Por que escolher um coworking de educação para sua startup?
Espaços voltados para educação e para negócios de impacto social promovem troca de experiências, conexões e aproximam startups e organizações de clientes e investidores
por Fernanda Nogueira 18 de janeiro de 2019
Coworkings específicos para a área de educação e para negócios de impacto social começam a beneficiar o ecossistema do setor. Os espaços temáticos facilitam a conexão entre empreendedores, grandes empresas, investidores, universidades e comunidades. São poucos, por enquanto – menos de 2% dos 1.100 coworkings do país –, segundo Censo de 2018 da ANCEV (Associação Nacional de Coworking e Escritórios Virtuais), mas já causam impacto positivo.
O Cubo Itaú, em São Paulo, é um exemplo. Tem mais de cem startups de vários segmentos. Vinte delas ocupam o Cubo Education. “Uma das grandes vantagens é ter mentoria tanto dos profissionais do Cubo quanto das empresas mantenedoras, que orientam e contribuem com o constante aperfeiçoamento das startups. Uma delas é a Kroton, uma das maiores empresas do mercado de educação do Brasil, que proporciona mentoria, meetups (eventos com investidores), palestras e muita troca de experiência”, diz Renata Zanuto, head de ecossistema do Cubo Itaú, responsável pelo relacionamento com startups.
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Para entrar, as startups passam por processo de seleção rigoroso. “Nosso board (conselho) de avaliação é formado por Cubo Itaú, Itaú Unibanco e Redpoint eventures. Para nós, startup é uma empresa que soluciona um problema real, com potencial de escala e, para que este objetivo seja atingido, é necessário que seja uma solução com base tecnológica. Além disso, tem de estar em estágio maduro. Ou seja, ser uma empresa com clientes reais e faturamento, características que indicam maior capacidade de atender uma grande empresa e perfil de potencial cliente, que apresentamos e incentivamos no hub”, explica Renata.
Outro coworking que abriga edtechs em São Paulo é o CIVI-CO, criado há um ano como polo de impacto social. Há sete startups de educação no espaço. Segundo o CEO Ricardo Podval, estar lá aumenta a visibilidade e a credibilidade e dá acesso a grandes empresas de educação, ao governo, a aceleradoras e a investidores.
“O CIVI-CO transcende o espaço físico. Queremos criar uma rede de ecossistemas de impacto pelo Brasil”, diz Ricardo. O coworking tem parcerias em outras capitais e planeja expandir as operações para o exterior. “Vamos ajudar as startups a escalarem fora do país e, ao mesmo tempo, trazer projetos de impacto interessantes para o Brasil.”
Entre os pré-requisitos para entrar estão o alinhamento a um dos 17 ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) da ONU (Organização das Nações Unidas), ter capacidade de gerar impacto e possibilidade de crescimento em escala. Os candidatos passam por entrevistas e fazem apresentações.
Parceiro do CIVI-CO no Recife, o Porto Social também foi fundado, em 2016, para oferecer estrutura física a organizações sociais e negócios de impacto. Conta com calendário educacional, com cursos, palestras e mentorias. Tem mais de cem iniciativas, sendo seis residentes, 50 incubados e outros 50 participantes de cursos, que também podem usar o espaço. Do total, cerca de 15 são de educação.
A seleção inclui inscrição, entrega de documentação e apresentação de pitch a uma banca. Oferece 35 novas vagas por ano. “É essencial que o projeto atenda a um dos ODS da Agenda 2030 (da ONU) e seja aprovado pela banca avaliadora, formada por empreendedores sociais, professores, representantes do poder público e do setor privado, entre outros profissionais”, diz Daniel Luzz, diretor executivo do Porto Social.
Os projetos passam por capacitação para garantir a sustentabilidade financeira e promover mais impacto, segundo Daniel. O trabalho inclui remodelagem de negócio, campanhas de financiamento coletivo, editais, leis de incentivo, investimento do setor privado, entre outros.
“Nossa mais recente conquista foi com o projeto ‘O Grito Subúrbia’ (@revistaogrito), contemplado pelo Funcultura através dos ensinamentos do Porto Social. Em 2019, eles vão capacitar jovens de comunidades periféricas com aulas de redação jornalística, fotografia com celular, entre outras, para que possam fazer a cobertura dos eventos culturais das suas comunidades”, conta Daniel.
Ao menos 817 edtechs fazem parte do cadastro da Abstartups (Associação Brasileira de Startups). Para Leo Gmeiner, diretor do comitê de edtechs da associação, os coworkings temáticos promovem interações positivas para as empresas. “Questões tecnológicas podem ser solucionadas na troca de experiências. Além do contato com possíveis clientes da indústria da educação”, diz. Fundador e CEO do aplicativo Filho sem Fila, Leo tem escritório próprio, mas afirma cogitar transferir parte da equipe para um coworking.
Conheça alguns residentes dos coworkings:
Fundada em 2017, a Blox propõe que o aluno possa escolher quais disciplinas quer cursar. Oferece uma tecnologia que permite às instituições de ensino o uso de um sistema curricular flexível. Primeira selecionada pela parceria da Kroton com o Cubo Itaú, está no coworking há cinco meses. Antes tinha escritório próprio. “É um ecossistema valioso, a exposição é grande. Aprendemos algo todo dia. Tem muitos eventos”, diz Bruno Berchielli, CEO da startup.
