Para ser inclusivo, Enem pós-pandemia precisa ir além da mudança de data
Soluções incluem definição da nova data em acordo com os novos calendários escolares, retomada das aulas presenciais nas escolas públicas, diagnóstico da situação dos estudantes e recuperação dos conteúdos, além de mudanças no exame
por Fernanda Nogueira 6 de julho de 2020
Para tornar a próxima edição do Enem mais inclusiva e democrática, será preciso aguardar a nova organização dos calendários escolares e a retomada das aulas presenciais pelas escolas públicas, defendem especialistas em educação. Um diagnóstico da situação dos estudantes, a recuperação de conteúdos e alterações nas provas também serão necessárias. Isso porque são os estudantes de baixa renda que sofrerão mais com o aumento das desigualdades sociais e raciais causadas pela pandemia do coronavírus (COVID-19), o que vai dificultar a participação deles no exame.
Inicialmente marcado para novembro, o Enem só foi adiado por pressão popular feita sobre o MEC (Ministério da Educação), uma vez que as aulas presenciais estão suspensas. O Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) promoveu uma enquete com os cerca de 5,8 milhões de inscritos para definir a data entre três opções, dezembro deste ano, janeiro ou maio do ano que vem. Cerca de 49% dos 1,1 milhão de participantes da enquete escolheram maio.
Para garantir que a nova data seja a melhor possível para os estudantes de escolas públicas, a relatora da medida provisória que flexibiliza o ano letivo durante a pandemia, deputada Luisa Canziani (PTB-PR), incluiu no texto-base, aprovado no último dia 30 na Câmara dos Deputados, uma determinação para que a data do Enem seja definida em articulação com as redes estaduais de ensino. A conclusão da votação depende da análise das sugestões de alterações no texto. Depois, a MP segue para votação no Senado. Um dia depois, o Inep afirmou que a data será escolhida em acordo com entidades representantes do setor de educação. (Nesta quinta-feira 8, o MEC anunciou que a próxima edição do Enem será realizada em janeiro de 2021).
“Só se pode definir uma data quando os calendários estiverem organizados. Se não tem isso, não tem como realizar um Enem inclusivo, sobretudo para alunos de escolas públicas. Até estudantes de escolas privadas apoiam. Quando você olha a escola pública, os estudantes não têm nem acesso ao ensino. Não têm professores, não têm material, não têm internet, não estão assistindo às aulas. A condição é de desigualdade”, explica Catarina de Almeida Santos, professora adjunta da Faculdade de Educação da UnB (Universidade de Brasília), coordenadora do Comitê do Distrito Federal da Campanha Nacional pelo Direito à Educação e pós-doutoranda do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Educação da Unicamp.
A escolha da melhor data para os estudantes é um fator decisivo para a inclusão, segundo Caio Sato, coordenador do Núcleo de Inteligência do Todos pela Educação. “Há relatos de que o acesso às atividades educacionais ministradas pelo ensino remoto é muito diverso. Por isso, é preciso alinhar o calendário do Enem com o calendário do ano letivo, principalmente para respeitar quem está com dificuldades.”
O fato de o Inep dizer que vai ouvir o setor de educação é um avanço, mas é preciso acompanhar o processo para saber como se dará na prática e se a escuta será feita com qualidade. “As redes estaduais, que são as principais ofertantes do ensino médio, sequer tinham sido consultadas sobre o Enem como um todo e sobre a data. São elas que vão perceber como os estudantes vão voltar para a sala de aula. Por mais que se revise conteúdo e se use formas complementares para a prova, errar no timing (momento adequado de ação) define o destino de muitos”, afirma Caio.
A nota do Enem é usada para concorrer a vagas no ensino superior público por meio do Sisu (Sistema de Seleção Unificada). É utilizada também na seleção de candidatos por instituições particulares e para conseguir bolsas de estudos pelo Prouni (Programa Universidade para Todos) e financiamento pelo Fies (Fundo de Financiamento Estudantil).
Se a participação já causava ansiedade todos os anos, passou a ser motivo de dúvida e pode levar parte dos estudantes a desistir de fazer o exame. O Enem 2020 teve 1,4 milhão de inscrições de concluintes do ensino médio. Entre eles, 1,1 milhão tiveram direito a gratuidade. Esse grupo inclui concluintes de escolas públicas e participantes que cursaram todo o ensino médio em escola da rede pública ou como bolsista integral na rede privada, além de ter renda, por pessoa, igual ou menor que um salário mínimo e meio. Outros 3,6 milhões dos 5,8 milhões de inscritos tiveram seus pedidos de isenção da taxa confirmados ao declararem que são membros de famílias de baixa renda.
