Gestão focada no socioemocional melhora o clima escolar e impacta equipes e estudantes
Vencedoras do prêmio “Gestão Inovadora na Educação”, redes de São Bernardo do Campo e Piracicaba, em São Paulo, destacam-se por ações de desenvolvimento socioemocional com o apoio da tecnologia
por Luciana Alvarez 12 de julho de 2024
Na escola, as crianças adquirem muito mais do que conhecimentos acadêmicos: elas aprendem a trabalhar com os outros, a lidar com o entorno e a conhecer as próprias emoções. Chamado de socioemocional, este tipo de aprendizado sempre vai existir no ambiente educativo, mas, quando é promovido com intencionalidade pedagógica, acaba trazendo resultados positivos para o desenvolvimento integral dos estudantes.
Ações focadas nestas habilidades, voltadas a estudantes e equipes escolares, renderam às secretarias de Educação de São Bernardo do Campo e Piracicaba, ambas no estado de São Paulo, o Prêmio “Gestão Inovadora na Educação”. Iniciativa da Mind Lab, metodologia de ensino que adota jogos de raciocínio para desenvolver habilidades cognitivas e socioemocionais em crianças e jovens, a ação tem apoio técnico do Porvir.
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Ambas as redes mostram que as tecnologias, plugadas e desplugadas, podem contribuir para o cuidado integral de quem faz o dia a dia da escola. É o que mostram, por exemplo, as salas de aprendizagem criativa da rede de São Bernardo do Campo. Nelas, ferramentas avançadas como computadores de última geração, impressoras 3D, cortadoras a laser e até dispositivos de realidade virtual dividem espaço com sucata e ferramentas de bricolage tradicionais, como chaves de fenda, furadeiras, alicates. Isso porque o foco não é ensinar sobre a tecnologia em si, mas sim aproveitá-la para melhorar a aprendizagem dos conteúdos curriculares e ampliar as habilidades socioemocionais.
Para Edeli Luglio, diretora da seção de tecnologias, o trabalho com as ferramentas tecnológicas proporciona uma clara melhoria na autoestima dos estudantes, mesmo em caso de quem tem desempenho mais baixo. “Tem crianças que são encaminhadas para a gente como ‘aquele que não aprende, não consegue’. Chegando lá (na sala de aprendizagem criativa), eles se tornam professores e ensinam os colegas, explicam as situações, porque é proporcionado um ambiente no qual podem se expressar da forma que eles conhecem”, conta ela que, por muitos anos, trabalhou diretamente com os alunos nas salas de tecnologia da rede.
E, claro, um ambiente voltado à criatividade não ajuda apenas aos que apresentam dificuldades, mas a todo o grupo que se interessa em expressar seus talentos e interesses. “Eles têm que dividir materiais e ideias, mas cada um consegue se colocar, falar. Com essa abordagem, as crianças aprendem de diferentes formas, mobilizam diferentes saberes, saem do tradicional, vão além do livro didático. É um espaço em que todos são atendidos nas suas individualiades”, diz Ana Maria Calhado, coordenadora pedagógica em São Bernardo do Campo.
Para que os alunos de fato aproveitem o aparato tecnológico, o envolvimento dos professores é essencial. Por isso, eles passam por formações mão na massa frequentes. E até as famílias acabam conhecendo e se engajando com o processo de aprendizagem criativa. “Tem sempre pai trazendo sucata eletrônica para desmonte, ou mesma algum material como placas de arduino que já não vai mais usar”, conta Sílvia Marques de Souza, professora de apoio a projetos pedagógicos, sobre a parceria de toda a comunidade em torno dos espaços.
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Programas específicos como MenteInovadora, da Mind Lab, visam o desenvolvimento das habilidades socioemocionais e de competências do século 21 que promovem a gestão emocional e contribuem para o aprendizado sobre gerenciamento das emoções.
Dentro deste contexto, o MenteInovadora, que é baseado em três pilares (jogos de raciocínio, métodos metacognitivos e professores-mediadores), ajuda a promover a educação socioemocional de uma maneira integral, e ainda se destaca ao trazer jogos que fortalecem competências como pensamento lógico, empatia, resiliência e cooperação, comenta Kátia Raquel Viana, diretora da seção de valorização do magistério.
“Os jogos de raciocínio estimulam a mente dos estudantes, ajudando-os a desenvolver habilidades de lógica, planejamento e tomada de decisões, enquanto as atividades focadas nas habilidades socioemocionais ajudam a criar um ambiente escolar mais harmonioso e inclusivo, onde cada aluno pode prosperar tanto academicamente quanto pessoalmente”, afirma.
Na cidade de Piracicaba, interior de São Paulo, que também adota o MenteInovadora, o esforço para criar um ambiente com mais harmonia e ampliar o número de alunos com boas competências socioemocionais incluiu a criação recente, em 2023, de um Naps (Núcleo de Apoio Psicossocial), composto por um grupo de psicólogos e assistentes sociais.
Os profissionais do Naps até respondem a problemas pontuais, dando o encaminhamento necessário, mas o foco do trabalho é mesmo coletivo, focado na saúde mental e boas relações. “Buscamos trabalhar com ações preventivas. Estamos fazendo dinâmicas para os 5ºs anos, sobre empatia e acolhimento. Isso porque são alunos que vão passar para a rede estadual no ano seguinte, no fundamental 2. Hoje, no fundamental 1, eles têm três professores no máximo, mas no 6º ano, chegam a ter 11. O novo modelo pode ser um choque: muda de escola, trocam os amigos, muda o formato”, cita Flavia Bortoletto, assistente social da rede de Piracicaba, sobre a transição dos anos iniciais para os anos finais do ensino fundamental.
Durante essas dinâmicas, às vezes é possível reconhecer problemas como bullying e outros conflitos em certas turmas e, a partir dessa observação, avançar com uma proposta mais específica para cada caso. “A gente que está de fora consegue identificar coisas que ainda o professor não conseguiu diante de todas as demandas que eles têm”, explica Flávia.
Outra ponta essencial para garantir o desenvolvimento socioemocional dos estudantes é garantir que as equipes estejam bem emocionalmente. “Além de olhar para o aluno, a gente olha para a equipe e até para as famílias. O esforço é melhorar a saúde mental para que eles estejam bem para oferecer um serviço de qualidade”, explica a psicóloga Caroline França. Segundo ela, os conflitos entre os profissionais são relativamente corriqueiros, mas com estratégias de facilitação de diálogo, as diferenças podem encontrar pontos em comum.