O que a 'geração do quarto' tem a ver com os ataques às escolas? - PORVIR
Crédito: Sintropika/Porvir

Inovações em Educação

O que a ‘geração do quarto’ tem a ver com os ataques às escolas?

No webinário de lançamento do guia Escola Livre de Ódio, o Porvir reuniu especialistas para debater por que adolescentes são atraídos por esse discurso e apontar caminhos para enfrentar a situação

por Ana Luísa D'Maschio ilustração relógio 14 de novembro de 2023

O fenômeno do ataque a escolas por jovens, a propagação do discurso de ódio e desinformação entre eles e as estratégias adotadas por algumas escolas para combater e prevenir a violência são temas abordados pelo guia multimídia “Escola Livre de Ódio”. Lançado recentemente pelo Porvir, com o apoio do ICFJ (International Center for Journalists) e YouTube Brasil, este guia oferece um olhar aprofundado sobre essas questões.

O webinário de lançamento do guia foi realizado nesta segunda-feira (13), sob a mediação de Marina Lopes, editora de conteúdos especiais do Porvir. O debate contou com a participação de Mariana Ochs, coordenadora de educação midiática do Instituto Palavra Aberta; Rooney Marcos Santos, professor da rede pública estadual de Sergipe e coordenador do projeto “Observa! Observatório de Fake News”, no Atheneu Sergipense, e Hugo Monteiro Ferreira, neuropsicólogo e autor do livro “A geração do quarto: quando crianças e adolescentes nos ensinam a amar” (Editora Record).

Assista à íntegra do webinário

Hugo, após entrevistar mais de 3 mil jovens, de 11 a 18 anos, de cinco capitais brasileiras, identificou um fenômeno que chamou de “geração do quarto”: um grupo de adolescentes que passam mais de seis horas diárias isolados no cômodo e demonstram ter sérios problemas de convivência com seus pares e adultos, construindo relações sociais apenas pela internet, além de apresentar adoecimento psíquico e emocional.

Para o neuropsicólogo, esse é um perfil muito próximo daquele dos responsáveis por ataques às escolas. O universo da internet também ensina a violência como linguagem. “Quase todos os depoimentos dos atacantes estão atravessados por elementos de violência escolar ou doméstica. Na internet, aprende-se a agredir. Nesse aspecto, existe o que chamo de perfil ‘joker’, ou coringa. Elas atuam, infelizmente, de maneira mais difundida, em inúmeros grupos dentro da internet. Neste momento em que nós estamos aqui no webinário, muito provavelmente eles estão discutindo como fazer uma continuidade [de ataques]”. 

Mariana reforça a relevância do diálogo e da participação ativa da família e da escola. “A gente tem que entrar nesse quarto não para invadir a privacidade deles, mas sim para mostrar interesse e conversar, evitando julgar ou punir. Precisamos entender o que estão fazendo e, quando necessário, problematizar sobre o que eles estão usando, prepará-los com carinho e apoio para que tenham segurança e compromisso ético ao tomar suas decisões”. 

Ela sugere que é preciso pensar em uma formação para a cidadania, voltada aos direitos humanos. “A convivência com o outro antecede o uso do ambiente digital. Se eu tenho um jovem com essa compreensão de mundo, ele vai aplicar isso no ambiente digital.”

No contexto das relações mediadas pela internet, um ambiente de acesso a uma vasta gama de conteúdos, o professor Rooney Marcos Santos realizou um experimento com um perfil falso na plataforma X (anteriormente conhecida como Twitter). O objetivo era compreender as mensagens trocadas entre adolescentes e jovens no canal. Em 2022, o ambiente escolar foi marcado por tensões, com estudantes questionando informações, apesar de raramente consultarem diretamente sites de notícias confiáveis.

Na rotina dos estudantes, o algoritmo das redes sociais e seus mecanismos de personalização constituem o único filtro de conteúdo. “Durante as aulas de redação percebi discursos enviesados, que vinham de algum lugar estranho”, relata o professor. Em resposta, ele iniciou um diálogo com os alunos para entender os espaços virtuais que frequentam, enfatizando que cada curtida ou comentário traz consequências. Naquele caso, mais conteúdos enviesados e situações potencialmente prejudiciais a eles mesmos ou a seus colegas são uma realidade.

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TAGS

educação infantil, ensino fundamental, ensino médio, formação continuada, socioemocionais

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