Pare de perguntar sobre taxa de conclusão de MOOCs
Designer instrucional defende que MOOCs precisam ser reavaliados usando as métricas de conteúdo digital; confira as perguntas certas
por Amy Ahearn, para o EdSurge 6 de dezembro de 2018
“Qual a taxa de conclusão para seus cursos online?”
Como designer instrucional que vem construindo MOOCs (cursos online abertos e massivos) nos últimos cinco anos, tenho ouvido essa pergunta mais vezes do que posso contar. É um resumo deprimente para o ceticismo sobre a educação online em geral.
Este ceticismo não é injustificado. Os MOOCs foram chamados de fracassos retumbantes e decepcionantes. A taxa média de conclusão dos MOOCs (incluindo os que eu desenho) oscila entre 5 e 15%. No entanto, o problema fundamental dessa linha de questionamento é que ela confunde de forma imprecisa o acesso ao conteúdo de aprendizado online com acesso a uma experiência de curso.
Os MOOCs devem ser entendidos como conteúdo digital, como podcasts, revistas online, séries da Netflix ou até mesmo campanhas por email, em vez de experiências educacionais facilitadas, como seminários de faculdade. À medida que avançamos em direção a 2019, é hora de esclarecer essa diferença e começar a fazer perguntas mais inteligentes sobre o que os MOOCs podem e devem esperar realizar.
MOOCs como conteúdo digital
Embora a imprensa em geral tenha soado a sentença de morte para MOOCs a partir de 2013, milhares de estudantes ainda se inscrevem diariamente em um curso deste tipo. Por exemplo, na organização sem fins lucrativos em que trabalho, quase 190.000 pessoas se inscreveram para os MOOCs em 2018, em comparação com cerca de 145.000 no ano passado e 177.000 em novembro de 2015. Existe claramente uma demanda contínua – e até mesmo ressurgente – pelo currículo de alta qualidade e materiais que universidades, museus e outras instituições oferecem agora gratuitamente como parte do movimento MOOC.
Ainda assim, muitos céticos apontam que porcentagens muito pequenas de alunos que se inscrevem para MOOCs realmente completam o curso. Um estudo recente do Teachers College da Universidade de Columbia sobre cursos nas plataformas EdX e Coursera indicou que seus programas com certificação baseados em MOOC tinham taxas de conclusão de 15% ou menos. Isso não é um sinal de que o formato falhou?
Não é bem assim.
Em Stanford e na +Acumen – as duas organizações onde construí cursos online – descobrimos que muitos usuários se inscrevem em MOOC, fazem o download de materiais de leitura e apostilas de trabalho, assistem a um número específico de vídeos e até mesmo levam ideias importantes para suas equipes ou vida profissional – mas nunca concluem e fazem o upload de todas as tarefas. Esses comportamentos são manifestados em pesquisas pós-curso e entrevistas qualitativas. Os usuários explicam que ou chegam aos MOOCs com metas específicas de aprendizado ou simplesmente não têm motivação para conquistar um certificado. Pesquisas da HarvardX e de outros provedores de cursos online corroboram essa tendência. O estudo da Universidade de Columbia mostrou que apenas 35% dos estudantes que iniciam um programa de certificação MOOC pretendem obter essa credencial alternativa.
Em vez de nos desesperarmos com esses comportamentos, achamos que fazem muito sentido.
Em um mundo saturado de informações, a alfabetização digital exige que as pessoas pratiquem técnicas de mediação, sabendo exatamente como encontrar as informações relevantes para o seu trabalho. Assim como ninguém culpa alguém que lê apenas meio artigo na plataforma Medium, um artigo na revista New Yorker ou um único capítulo de um livro, não devemos lamentar o fato de que as pessoas entram e saem dos MOOCs.
