno, as principais empresas que atendem a rede em questão, o porte e a localização da escola.

Também estão disponíveis informações sobre as tecnologias que podem ser acessadas por determinada rede, como cabo metálico ou coaxial, satélite, fibra óptica, rádio e outras. Dentro do filtro de um único estado, há a possibilidade de comparar as informações de até três municípios entre si.

Na rede municipal de Pernambuco, por exemplo, é possível observar que apenas 57,7% das 5.096 escolas possuem internet, com poucos casos de escolas com uma internet considerada boa (15) ou razoável (14). Já na rede municipal do Espírito Santo, 78,6% das 2.262 escolas possuem internet. Apesar de ter indicativos melhores do que Pernambuco, na rede capixaba também predomina a internet ruim nas escolas (92).

Grande parte desses dados são possíveis graças aos Medidores Educação Conectada, desenvolvidos pelo NIC.br e instalados em 27 mil escolas no âmbito do programa Inovação e Educação Conectada (Piec), do Ministério da Educação. “Esse medidor é instalado nas escolas públicas para conseguir avaliar a conexão de banda larga fixa. Nesses dois anos e meio, conseguimos acumular cerca de 12 milhões de medições, que também compõem a base do mapa. São 27 mil escolas que conseguimos avaliar em tempo real. Além disso, peço que vocês instalem o medidor. Não importa se você está em um município pequeno e distante, você é parte dessa ação. Esse engajamento depende de todos nós”, convidou Paulo.

A experiência de outros países
O seminário contou com a participação de Michael Trucano, líder global para inovação na educação do Banco Mundial, que, a partir da análise da experiência de países que estão usando a tecnologia na educação durante a pandemia, dividiu com os participantes como é possível caminhar na direção de diminuir ou fechar a lacuna digital na educação. “Quando falamos em fechar a lacuna digital na educação, não importa se você está no Rio de Janeiro, em São Paulo, Manaus, em Washington (nos Estados Unidos) ou no Quênia. Todos nós somos países em desenvolvimento, considerando a velocidade com que a sociedade está mudando.”

Diante da experiência em 2020 e 2021, que forçou a migração do modelo presencial de ensino para o online, Michael explicou que uma percepção geral foi a mudança sobre a importância de uma boa conectividade: se antes era bom tê-la, agora estamos em outro nível. Uma internet de qualidade é uma necessidade fundamental para a entrega da educação, dentro e fora da escola.

Para o especialista, algumas das principais mudanças que já aconteceram e outras que ainda estão em curso estão relacionadas a pensar na conectividade para além da escola, uma vez que os alunos e professores continuam em casa. O representante do Banco Mundial também ressaltou a importância de ampliar a discussão sobre os objetivos da educação e as necessidades específicas de cada localidade ou escola: instituições em um mesmo território, por exemplo, podem enfrentar desafios distintos.

Nesse momento de emergência, no qual alguns países estavam mais preparados para o cenário imposto pela Covid-19 e outros nada preparados, algumas estratégias que estão sendo usadas para ajudar e incentivar que professores e alunos permaneçam conectados durante a pandemia são: acesso livre, sem cobrança de dados de internet, a sites educacionais (caso da África do Sul); tratamento especial e prioritário por parte de provedores de internet aos sites educacionais de forma a garantir conexão mais rápida aos estudantes (Quênia); aumento dos pacotes de internet (Turquia); distribuição de equipamentos e dispositivos (Egito), disponibilização de sinal de internet em locais públicos (Estados Unidos); disparo de campanhas via SMS para apoiar famílias e cuidadores (Equador), entre outros.

Trucano comentou ainda que o Banco Mundial é procurado para fornecer orientações sobre conectividade na educação, e que entre os questionamentos mais e menos frequentes feitos à instituição, uma pergunta quase nunca realizada é como medir o sucesso nesse assunto, no sentido de entender quais esforços em prol da conectividade foram bem sucedidos. Ele lembra que tomadores de decisão precisam estar sempre atentos aos objetivos educacionais, de onde e para quem a conectividade será usada, além de aspectos técnicos ou funcionais da conectividade, como quem fará o investimento e vai arcar com os custos.

A experiência da instituição nesse tema também rendeu uma lista de cinco princípios desenvolvidos para apoiar o uso da tecnologia na educação no mundo todo:
1. pensar em conectividade para todos, apoiando aqueles que estão menos conectados;
2. priorizar uma abordagem do ecossistema, considerando diferentes atores como provedores de internet e aqueles que apoiam professores e alunos;
3. refletir como a tecnologia pode empoderar professores;
4. ter abertura e transparência em todos os processos;
5. tomar decisões e realizar práticas baseadas em evidências, preparando-se para aprender a partir dos erros que serão cometidos ao longo do caminho.

O caso da Paraíba
Ao compartilhar a experiência da Paraíba na promoção da conectividade na educação, Claudio Furtado, secretário de estado da educação e ciência e tecnologia da Paraíba e membro do Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação) provou que algumas reflexões trazidas por Michael Trucano de fato acontecem na prática. Se antes a conectividade era pensada apenas no âmbito da escola, a pandemia fez com que secretários e redes passassem a pensar no acesso universal dos estudantes às ferramentas tecnológicas educacionais.

Além da importância de pensar a tecnologia de forma associada às ferramentas pedagógicas, Claudio também explicou que a Paraíba entende a conectividade como um elo de ligação entre infraestrutura, formação da comunidade escolar e currículo e metodologia, eixos que possibilitam a aprendizagem dos estudantes. “Entre os desafios das redes estaduais de educação estão estabelecer políticas públicas baseadas nessa tríade, o que, por sua vez, envolve três eixos: pensar ações de grande escopo, desenvolver soluções a partir de diagnósticos locais e estabelecer um diálogo efetivo entre as soluções e os currículos implementados.”

Nas ações de grande escopo, por exemplo, ele reforça a importância de um plano nacional elaborado no âmbito do MEC (Ministério da Educação), com assistência técnica e financeira, que garanta a implementação de políticas educacionais articuladas à ciência e tecnologia. “É necessário pensar na escalabilidade para chegar ao chão da escola.” Nesse caso, as ações a serem articuladas pelo MEC passariam às secretarias de educação que, por sua vez, ficariam responsáveis por levá-las aos territórios e, por fim, até às escolas.

Além disso, o secretário também pontuou que as diretrizes precisam ser flexíveis o suficiente para que possam ser adaptadas de acordo com diagnósticos locais. “Devemos pensar no macro, mas a escola, que é o ponto de ação, precisa ser olhada com suas condições locais. As soluções que vão resolver os problemas de conectividade e integração nas escolas vão depender de cada ambiente”, comenta.

Para colocar tudo isso em prática, Claudio compartilhou algumas ações desenvolvidas, como a criação da plataforma de ensino Paraíba Educa (PB Educa), que integra diferentes plataformas como televisão, rádio e aplicativo, e uma bolsa de estímulo à conectividade dos professores, além de ações de formação direcionadas ao corpo docente, considerando que muitos deles não tinham contato com ferramentas digitais, reforçando a importância do letramento digital.

“Passaram-se muitos anos dentro de 2020 na questão do acesso, mas ainda há muito a ser feito em termos de conexão da escola, do aluno e dos professores. A conectividade precisa envolver vários eixos, como infraestrutura e formação pedagógica, para que não fique na questão da tecnologia isolada”, completou.

Acesse
O Mapa Integrado de Conectividade na Educação está disponível neste link. Já o evento de lançamento – com tradução simultânea no trecho de Michael Trucano – pode ser acessado aqui.

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educação infantil, ensino fundamental, ensino médio, tecnologia

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