Professora apresenta atletismo a estudantes do Fundamental 1 com materiais acessíveis
Para proporcionar experiências em diferentes modalidades às crianças, professora desenvolve circuito com blocos de madeira, barreiras feitas com cano de PVC e vara de bambu para salto em altura
por Mariana Silva Barros 4 de agosto de 2021
Em 2018, ao iniciar as atividades com turmas dos anos iniciais na Escola Municipal de Ensino Fundamental Mariana Leão Dias, situada em um bairro considerado de vulnerabilidade socioeconômica na região norte, no município de Tucuruí (PA), propus o projeto “Democratizar o Ensino do Atletismo na Escola: procedimentos alternativos para sua aplicabilidade”. O objetivo era garantir tais práticas nas aulas de educação física e vencer as dificuldades presentes.
O atletismo foi a modalidade escolhida por ser adaptável ao espaço que possuía: um pátio e um campo ao lado do prédio da escola, expostos à chuva, ao sol e ao clima quente e úmido característicos da região norte (neste período, a quadra estava com obras paralisadas).
Além disso, os fundamentos básicos da modalidade são compostos por movimentos parecidos com aqueles que são naturais do ser humano, facilitando a aplicabilidade a todos os alunos. Pedagogicamente, os alunos dos anos iniciais do ensino fundamental necessitam de um trabalho individual baseado em atividades que explorem suas habilidades motoras, afetivas e sociais, que mais se aproxima de suas necessidades de aprendizagem e de desenvolvimento integral.
Tudo foi pensado para assegurar aos alunos um conjunto de vivências motoras desafiadoras, de forma lúdica e motivadora, e também despertar o gosto pela prática de atividades físicas. Outro aspecto importante foi proporcionar a interação social, respeito e oportunidades por meio da inclusão de alunos com deficiência e melhorar a autoestima, autoconfiança e a descoberta de novas vivências na modalidade.
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Antes de iniciar o projeto, foi realizada uma roda de conversa sobre o atletismo e seus principais atletas olímpicos, como Thiago Braz, do salto com vara (ouro na Rio-2016 e bronze em Tóquio-2020), Maurren Maggi (ouro em Pequim-2008, no salto em distância) e Joaquim Cruz (ouro nos 800 metros em Los Angeles-1984 e prata em Seul-1988).
Desenvolvimento
O trabalho foi desenvolvido nas aulas de educação física a partir do segundo mês do primeiro bimestre do ano letivo de 2018. Comecei com a busca pelos recursos alternativos para a construção dos materiais pedagógicos necessários às aulas de atletismo.
Colegas contribuíram com minha proposta, tanto na aplicabilidade como na confecção dos materiais pedagógicos, como blocos de partidas de madeira, barreiras de cano de PVC, vara de bambu para salto, cabo de vassoura para os bastões na corrida com revezamento, pneus, compensados e colchonetes para queda dos alunos no salto em altura, com um sarrafo sendo substituído por corda elástica.
O projeto contemplou as turmas de toda a escola. Para o 1º e 2º ano foi aplicado somente corridas de velocidade e com barreiras. Do 3º ao 5º ano, onde já há um interesse por modalidades desportivas, foram também aplicados saltos, arremessos e lançamentos.
As turmas eram bem diversificadas, com meninas e meninos de diversas estruturas físicas, cadeirantes, autistas e outros com dificuldades motoras e outras deficiências. Tudo era feito de forma espontânea e a participação foi esplêndida, pois o atletismo, mesmo sendo um esporte individual, é interessante e desafiador, uma vez que cada aluno se motiva a superar suas marcas e vencer suas limitações.
A cada semana de atividades, grandes talentos eram revelados, marcas superadas e a satisfação e o orgulho das conquistas também eram igualmente visíveis, como fica claro nos depoimentos: A1 “Adorei o atletismo, me sinto o corredor”; A2 “Muito legal fazer salto com vara”; A3 “Quero fazer todo dia”; A4 “Pensei que o atletismo era só correr”. Quando a aula acabava, a maioria queria continuar as atividades e os 45 minutos de cada aula se tornaram muito curtos para eles.
A autoestima, autoconfiança, integração e as novas vivências na modalidade tornaram os alunos motivados e a ação foi aprovada pela comunidade escolar. Como evento de culminância, foi realizado durante um sábado letivo o I Circuito de Atletismo da escola, que contou com alunos de 3º, 4º e 5º anos divididos por faixa etária, nas categorias masculino e feminino. A elaboração do evento foi um sucesso, pois os alunos puderam pôr em prática todo o conhecimento adquirido e receberam premiação pelo empenho.
Resultado
Para acompanhar o progresso dos alunos, o critério de avaliação era oferecer a vivência da prática do atletismo de forma participativa e interativa. Isso possibilitou uma avaliação formativa através da orientação e regulação das dificuldades para ajudá-los no avanço de sua aprendizagem.
O projeto permitiu aos alunos do ensino fundamental séries iniciais conhecerem os conteúdos do atletismo de forma mais específica, pois para muitos era apenas correr e saltar.
A solidariedade com colegas com necessidades educacionais especiais durante as atividades é um valor essencial para se tornarem cidadãos críticos e tolerantes, e o estímulo à competição resultou na vontade de vencer e o gosto pela prática de exercícios.
* Este projeto foi selecionado pelo Prêmio Professor Transformador e hoje integra do banco de práticas do Instituto Significare
Mariana Silva Barros
Licenciada e bacharel em Educação Física, mestra em Organizações Educativas, especialista em Pedagogia do Movimento Humano, Administração Escolar e Gestão Pública. Docente da Rede Estadual (SEDUC-PA), vencedora do 11° Prêmio Professores do Brasil 2018, na categoria Aprendizagem através do Esporte. Atualmente é secretária Municipal de Juventude e Esporte de Tucuruí (PA).