ONG recruta universitários para ensinar inglês
Cidadão Pró-Mundo leva idioma para 800 jovens de baixa renda; documentário lançado hoje mostra experiência
por Vagner de Alencar 7 de maio de 2013
Nada de ficar no verbo to be. Crianças e adolescentes de oito comunidades de baixa renda em São Paulo e no Rio de Janeiro estão aprendendo língua inglesa a partir da cultura e arte locais, como tocar violão, produzir pinturas, criar bonecos. O aprendizado tem abordado também aspectos de caráter mais profissionalizante, como montar um currículo, escrever e-mails e realizar chamadas telefônicas. O curso, que é praticamente gratuito, é realizado pela ONG Cidadão Pró-Mundo, na qual estão envolvidos 300 jovens voluntários, em sua maioria universitários, que dão aulas com o apoio de materiais didáticos e de formação dada pela Cambridge University Press, parceira da organização sem fins lucrativos. A experiência, inclusive, virou um documentário que será lançado hoje, produzido pela People of Change, iniciativa que documenta o trabalho de ONGs e pessoas que desenvolvem ações em comunidades do mundo inteiro.
O filme mostra, a partir da perspectiva dos estudantes, como o aprendizado do idioma inglês vem transformando suas vidas. Essas transformações ocorrem não apenas na parte linguística, mas também os ajudam a se tornarem menos inibidos a falar em público. A Cidadão Pró-Mundo ajuda a desenvolver a autoestima de seus alunos. “Essa iniciativa está permitindo ressignificar a educação não apenas para as crianças e os jovens dessas comunidades, mas para toda a família”, afirma Sarah Morais, coordenadora de projetos da ONG Cidadão Pró-Mundo, que também lança hoje a Campanha Adote um Aluno, que pretende formar uma rede de pessoas que “adotem” alunos dessas comunidades.
A ideia é que os interessados possam contribuir mensalmente com R$ 15 por aluno, R$ 30 por dois alunos-irmãos, uma família R$ 60, ou R$ 300, por uma turma. Atualmente, 800 estudantes participam do curso de inglês. O intuito é ampliar esse número, que, segundo Sarah, tem uma demanda do dobro de vagas oferecidas. A iniciativa nasceu no bairro do Capão Redondo, na zona sul de São Paulo, há 15 anos. De lá para cá, expandiu para outras comunidades: Real Parque e Monte Azul, periferias também na zona sul, e João XXIII, na zona oeste. Além de Diadema, na Grande São Paulo, e em bairros do Rio de Janeiro.
Para participar das aulas, as crianças precisam ter, no mínimo, 11 anos, serem alfabetizadas e oriundas de famílias de baixa renda. Para o custeio dos livros, os estudantes podem pagar uma taxa voluntária de R$ 60.
As aulas acontecem aos fins de semanas em ONGs ou em escolas que desenvolvem programas educativos, como o Escola da Família, na qual estudantes universitários realizam atividades com os estudantes locais”, afirma Sarah. No curso, os estudantes são separados por turmas, de acordo com idade e nível, do básico ao avançado. As aulas acontecem normalmente em meio a conversas relacionadas à sustentabilidade, globalização etc. apoiadas pelo material didático. “O mais importante é o estimulo à própria educação”.
Por meio de rodízios mensais, quatro professores se revezam para dar aulas para uma mesma turma. O programa de ensino é compartilhado por meio do DropBox, sistema que armazena arquivos remotamente. “Isso [a dinâmica de salvar documentos na nuvem] permite que o professor tenha um feedback anterior ao do outro voluntário e consiga acompanhar o desenvolvimento da turma, ou até mesmo de cada aluno”, diz. Antes do início das aulas, os professores participam de treinamentos obrigatórios, na própria unidade de ensino, além de dinâmicas com os alunos.
All Together Now
Uma dessas voluntárias é Beatriz Tavares, que decidiu dividir seu tempo como administradora de sua empresa de roupas e as aulas de inglês, no bairro João XXIII, aos domingos. Incomodada em basear suas aulas apenas no conteúdo dos livros anteriores aos de Cambrigde, Beatriz decidiu criar o projeto Teens, que trabalha o ensino do idioma de maneira mais lúdica.
Como parte da metodologia estão encenações teatrais por meio de situações cotidianas. “Fazia muito mais sentido ensiná-los que gato se chama cat, em inglês, quando percebemos ele tinha um animal em casa. Notamos também que era necessário um ensino mais estimulante, para que as crianças saíssem de suas casas, aos domingos. Elas estavam sem ânimo ao aprender apenas os conteúdos do livro”, afirma Beatriz.
No fim do ano passado, por exemplo, os alunos criaram um videoclipe para revisar os assuntos trabalhados. A partir da música All Together Now, dos Beatles, cada grupo da turma de Beatriz recebeu um conjunto de frases da música nas quais precisavam encenar as cenas que lhe foram propostas. Para isso, além de aprender a música e seu significado, reviram os temas e elaboraram encenações para ilustrar a canção. “Foi um jeito divertido de aprender o idioma, além de permitir às crianças que se tornem agentes do próprio aprendizado”, diz Beatriz.
Veja documentário:
Este post foi atualizado às 11h17 de 10 de maio de 2013.