Professora muda estratégia para aproximar meninas da matemática - PORVIR
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Diário de Inovações

Professora muda estratégia para aproximar meninas da matemática

Buscando trabalhar a equidade, a professora Susy Nagaki tenta aproximar as meninas das aulas de matemática

Parceria com Mentalidades Matemáticas

por Susy Nagaki ilustração relógio 19 de maio de 2021

Durante minha vida profissional fui professora generalista e, esse ano, recebi um super desafio: trabalhar com a abordagem Mentalidades Matemáticas, no Instituto Sidarta. Sempre gostei muito de matemática e ciências naturais, mas de repente percebi que ela tem relação com tudo.

Para esse novo desafio, comecei a estudar e me aprofundar no tema, não só em relação à matemática, que é o nosso foco, como também nos estudos relacionados à  equidade que temos por aqui, com base nas pesquisas de Rachel Lotan.

Meu objetivo desde então tem sido: ensinar uma matemática mais aberta, criativa e visual. Por meio dessa abordagem as crianças são protagonistas no seu processo de aprendizagem, pois descobrem que a matemática é uma forma de se relacionar com mundo, ou seja, é muito mais que normas, procedimentos, fórmulas e respostas certas.

É necessário que a matemática faça sentido. Como é difícil estudar e trabalhar algo que não tem ideias conectadas, não é? No meu dia a dia, proponho para as pessoas ao meu redor que também tenham essa visão, de que tudo está conectado e relacionado.

Aqui na escola sabemos, por meio dos estudos da neurociência, que todos são capazes de aprender em altos níveis e que o erro faz parte do processo. E assim estamos colhendo bons resultados.

Confira o infográfico Todos podem aprender matemática

Um dos pontos que trabalhamos é a mudança de perspectiva em relação ao erro, e os alunos já o entendem como parte do processo de aprendizagem. Quando o aluno se sente em um ambiente seguro de aprendizagem, entende que errar faz parte da aprendizagem e é possível ver o avanço através do desafio e esforço.

Geralmente as crianças relacionam a matemática com números, e passam a dizer “Ah, você é professora de matemática? Então faça uma conta!”. E começam a querer fazer esse tipo de desafio. Mas matemática está em todo lugar, não somente nos cálculos. “É a ciência  dos padrões”

Esse ano, por exemplo, tenho trabalhado com as crianças na busca e reconhecimento de  padrões, dentro ou fora da escola, no caminho para casa, no espaço escolar, etc. Os meninos ficaram um pouco incomodados no começo, porque queriam cálculos difíceis para resolver. E eu falava: “será que matemática é só isso que vocês esperam?”. Nesta tentativa de fazê-los enxergar a matemática de um jeito diferente, fiz uma atividade para que buscassem ver a matemática no cotidiano.

Na busca por equidade, vi que, desde o início da minha atuação como professora, poucas meninas se arriscavam, e que geralmente os meninos se desafiavam mais a  fazer as atividades de conta, por exemplo.

Tendo observado isso, organizamos uma estratégia. Primeiramente,  aplicamos um questionário para saber como as crianças, meninos e meninas, se sentiam em relação à matemática. Após analisar as respostas, perguntei às meninas que diziam não gostar de matemática quais eram os motivos para isso. Elas responderam que era  porque alguns conteúdos não faziam sentido para elas.

Busquei, então, no dia a dia, usar diferentes abordagens para  trazer as meninas para a matemática, fortalecendo-as e mostrando que são capazes. Faço isso incentivando que elas participem e apresentem  suas ideias, mostrando que a contribuição delas é relevante. Quando se sentem potentes, elas se enxergam como recursos para os colegas. Antes, era comum realizar alguma atividade e perceber apenas os meninos tomando a frente para responder, agora há participação de todos nas aulas.

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Quando uma aluna falou para mim que era ruim na matemática, eu disse “Eu sei que é difícil, mas vamos tentar?”. Quando essa mesma aluna viu que conseguia fazer atividades mais desafiadoras, virou uma chavinha na mente dela e agora está se arriscando mais. Quando o professor faz elogios sobre o que eles aprenderam e sobre a dedicação, os alunos se sentem mais motivados a experimentar atividades diferentes.

Uma vez estava na hora do almoço e uma aluna chegou para mim e disse “Olha, relógio também é matemática né? A quantidade de comida também. O prato também é uma forma geométrica que é matemática. Puxa, tudo é matemática!”.

É incrível poder ver essa coleção de evidências das crianças vendo a matemática fora da sala de aula. Elas têm demonstrado mais interesse porque agora a matemática está fazendo mais sentido. Uma aluna que antes dizia não gostar  da disciplina e que não se sentia boa, passou a me dizer que espera a minha aula durante a semana, porque é a que ela mais gosta.

Confesso que eu também passei pelo mesmo processo. Fazer essas conexões entre matemática e outras áreas é uma porta que se abriu . Ofertar atividades de piso baixo e teto alto, por meio da qual as crianças conseguem começar a atividade com ideias bem simples, como observar padrões e vão complexificando suas ideias, sem limites de onde podem chegar,  tem sido muito enriquecedor. Esse tipo de atividade estimula a troca entre as crianças e assim há um maior engajamento entre os alunos. De repente, começamos a perceber que a participação e contribuição aumentaram sucessivamente.

A angústia do professor de educação infantil e ensino fundamental é ter a obrigação de saber de todas as áreas do conhecimento. Na pedagogia, não aprendemos a pensar profundamente em uma área específica. E ao longo da vida, enquanto somos estudantes, não somos ensinados a ver a matemática de uma perspectiva tão abrangente.

Essa mudança de mentalidade me fez perceber o quão importante é que crianças, não somente na escola onde trabalho, mas em todo o país, tenham acesso a maneiras mais disruptivas de ensino e aprendizagem da matemática.

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Mentalidades Matemáticas

Susy Nagaki

Formada em pedagogia pela FMU (Faculdades Metropolitanas Unidas) com especialização em neurociência aplicada à educação e alfabetização. Professora de matemática dos anos iniciais do fundamental 1 do Colégio Sidarta.

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