Professora prepara alunos de licenciatura para uma nova abordagem do ensino de matemática - PORVIR
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Professora prepara alunos de licenciatura para uma nova abordagem do ensino de matemática

Usando conceitos de Mentalidades Matemáticas, professora tenta incentivar os futuros professores de matemática a um ensino diferente.

Parceria com Mentalidades Matemáticas

por Elisa Fonseca Sena e Silva ilustração relógio 10 de agosto de 2021

Eu sempre fui muito ligada à matemática. Fiz bacharelado em matemática, mestrado em matemática, tinha muita matemática na minha cabeça. Porém, não havia muito de educação e eu fiquei pensando sobre como poderia ajudar meus estudantes, futuros professores de matemática, a ter uma prática de ensino melhor.

Desde 2011, trabalho no Instituto de Matemática da UFAL (Universidade Federal de Alagoas), onde leciono tanto disciplinas de cálculo quanto de ensino da matemática, para as quais tenho me dedicado mais nos últimos anos. Na busca por trazer mais conhecimentos de ensino de matemática para a minha formação bacharelesca, fiz um doutorado em educação e, há aproximadamente cinco anos, me dedico mais ao curso licenciatura.

Ano passado, me deparei com uma reportagem que falava a respeito de Jo Boaler, a pesquisadora que estruturou os conceitos de mentalidades matemáticas. Anotei o nome dela, o título do livro e pensei “acho que eu devo ler esse livro em breve”. Em um segundo momento, participando de uma banca de um Trabalho de Conclusão de Curso, um estudante trouxe essa referência e eu fiquei com aquilo na cabeça.

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Comprei o livro, comecei a ler e não consegui parar. É uma leitura muito gostosa de se fazer, a forma com que os conceitos são apresentados faz a gente ficar com brilho nos olhos.

Quando li o livro, estava lecionando sobre metodologias de ensino. E como a gente só aprende fazendo, resolvi abordar com essa turma alguns dos conceitos de mentalidades matemáticas. A partir da leitura do livro, pesquisei outras fontes e encontrei os webinários da rede Mentalidades Matemáticas e o site YouCubed, que me ajudaram a ampliar o que conhecia para levar à sala de aula.

Eu trabalho majoritariamente com estudantes das últimas etapas da graduação e, como eles serão professores de matemática, tento ensinar como usar os conceitos ao mesmo tempo em que aplico atividades para que eles vejam a teoria na prática. A minha intenção é ensinar uma maneira diferente de eles apresentarem a matemática aos seus futuros estudantes.

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Cito aqui um exemplo prático do uso das mentalidades em sala de aula: gosto muito de trabalhar a questão da flexibilidade numérica. Podemos fazer isso perguntando de que forma as pessoas calculam, por exemplo, 18×5, e cada um vai dando suas opções. É um exemplo clássico do livro da Jo Boaler. Os estudantes participam bastante e eu insisto que o foco não é a resposta, mas a maneira como eles fizeram o cálculo. Eles vão falando e vou colocando na lousa digital. Percebo que eles acham muito bacana, gostam de ver a forma com que os outros colegas pensaram.

Como trabalho formas de ensinar matemática, na sequência falo com eles o porquê de ter usado aquele exemplo e quais habilidades estão sendo trabalhadas.

Gosto de reforçar que pensar profundamente a matemática é o foco, não estamos estudando para ser uma calculadora. E as mentalidades ajudam nesse processo.

Aceitação dos estudantes
Desde que comecei a abordar a teoria das Mentalidades Matemáticas, percebi que os estudantes gostaram muito, principalmente quando se fala sobre o erro e como isso faz parte do aprendizado. Quando trazemos descobertas da neurociência que mostram como o cérebro funciona, que está tudo bem errar e ser devagar para resolver as coisas, isso de certa forma nos ajuda a quebrar algumas barreiras até nos estudantes universitários.

Muitos relataram sobre suas dificuldades, porque o curso às vezes é pesado. É muito comum ouvir dos estudantes sobre como desenvolveram problemas de autoestima devido às avaliações, então explicar que o erro faz parte da aprendizagem contribui para que entendam que não tem nada de errado com eles, o que tem sido muito produtivo. Se eles se divertem na aula, consequentemente os alunos deles vão se divertir. Sempre falo que a gente não precisa repetir com os nossos estudantes as experiências ruins que tivemos, podemos correr atrás e procurar fazer diferente.

Mesmo que ainda exista um pouco de resistência à educação matemática, o que tenho percebido nos últimos anos é que os licenciandos estão mais abertos e querem saber mais sobre o assunto.

O fato de trazermos resultados de pesquisa, de neurociência, contribui para uma sensibilidade maior e para que eles sejam menos céticos.

As principais mudanças que percebo na turma estão relacionadas às atitudes, e não necessariamente ao planejamento de aula. Eles ficam mais tranquilos para falar o que querem e o que estão pensando, porque já compreendem que se trata de um espaço onde podem errar.

Abordo também a questão da avaliação, que é focar mais na  aprendizagem e menos para nota. Uma estudante, por exemplo, tinha uma tarefa que era ler e escrever um texto e, como estava com muita demanda, optou por ler o texto e não fazer a atividade, por entender que a leitura era para ela, para seu aprendizado, e a entrega do trabalho era para nota. Isso pode parecer pouca coisa, mas faz muita diferença principalmente neste período de ensino remoto, em que os estudantes estão sobrecarregados.

O erro para os docentes
Todo esse processo mostra que entender a questão do erro também é algo que cabe a nós professoras e professores. Se estamos errando, estamos aprendendo, e isso precisa ser levado para a sala de aula. Muitas vezes, o professor tem receio de ‘perder o controle’ da turma. A gente gosta de ir com tudo muito ‘amarrado’ e a teoria das mentalidades é mais livre, o que é lindo. Ela permite que a gente veja o quanto os estudantes são criativos.

Construir uma comunidade que esteja engajada em tentar formas diferentes de ensinar também é essencial para que tenhamos mais segurança de levar a teoria das mentalidades para sala de aula. Por isso, iniciei uma célula da rede de mentalidades matemáticas aqui em Alagoas há dois meses e tem sido muito bom ter a possibilidade de compartilhar as experiências com outros docentes.

⭐  Para baixar: Infográfico – Todos podem aprender matemática

A minha intenção agora é pesquisar ainda mais, me enveredar por esse campo da neurociência e das mentalidades matemáticas para desenvolver mais projetos e divulgar essa teoria. No momento, eu e outro colega de universidade estamos escrevendo um e-book sobre as práticas de mentalidades e alguns orientandos vão fazer relatos de experiências sobre as mentalidades em eventos. Quanto mais pessoas tiverem acesso a essa teoria, mais estudantes se sentirão potentes e capazes, vendo como a matemática é linda, visual e criativa.

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Mentalidades Matemáticas

Elisa Fonseca Sena e Silva

Professora do Instituto de Matemática da Universidade Federal de Alagoas desde 2011. Bacharel e Mestre em Matemática pela UFMG, Doutora em Educação pela UFAL. Trabalha principalmente na Licenciatura em matemática, com foco em disciplinas de ensino de matemática. Atua em projetos de extensão e de pesquisa focados em educação matemática, formação de professores e metodologias de ensino. Para alcançar mais pessoas, recentemente também criou um perfil do Instagram, @profelisasena, para conversar sobre como a matemática é linda e como podemos ensiná-la de formas diferentes.

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autonomia, avaliação, competências para o século 21

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