Para ele, os benefícios de atuar no espaço incluem ainda acompanhar de perto o que acontece no mercado, poder trabalhar com outras startups para oferecer soluções aos clientes e ter um relacionamento forte com grandes empresas. “Estar no Cubo abriu uma terceira linha de produtos à Blox, que são as universidades corporativas”, diz Bruno.
Lançada em 2017, a Eskolare é uma plataforma que facilita a compra e venda de produtos e serviços escolares. A startup passou por outros dois coworkings antes de ser selecionada pelo Cubo Itaú.
A troca de experiências com outras edtechs é uma das principais vantagens do espaço, segundo Erick Moutinho, um dos sócios da empresa. “O ecossistema é muito poderoso, tem empresas que estão no mercado há mais tempo, mais maduras, temos contato com investidores. É um dos melhores coworkings do Brasil”, diz.
A Agenda Edu é uma plataforma de comunicação em ambientes educacionais que facilita o contato entre escolas, alunos e responsáveis. Criada em 2014, nasceu em um coworking no Ceará, onde segue atuando. Escolheu o CIVI-CO, em São Paulo, por ser um espaço para negócios de impacto social. “As outras empresas têm os mesmos desafios que os nossos. A discussão das pautas ajuda a olhar para instituição e ser crítico, para melhorar o produto ou serviço”, diz Anderson Morais, CEO e cofundador da startup.
A empresa, que já conta com investimento internacional, fez um evento com outra empresa da área no coworking e mantém relacionamento com outras. Agora está de mudança para o Cubo Itaú. “A experiência no CIVI-CO foi ótima. Vamos para o Cubo por estar em um estágio um pouco mais avançado operacionalmente. Queremos consolidar grandes parcerias e desenvolver o negócio”, diz Anderson.
Cerca de 600 mil estudantes de mais de 430 municípios do Brasil trabalham, ou já trabalharam, com a metodologia da Atina Educação, que atua para dar sentido ao ensino desde 2007. A startup oferece material, formação de professores, acompanhamento e avaliação de resultados. Para Felipe Seibel, diretor de Operações da Atina, estar no CIVI-CO permite interações e flexibilidade.
“Embora tenham outras organizações de educação, nenhuma é uma concorrente direta nossa. Primeiro, porque ainda não encontramos uma que faça o que a gente faz. E outra, até pela característica das organizações que estão aqui, são todas muito peculiares, muito inovadoras. Isso propicia um ambiente rico, estimulante… um organismo vivo. Antes, vivíamos isolados. Hoje, estamos em um lugar cheio de vida”, diz Felipe.
No mercado desde 2010, a Tamboro é uma plataforma online de avaliação e desenvolvimento de competências socioemocionais que oferece cursos e desafios. Atua no CIVI-CO, em São Paulo, e no coworking OITO, no Rio. Vai ocupar um espaço no Cubo Itaú também.
“O coworking funciona como o Tinder dos negócios de impacto”, diz Maíra Pimentel, cofundadora e diretora de Projetos da Tamboro.
A empresa já conta com investimentos de fundos nacionais e vê o coworking como facilitador deste tipo de contato. “Potenciais investidores nacionais e internacionais vão buscar estes lugares primeiro.”
Desde 2015, a ONG Pazear promove educação, esporte e cultura com o objetivo de diminuir a vulnerabilidade social na comunidade do CSU, na IV etapa do bairro de Rio Doce, em Olinda. Atende 150 crianças e adolescentes com idades entre 5 e 17 anos. Foi incubada na primeira turma do Porto Social. “Os principais benefícios são a ampliação e o fortalecimento de rede e a conexão eficaz, que permite a troca de conhecimento, parcerias e inspiração”, afirma Karina Paz, diretora-presidente da Pazear.
Dentro do coworking, a organização fez uma parceria com a ONG Love.Fútbol, que cria espaços esportivos. “Construímos, junto com a comunidade, um campo de futebol society, que funciona como uma plataforma de transformação social, cumprindo nossa missão de promover educação, cidadania, os valores humanos e a cultura de paz”, diz Karina.
Há cerca de três anos, a Verda é uma empresa de educação que promove a aprendizagem por meio da resolução de problemas sociais. Na jornada, desenvolve competências como coletividade, empatia, trabalho em grupo, amor ao próximo, criatividade e iniciativa. Fez parte da primeira turma de incubados do Porto Social.
“Dentro do coworking, começamos a nos desenvolver, percebemos que não queríamos mais ser uma empresa de marketing e que iríamos causar um impacto maior se fôssemos uma empresa de educação”, conta Lud Valença, sócia da Verda, responsável pelo Planejamento e Gestão de Projetos e pelo Design de Experiências. A atuação no espaço facilita parcerias. Em uma delas, projetos sociais do coworking apresentaram suas realidades a estudantes de uma escola atendida pela empresa.