A participação dos alunos vai depender da confiança deles no sucesso na prova, segundo Caio. “Mesmo que o número de inscritos seja grande, tem um elemento de crença de o estudante achar que vai conseguir minimamente se sair bem na prova. Se aquele que está enfrentando dificuldades perceber que não vai ter nenhuma chance, possivelmente, embora tenha se inscrito, não vai comparecer no dia da prova.”
Para Catarina, a retomada das aulas presenciais será crucial. “Depende de quando acontecer. Se for realizado depois da retomada do calendário, abrir novas inscrições, pode ser que a queda no número de concluintes não seja tão grande. Se mantiver o calendário com a educação remota, teremos poucos concluintes, além de um processo de evasão escolar gigantesco.”
Dependendo de quando forem retomadas as aulas, a realização de apenas um Enem em 2021 seria suficiente para abranger todos os candidatos, segundo Catarina. Ela defende que as questões da prova sejam alteradas, para incluir a nova realidade mundial. “A pandemia mudou a vida da humanidade e do país em todos os aspectos. Reduziu salários, as pessoas perderam empregos, temos muitas mortes, um colapso na saúde, desigualdades sociais e raciais. Isso tudo precisa entrar na avaliação. O Inep precisa pensar em novos itens para o Enem nas diferentes áreas de conhecimento.”
– CEDOC: Artigo “Igualdade de Oportunidades: analisando o papel das circunstâncias no desempenho do Enem” (2014), de Erik Figueirêdo, Lauro Nogueira e Fernanda Leite Santanaz
Para Caio, o calendário do Enem 2021 deve ser mantido. “Fazer dois no mesmo ano será uma forma de ajudar os prejudicados em 2020. Às vezes se constrói uma narrativa de que os estudantes podem tentar de novo depois. O público-alvo do Enem não tem chances de se dedicar um ano só aos estudos, ainda mais com o agravo econômico que a pandemia vai trazer. Muitos vão ter que apressar a entrada no mercado de trabalho. É importante manter os dois exames para equalizar as oportunidades de entrada no ensino superior.”
Sobre o conteúdo das provas, Caio diz que é preciso ser menos rigoroso no que será cobrado no próximo exame. Alguns países já estão investindo em mudanças nesse sentido, como o Chile, ou em novas formas de avaliação, como a Itália, de acordo com ele. “É preciso centralizar no essencial até para que se consiga depois fazer um trabalho conjunto com as universidades, que podem ser uma fonte de nivelamento de aprendizagem. O debate sobre o que cobrar precisa ser aprofundado por especialistas, mas um caminho pode ser se balizar na BNCC (Base Nacional Comum Curricular). O mais importante é enxugar o conteúdo, talvez voltando para temas do primeiro e do segundo ano.”
É necessário considerar que a preparação dos estudantes passou a ser mais desigual, de acordo com Catarina. “Para muitos estudantes, a escola é o único espaço para estudar. Muitos não podem nem ficar isolados, tem gente sem comida, com salário reduzido. Muitos alunos trabalhavam, agora estão sem emprego ou se expondo a risco. Não dá para ignorar essa situação.” Até aulas pela TV podem ser difíceis de serem acompanhadas pelos mais vulneráveis. “Será que eles têm um lugar tranquilo em casa para sentar e ouvir a aula? Por isso, o ensino remoto é um processo de exclusão tremendo.”
Em debate: – Artigo: Covid-19 escancara desigualdades e reafirma falta de diálogo do MEC
Apesar do esforço das redes, escolas e professores em oferecer o ensino remoto, a retomada das aulas será muito importante, pois vai permitir fazer uma avaliação diagnóstica dos estudantes, de acordo com Caio. “Programas de recuperação de conteúdo serão fundamentais para preparar os mais vulneráveis. Dificilmente hoje vai haver justiça neste exame para os que estão sofrendo mais com o ensino remoto. No momento que voltarem, que se faça um diagnóstico e seja posto em prática um programa forte de recuperação de conteúdo. Do contrário, as chances de terem sucesso vai ser muito baixa.” Ele defende ainda que seja feito um trabalho de acolhimento emocional dos jovens.
Digital
Pela primeira vez, a prova terá uma versão impressa e outra digital. Um total de 96 mil inscritos optaram pela prova digital, segundo o Inep. A aplicação será em municípios e locais de prova selecionados pelo instituto, que prevê a consolidação do modelo nos próximos anos e o uso para todos os participantes até 2026. O objetivo é realizar o exame em várias datas ao longo do ano por agendamento. Caso ocorra algum problema na realização da prova digital, o estudante terá direito a uma reaplicação do exame em formato impresso.
O formato permite avaliar os itinerários previstos com a reforma do ensino médio e potencializar individualidades dos alunos com instrumentos de inteligência artificial, segundo Alexandre Lopes, presidente do Inep, em informativo sobre o Enem 2020. Outras vantagens seriam a redução da complexidade da logística de aplicação e a economia com a impressão das provas.
