Professor de Projetos de Vida reúne músicos para ampliar o debate cultural em suas aulas - PORVIR
Crédito: Jovanmandic/iStock

Diário de Inovações

Professor de Projetos de Vida reúne músicos para ampliar o debate cultural em suas aulas

Encontros online com alunos de escola estadual em São Paulo contaram com presença de artistas nacionais e internacionais

por Felicce Fatarelli Fazzolari ilustração relógio 22 de novembro de 2021

Ser professor no Brasil sempre foi um desafio e, em 2021, nós tivemos que enfrentar (e ainda estamos enfrentando) outra adversidade ainda maior: a pandemia da Covid-19. Muitos perderam pessoas queridas e os seus empregos, outros tiveram que se reinventar. Ainda estamos em um cenário totalmente volátil e incerto.

A minha intenção neste “Diário de Inovações” é contar sobre uma prática educacional que deu certo, mesmo diante de tanta dificuldade. Fomos resilientes, aprendemos errando e acertando – um dos objetivos centrais quando pensamos no processo educativo.

Sou professor de História, Filosofia, Sociologia, além de pedagogo. Atualmente, sou mestrando em Educação, Arte e História da Cultura, pela Universidade Mackenzie, e leciono nas redes particular e pública do estado de São Paulo há 20 anos. Desde 2020, após concluir os cursos oferecidos pelo governo do estado, leciono as novas disciplinas que fazem parte dos itinerários formativos da BNCC (Base Nacional Comum Curricular), que são o conjunto de projetos, oficinas, núcleos de estudo – entre outras situações de trabalho – que os estudantes poderão escolher nos ensinos fundamental e médio.

As disciplinas são divididas em “Projetos de Vida”, “Tecnológicas” e “Eletivas” – esta última escolhida pelos estudantes, pois não faz parte do perfil curricular. Os cursos a distância voltados à BNCC me apoiaram tanto na atribuição das aulas quanto na formação docente.

É sempre prazeroso ensinar disciplinas integradoras. O ser humano é produtor de cultura e precisa conhecer diferentes expressões culturais. Precisamos entender a diversidade que existe em todo o mundo e, graças à formação, ao projeto, às tecnologias de informação e à autonomia da escola e dos docentes, esse entendimento se tornou possível.

Voltando ao ano de 2020, ensinei música como prática cultural para os alunos do ensino fundamental da Escola Estadual Adelino José D’Azevedo de maneira remota, apenas com o diálogo sobre teoria musical. Por isso, sentia que faltava algo: mesmo com toda a facilidade e diversidade de vídeos disponíveis no YouTube, não era possível o desenvolvimento da prática musical, de tocar e conhecer instrumentos.

Sabendo que as escolas manteriam o ensino remoto, repensei as minhas práticas pedagógicas para o ano de 2021 e decidi convidar músicos profissionais para trocarem experiências durante as nossas aulas, que ainda aconteciam a distância. Criei um projeto chamado “Interlocuções Musicais”, que tinha como prática a troca de conhecimentos não somente musicais, mas experiências de vida que só a música proporcionou para os convidados. A princípio, pensei em convidar apenas amigos que são músicos, ou que vivem com algo ligado à música, mas diante de tanta tecnologia e facilidades, decidi sair da minha zona de conforto.


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O projeto teve o seu início oficial no dia 10 de maio de 2021, às 15h, pelo Google Meet, com a participação de Raffa Machado, grande músico e amigo, que faz parte da banda Beatles 4Ever, a primeira banda brasileira cover dos Beatles. As aulas seguintes contaram com a presença de Don Castro, Felipe Malagutti, Felipe Machado (Viper), Evandro Mello, Clemente Tadeu (Inocentes e Plebe Rude), Lucas Rodrigues, Paula Tikami e Blaze Bayley, ex-vocalista da banda Iron Maiden, com tradução simultânea de Patrícia Almeida, amiga e professora de Inglês.

Todos foram atenciosos, simpáticos e responderam todas as perguntas feitas pelos alunos. Sonhos, profissionalismo, apoio familiar e, claro, como foi trabalhar durante a pandemia foram as questões levantadas pelos alunos. Os artistas compartilharam histórias sobre a música brasileira e mundial, acrescentando um rico repertório cultural à disciplina.

Acredito que a minha missão, enquanto educador, ainda não tenha sido cumprida; sei que tenho muito a fazer pela educação. Essa se faz em conjunto, com diferentes prismas e olhares, com vontade e respeito. O projeto aconteceu graças à autonomia pedagógica que me foi dada pela coordenação da escola e pelo apoio dos alunos, pais e responsáveis, amigos professores e incentivadores do meu trabalho.


Felicce Fatarelli Fazzolari

Graduado em História pela Universidade Guarulhos (2003), Filosofia pela Universidade Camilo Castelo Branco (2007) , pós-graduado em Sociologia pela Escola de Formação e Aperfeiçoamento de Professores do Estado de São Paulo Paulo Renato Costa Souza (2012), Pedagogia pela FALC (Faculdade Aldeia de Carapicuíba) e Mestrando pela Universidade Presbiteriana Mackenzie no Centro de Educação, Filosofia e Teologia, no Programa de Educação, Arte e História da Cultura. Fui professor coordenador do Ensino Fundamental e Médio da Rede Estadual de São Paulo. Hoje, atuo como professor de História, Filosofia, Sociologia, Disciplinas Eletivas, Tecnológicas e Projeto de Vida para os ensinos fundamental, médio e Educação de Jovens e Adultos (EJA).

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base nacional comum curricular, música, projeto de vida

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