No entanto, sempre que falo com pessoas com vida atribulada que se inscreveram em um de nossos cursos, um tom de culpa se insinua quando eles confidenciam: “Bem, eu só passei pelos dois primeiros módulos, mas compartilhei o que aprendi com minha equipe!” Essa culpa é um equívoco. Vejo isso como algo positivo o fato das pessoas encontrarem um curso online que contribui com seu trabalho, mesmo que não tirem o certificado.
Compare como um MOOC é avaliado com a forma como avaliamos o The New York Times. Apenas um punhado de leitores vai ler todo o New York Times do começo ao fim todos os dias. Esses leitores podem ser aposentados, passageiros em um avião, pessoas em uma sala de espera ou indivíduos entre trabalhos diferentes procurando estruturar seu tempo. Isso é semelhante aos MOOCs: os alunos que os completam geralmente estão em momentos específicos da sua vida, quando têm tempo e motivação para seguir um curso com foco único.
Ainda há muitas maneiras de melhorar os MOOCs, mas também devemos começar a ficar mais inteligentes sobre como os estamos medindo e o que esperamos ver.
Comparando coisas que podem ser comparadas
Se os MOOCs forem comparados com outras formas de conteúdo digital que levam um tempo semelhante para concluir, vemos que as taxas de engajamento e conclusão que eles realizam começam a fazer muito mais sentido. Por exemplo:
– 40% das pessoas completam um episódio de podcast. A maioria dos episódios de podcasts têm entre 20 e 60 minutos, em comparação com o MOOC típico, que pode levar de 10 a 100 horas para ser concluído.
– 21% das pessoas abrem uma campanha de email educacional. Normalmente, vemos que entre 50% e 80% dos alunos que se inscrevem em um MOOC abrem o primeiro email.
– As pessoas gastam em média 270 segundos lendo um artigo de 5.000 palavras em seus smartphones. Em comparação, precisam de 29 horas em média para ganhar um certificado MOOC.
– Os sites de ensino superior têm uma taxa de rejeição de 51%, o que significa que mais da metade das pessoas navegam para longe deles depois de ver apenas uma página. Os MOOCs exigem que os alunos se inscrevam e continuem voltando às páginas do curso semana após semana.
Diante dessas referências, a taxa de conclusão de 5-15% para MOOCs começa a parecer um milagre, especialmente quando você considera que esses cursos frequentemente exigem envolvimento com material árduo e focado em aprendizado, em vez de conteúdo para entretenimento.
Novas perguntas a serem feitas sobre os MOOCs
Os MOOCs precisam ser reavaliados usando as métricas de conteúdo digital em vez de aulas universitárias. Isso significaria que começamos a fazer perguntas como:
– Quais são as visitas totais ao site?
– Qual é a taxa de rejeição?
– Qual é o tempo médio no site?
– Qual é o número de usuários ativos diários?
– Qual é o número de usuários ativos mensais?
– Qual é a pontuação de satisfação do cliente?
E sim, qual é a taxa de conclusão? Mas devemos comparar isso com taxas de conclusão para conteúdo digital análogo, não para cursos universitários presenciais.
Essas perguntas começarão a nos ajudar a ver como o formato precisa evoluir e como está funcionando em comparação com tipos semelhantes de mídia.
Os MOOCs fizeram um trabalho incrivelmente bom de escalar o acesso a conteúdo de aprendizagem de alta qualidade em todo o mundo. Mas isso não deve ser confundido com a ampliação do acesso ao ensino de qualidade. A criação de conteúdo online de alta qualidade é um custo fixo e um primeiro passo sólido. Criar experiências de aprendizado atraentes em torno desse conteúdo é algo que requer investimento contínuo e, portanto, novos modelos de negócios que ainda estão sendo testados.
À medida que nos aproximamos de 2019, é hora de parar de questionar as taxas de conclusão do MOOC e dar lugar a perguntas muito mais interessantes sobre como projetar e financiar experiências de aprendizado que tiram vantagem do conteúdo de aprendizado online que criamos.
* Publicado originalmente no EdSurge e reproduzido mediante autorização