Para Catarina, a prova digital pode excluir. “A pessoa precisa de familiaridade com a tecnologia, se não tiver, se coloca mais uma barreira no meio. Um estudante do campo ou da periferia pode não ter acesso. Precisa resolver a questão da desigualdade para dizer que é um processo inclusivo.”
O modelo pode ser interessante como uma forma de sofisticar a avaliação, segundo Caio. Ele cita o Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), coordenado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que tem formato digital e pode mensurar outras habilidades, como as socioemocionais, além das cognitivas. “A aplicação no próximo Enem é experimental e tem que ser encarada desta forma. A pandemia escancarou as desigualdades do Brasil, uma delas é o acesso à tecnologia. É legal ser colocada em teste mas não pode ser encarada como uma solução equitativa e como saída para manter o distanciamento social.”
– Banco de Soluções: Gestora de escola no Pará conta em vídeo o que fez para melhorar o desempenho dos alunos em avaliações como o Enem e os vestibulares
Espírito Santo
Do total de 240 mil alunos da rede estadual de Educação do Espírito Santo, 31 mil estão no terceiro ano do ensino médio. Desde o fechamento das escolas, aqueles que têm interesse no Enem podem acompanhar aulas em plataformas educacionais, videoaulas no YouTube e apostilas em PDF enviadas por WhatsApp, segundo Rosângela Vargas, gerente de ensino médio da secretaria. Cerca de dois mil alunos são acompanhados mais de perto por terem sido aprovados em uma espécie de cursinho oferecido pela secretaria.
– Panorama do Território – Espírito Santo
Para incentivar os alunos a se inscreverem no exame, a secretaria divulgou as datas na internet. Fez ainda postagens nas redes sociais e no YouTube com vídeos de egressos da rede que hoje estão na faculdade. “Eles contam que estudaram na escola pública, que se dedicaram ao Enem. Dão dicas”, diz Rosângela.
A gerente reconhece a responsabilidade das secretarias de Educação no processo de tornar o próximo Enem mais inclusivo. “Precisa se movimentar, como estamos fazendo. Desenvolver técnicas e estratégias para atingir todos os estudantes com os roteiros de estudo e motivando para não desistirem. Dar mais condições de acesso, levar atividades online e impressas e instigar a estudar. Apesar de saber que não vamos conseguir atingir alguns, vai ser pelo menos a maioria. Nosso desafio é levar para todos. Equidade é fundamental. O professor tem o principal papel neste processo, está na ponta, tem contato com eles.”
O MEC poderia contribuir, segundo Rosângela, disponibilizando videoaulas na TV aberta, “para chegar à maioria dos jovens”. Do total de alunos da rede, ao menos 15% têm dificuldade de acesso à internet, de acordo com ela. Entre os inscritos no cursinho para o Enem, o percentual é de 10%.
Em parceria com o Google e com operadoras de telefonia, o Estado criou um aplicativo para oferecer acesso ao Google Sala de Aula sem a necessidade de pacote de dados no celular. Outra opção ainda é buscar atividades impressas nas escolas. A rede estadual do Estado pretende voltar às aulas presenciais em agosto, dependendo da situação da pandemia.
Para Rosângela, é grande a chance de que esta edição tenha uma participação menor de estudantes de escolas públicas. “Vão se sentir inseguros para fazer a prova, mesmo que tenham feito a inscrição. Com a prova em maio, vão perder um semestre da faculdade, mas pelo menos terão mais tempo para se preparar.” Ela também defende a realização do Enem 2021. “Para esse momento, se conseguir aplicar dois no ano, é interessante. Dá mais tempo para aquele que não conseguiu se preparar.”
A gerente de ensino médio considera que o Enem se tornou uma “prova de resistência”. “Deveria cobrar conhecimentos gerais, português, matemática e redação de todos os participantes. O aluno faria ainda uma prova da área de conhecimento que quer seguir”, diz Rosângela. Isso evitaria o excesso de pressão sobre os jovens. “Muitos ficam doentes, depressivos, pela pressão da escola, da família e da sociedade. Acho que vamos superar essa lacuna do Enem, quando implantarmos o Novo Ensino Médio. O estudante vai se aprofundar em um itinerário de seu interesse e o Enem vai ter que se adequar.”
– No Observatório da Educação do Instituto Unibanco, assista comentários sobre o Enem em entrevistas em vídeo com os ex-ministros Fernando Haddad, Renato Janine Ribeiro e com Maria Helena Guimarães de Castro, que fala sobre a gestão do ex-ministro Paulo Renato Souza.
