Professora do fundamental cria atividade para aproximar alunos do território - PORVIR
Crédito: rawpixel.com/Freepik

Diário de Inovações

Professora do fundamental cria atividade para aproximar alunos do território

A fim de valorizar a cultura local e criar sensação de pertencimento ao território, educadora trabalha representação cartográfica com estudantes do 3º ano do fundamental

por Karina Trotta ilustração relógio 14 de julho de 2022

Sou moradora de Pedra de Guaratiba, zona oeste do Rio de Janeiro (RJ), há mais de 25 anos. Tenho o privilégio de ser educadora da rede pública municipal e atuar em minha comunidade. Como moradora e educadora, sempre busco valorizar a cultura local em minhas aulas. No início do ano, percebi que os meus alunos do 3º ano do ensino fundamental conheciam muito pouco a história do bairro: transitam pouco, ficando restritos ao trajeto casa-escola-casa. Quando questionados onde moravam, muitos respondiam que moravam no beco ao lado do bar do Sr. Fulano, na rua do mercado X, etc.

Em uma atividade de representação cartográfica proposta pela Apostila Rioeduca, identifiquei a oportunidade de explorarmos o bairro, apresentar a importância do endereço completo, dos pontos de referência e, principalmente, de estimular o sentimento de pertencimento. Desenvolvi uma atividade composta de três etapas: registro de endereço, localização da residência no Google Maps e representação cartográfica.

Na primeira, registro do endereço, cada aluno trouxe no caderno, com a ajuda da família, seu endereço completo. Nesta atividade, pudemos explorar os conceitos de bairro, rua, número, complemento e CEP. Em que situações utilizamos nosso endereço? Qual a importância de sabermos nosso endereço completo?

Na aula seguinte, localização da residência, eu pude exibir a quadra onde nossa escola (Escola Municipal Rivadávia Manoel Pinto) está localizada via Google Maps e depois apresentei as imagens via street view (modo visualização da rua). Exploramos os pontos de referência da rua da escola. Em seguida, mostrei a localização da minha residência e apresentei os pontos de referência. Os alunos leram os seus endereços (ajudei sempre que necessário) e buscamos localizá-los na internet. Clique na primeira imagem para visualizar algumas fotos dos alunos.

Uma primeira constatação foi que os estudantes que não trouxeram seus endereços não conseguiram localizar suas casas. Eles tiveram a oportunidade de trazer a informação completa na aula seguinte. 

Essa atividade foi um verdadeiro sucesso! Todos conseguiram participar e não foi necessário grandes adaptações para os alunos incluídos. Todos conseguiram localizar suas casas quando já estavam em suas ruas. Identificamos problemas do bairro como lixo, ausência de asfalto, saneamento básico e espaços de lazer, etc e debatemos sobre eles durante a atividade. E,  sempre que possível, retomamos estas questões.

Em seguida, os estudantes foram fotografados localizando suas casas na tela projetada. Eu digitava o nome da rua no Google Maps e eles iam me guiando: pra frente, pra trás, ao lado do mercado… Quando eles localizavam as casas era uma felicidade! Ficaram extremamente orgulhosos de apresentarem seus lares e perguntavam se eu achava a casa bonita. Muitos contavam que foram seus pais e avós que as construíram. Eles gostaram bastante de descobrir onde a professora mora e de saber que agora eu sei onde eles moram. Abaixo, alguns dos desenhos criados:

Quando havia mais de um estudante na mesma rua também era um fato que despertava muita curiosidade para os restante da turma. Os alunos vizinhos ajudavam uns aos outros na localização. Algumas casas não puderam ser encontradas, pois as ruas são muito estreitas e provavelmente ainda não foram fotografadas pelo Google.

A terceira e última etapa foi a de elaboração do mapa de suas ruas, destacando os principais pontos de referência. Após a conclusão desta atividade, construímos cartazes com as produções.

Muitos conhecimentos puderam ser construídos por meio destas atividades, mas certamente quem mais aprendeu fui eu. Foi uma grande oportunidade de conhecer mais sobre a realidade dos meus alunos. Passei a entender melhor por que alguns faltam tanto nos dias de chuva, pois as ruas alagam, entre tantas outras coisas, e eu desconhecia essa realidade dentro do meu bairro. Com a atividade, entendi melhor a região. Pretendo repeti-la com todas as minhas próximas turmas logo no início do ano letivo.

O que você precisa para replicar este projeto

Projetor, acesso à internet, caderno, folhas brancas, lápis de cor e canetinhas. O professor precisa estar sensível às oportunidades. Foi uma atividade da apostila que poderia ter passado batida, mas vi grande potencial e quis aprofundar.


Karina Trotta

Pedagoga pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), com especialização em Supervisão Educacional e Educação Corporativa. É educadora há 20 anos, com atuação na rede privada de ensino e em projetos sociais do terceiro setor. No ano passado, no período de volta às aulas pós-pandemia, ingressou no município do Rio de Janeiro para assumir o cargo de professora regente das séries iniciais do ensino fundamental.

TAGS

competências para o século 21, ensino fundamental, tecnologia

Cadastre-se para receber notificações
Tipo de notificação
guest

28 Comentários
Mais antigos
Mais recentes Mais votados
Comentários dentro do conteúdo
Ver todos comentários
Canal do Porvir no WhatsApp: notícias sobre educação e inovação sempre ao seu alcanceInscreva-se
28
0
É a sua vez de comentar!x