Pessoal e profissional juntos, para ir mais longe
Ideia leva ao ambiente corporativo a importância de desenvolver pessoas como um todo – relações, mente, corpo e valores
por Redação 25 de julho de 2013
A frase no manual de boas vindas assusta. “No período do treinamento, (…) levar roupas leves, confortáveis, que deem mobilidade para as atividades, roupas de ginástica para usar todos os dias, tênis, protetor solar e roupas de banho também são necessários”. Roupas de ginástica e de banho para aprender técnicas de feedback, planejamento, gestão de pessoas? Os participantes mal podem supor o que lhes espera nos dias que se seguem: madrugadas de trabalho, exercícios físicos, meditação, competição entre grupos, uma revisão da vida pessoal e profissional. Tudo pensado para colocar os profissionais em circunstâncias que simulem a vida real e, com isso, promovam um desenvolvimento integral, aquele que defende que um funcionário de alta performance deve estar bem também fora das paredes da empresa, seja no seu relacionamento com a família seja consigo mesmo e com seus valores.
O desenvolvimento integral de profissionais ganha nomes diferentes aqui e ali, conforme quem promove o treinamento, mas a preocupação com o funcionário como um todo vem crescendo no Brasil e no mundo. No Canadá, um grupo de especialistas promove um treinamento chamado de Integral Coaching, ligado ao Integral Institute e que visa formar pessoas para espalhar a ideia. Em artigo de 2006, Joanne Hunter, uma das responsáveis por desenvolver a metodologia, reconhece o nascimento de uma tendência. “Neste exato momento, em todo o mundo, pessoas estão recebendo treinamento sobre uma ampla gama de assuntos, como o desenvolvimento de habilidades de planejamento, trabalhar com pares, viver uma vida autêntica, ter uma alimentação saudável, tornar-se um pai melhor, atentar para o corpo e para o espírito, saber dizer não e assim por diante”, afirmou no paper.
Márcia Kodama, fundadora da Isys Desenvolvimento Integral, fez o curso no Canadá e é certificada para trabalhar com a metodologia no Brasil. Segundo a especialista, o conceito com o qual trabalha tenta ver o profissional como um todo e estimulá-lo em todas as dimensões, que resume em quatro: consciência, comportamento, cultura (o que o grupo onde ele está inserido valoriza) e sistemas (série de regras a que está exposto). “Não podemos perder de vista o desenvolvimento dessas quatro dimensões. Não adianta motivar pessoas a mudarem de atitude [dimensão comportamento] sem oferecer um sistema que suporte isso”, afirma.
Na Crescimentum, empresa que promove o treinamento que pede a roupas de ginástica e banho, o desenvolvimento integral ganha um viés prático. Uma vez por mês, ou até duas, a equipe monta uma turma de 40 profissionais que gerenciem pessoas e a leva para um hotel nos arredores da cidade de São Paulo para uma imersão de uma semana. A intenção é possibilitar que os participantes se tornem líderes capazes de melhorar a sua performance e de suas equipes a partir de uma reflexão profunda sobre os aspectos físico, mental, emocional e espiritual de suas vidas. Para tanto, a turma é submetida a circunstâncias que recriam situações rotineiras de trabalho e também condições extremas, como cansaço, estresse e rivalidade. “Nosso ambiente de simulação de realidade traz resultados muito fortes e provoca transformações comportamentais sustentáveis”, afirma Arthur Diniz, um dos sócios da Crescimentum.
A capacitação para feedback é uma das presentes no treinamento – o calcanhar de Aquiles de muitas empresas, especialmente quando o retorno a dar é negativo. De acordo com Diniz, não são poucos os chefes que já assistiram aulas sobre a importância dessa prática e também não é desprezível o número dos que acreditam erroneamente saber avaliar e dar um retorno para sua equipe. “Na hora que tem que fazer isso no treinamento, é que se entende que pessoas diferentes recebem feedbacks de forma diferente e que o contexto também tem influência”, diz ele. Por isso, ele propõe um pacto com a turma da imersão: os feedbacks devem ser sinceros e em tempo real, o que aumenta a produtividade das atividades propostas, diz. Ainda segundo o especialista, um feedback mal pensado e cheio de entrelinhas não ajuda no desenvolvimento do profissional, ao passo que um retorno bem pontuado pode virar um item na lista de afazeres, de cursos ou de habilidades que se quer desenvolver.
Já a partir da perspectiva de que um corpo são é fundamental para o desempenho do funcionário, o treinamento propõe atividades físicas diárias. Para justificar essa preocupação, Diniz cita um estudo do boletim Ergonomics, segundo o qual o desempenho mental é significativamente melhor entre as pessoas em melhor forma física. “Pessoas com boa capacitação física cometem 27% menos erros que pessoas em má forma”, cita ele. Por isso, maratonas de aventura, natação dividem espaço com corridas contra o cronômetro para finalizar provas de raciocínio ou rodadas de feedbacks sinceros entre equipes, momentos de meditação ativa e dança circular.
“Criamos um ambiente de competição, o que é ótimo para ver o melhor e o pior de cada um”, afirma Diniz. E esse “ver o melhor e o pior” inclui entender as origens dos problemas para discuti-las de forma mais direta para trazer uma solução mais sustentável a longo prazo – mesmo que seja preciso envolver questões pessoais na discussão. “A administração competente de energia, tanto em nível individual quanto organizacional, torna possível aquilo que chamamos de envolvimento total. Para estarmos totalmente envolvidos, precisamos estar fisicamente energizados, emocionalmente conectados, mentalmente concentrados e espiritualmente alinhados com um objetivo que seja maior do que nosso interesse imediato”, afirma.