Incertezas
Para Veridiana Santana, diretora institucional do Cursinho FGV e aluna do terceiro ano do curso de Administração Pública na faculdade, o aumento das desigualdades durante a pandemia põe em risco a participação de estudantes de escolas públicas no próximo Enem. O cursinho atende cerca de 200 jovens de baixa renda, selecionados anualmente por prova e entrevista. As aulas são gratuitas e eram ministradas aos sábados.
“Os estudantes têm que lidar com outras coisas além dos estudos. Têm outras prioridades, aumento de abuso doméstico, auxílio em casa, tem que trabalhar, cuidar dos irmãos e lidar com a perda de pessoas. As incertezas deixam muita gente sem perspectiva de entrar no ensino superior. Eles questionam se vale a pena continuar estudando. Muitos nem se inscrevem porque acham que não vão conseguir”, diz Veridiana.
– Dissertação “Limites e Possibilidades do Enem no processo de democratização do acesso à educação superior brasileira” (2016), de Vânia Maria Lourenço (UnB), no Observatório da Educação do Instituto Unibanco
– Tese de doutorado “Enem: limites e possibilidades do Enem enquanto indicador de qualidade escolar” (2013), de Rodrigo Travitzki Teixeira de Oliveira (USP), no Observatório da Educação do Instituto Unibanco
Do total de alunos do cursinho, 15% não tinham acesso à internet em março, quando as aulas presenciais foram suspensas. Por isso, os professores gravam aulas em vídeo e enviam por WhatsApp. “Eles podem assistir quando quiserem e tiram dúvidas por mensagem com os professores e monitores”, explica a diretora institucional.
Há ainda parcerias com plataformas educacionais, que oferecem conteúdo de forma gratuita aos estudantes, simulados e mentoria. No segundo semestre, o cursinho pretende oferecer aulas online ao vivo, usando verba arrecadada pela campanha “4G para Estudar” para pagar internet aos alunos que precisam, segundo Veridiana. Outro projeto, com orçamento pronto em busca de um patrocinador, é oferecer tablets e internet para os estudantes durante o ano letivo.
Mesmo com todo o esforço, segundo Veridiana, os estudantes de escolas públicas devem ficar em desvantagem. “Muitos alunos não se sentem prontos num cenário normal, imagine agora. Eles tiveram que parar de estudar, não terão o preparo essencial. Estudantes das particulares terão notas mais altas. Mesmo com a prova em maio de 2021, vão entrar quando na universidade? É até difícil calcular os prejuízos para os estudantes tamanhas as incertezas”, afirma.
Foco
Formado no ensino médio desde 2017, Jonata Pereira Alves Ferreira, de 19 anos, faz o cursinho FGV pelo segundo ano. Vai prestar o Enem pela terceira vez. Quer cursar história na Unila (Universidade Federal da Integração Latino-Americana) em Foz do Iguaçu (PR).
A preparação para o exame ficou mais complicada com a suspensão das aulas presenciais. Agora, o jovem procura estudar de duas a três horas por dia em casa com slides enviados pelos professores e por videoaulas. “A dificuldade é ter foco, vontade de começar a estudar. Começo, mas aparece uma mensagem e paro ou nem começo porque está passando um filme”, conta Jonata, que mora com os pais e a irmã no Jardim Damasceno, no distrito de Brasilândia, na zona norte de São Paulo.
Ex-aluno de escola pública, o estudante explica que começou a valorizar a educação no terceiro ano do ensino médio. “Os coordenadores falavam que a minha escola era a pior da região. Não achava que estudar ia ajudar a melhorar de vida, fazia por fazer. Nunca foi atrativo para mim.” O interesse surgiu depois de participar de um curso profissionalizante na área de hotelaria e de entrar em contato com o rap.
“O curso falava muito de educação. Comecei a ler, buscar, me interessar e entendi que era importante estudar. Tive contato com Paulo Freire.” O rap veio junto. “Tem muita letra de rap, como as dos Racionais, Sabotage, RZO e Eduardo Taddeo, que falam da melhoria de vida, mas não através do crime. Vi que queria ser alguém. A partir disso, comecei a buscar e me interessar pela educação”, conta.
Jonata considera o Enem difícil, com muito conteúdo e tempo escasso para a resolução das questões. Ele conseguiu nota para passar na Unila no ano passado. “Não tinha pretensão de ir por ser longe. Entrei no curso de administração pública da FGV, mas não consegui a bolsa de estudos e tive que sair. Agora pesquisei e decidi que quero ir para a Unila.”
Para Jonata, o Enem e os vestibulares são pouco democráticos, por restringirem a entrada da maioria dos estudantes no ensino superior. “Tinham que acabar, não incluem a população em geral em função de toda a desigualdade educacional. Tenho amigos muito inteligentes que não conseguiram ir bem no Enem nem passar em vestibulares. Nem deveria ter seleção para os mais pobres chegarem à universidade. Tinham que parar de investir em presídios e investir em escolas e universidades para ter vagas para todos.”