Professores YouTubers ensinam a criar videoaula de sucesso - PORVIR
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Como Inovar

Professores YouTubers ensinam a criar videoaula de sucesso

Os fundadores de três grandes canais educacionais no Youtube contam como produzir conteúdo e ter uma sala de aula global

por Maria Victória Oliveira ilustração relógio 11 de fevereiro de 2016

“O futuro está na internet”. A ideia já estava na cabeça de Rafael Procopio em 2010, mas foi só em 2015 que o professor de matemática contrariou conselhos da família e amigos e fez o que poucos pensavam: parou de ensinar em escolas para dar aula na internet. Apesar de ser desencorajado a abandonar o cargo no setor público de ensino do Rio de Janeiro (RJ), hoje ele conta com cerca de 244 mil inscritos no seu canal do YouTube, o Matemática Rio.

Além de Procopio, Paulo Valim, de Inhumas (GO), e Ivys Urquiza, de Maceió (AL), também compartilharam suas histórias de sucesso e números de fazer inveja a canais de humor durante a nona edição da Campus Party Brasil, evento de tecnologia e empreendedorismo que aconteceu no Anhembi, em São Paulo, entre os dias 26 e 30 de janeiro. Valim comanda o canal Química em Ação, com 181 mil inscritos e Urquiza está à frente do Física Total, com 158 mil inscritos.

Apesar de hoje conseguirem dar tratamento profissional aos vídeos, a experiência com aulas virtuais começou de forma bastante simples. Procopio diz que sua história é comum a de muitos outros professores Youtubers: no início, até por falta de conhecimento, não havia preocupação com o lado técnico, que envolve som e imagem. “Em 2010, eu comecei a gravar meus vídeos em casa, com a minha camerazinha, sem preocupação com qualidade, iluminação, nada disso. Eu só pegava a câmera e gravava”, explica o professor. Segundo ele, a experiência com vídeos (e a confiança para deixar a sala de aula) veio com o tempo. “Muita gente pergunta pra mim como começar a fazer os vídeos, e eu respondo ‘é só começar. Se você não tem conhecimento técnico, com o tempo você aprende’”.

Para o professor Ivys Urquiza, os vídeos são atrativos porque facilitam a vida do estudante. “No meu blog, vários estudantes gostavam dos meus textos, mas diziam que eu escrevia demais. Muitos pediam um ‘videozinho’, alegando que ficaria mais fácil de acompanhar. O vídeo requer menos esforço. Hoje, não tem como escapar. Todos os sites têm apoio visual porque todo mundo corre para o vídeo”. À frente do canal Física Total, criado em 2013, ele avalia que o formato tem melhorado durante os últimos dois anos e explica que, atualmente, o maior problema está em lidar com a grande oferta de conteúdo. Como garantir que os alunos estão recebendo informações de qualidade? Para solucionar a questão,  o Youtube e a Fundação Lemann criaram YouTube Edu, espaço que seleciona os melhores vídeos produzidos por professores.

Quando comecei a dar aula em escolas, passava por 300 alunos em um ano. Hoje, minha sala de aula é o mundo

“O YouTube Edu surgiu da necessidade de fazer uma curadoria. O projeto não se preocupa com a maneira que você ensina. Há várias formas de ensinar, e cada pessoa tem a sua maneira de aprender. A ideia é garantir que o conteúdo que os alunos recebem esteja conceitualmente correto”, explica Paulo Valim. Segundo ele, vários alunos que vão prestar vestibular se dedicam aos estudos exclusivamente a partir dos vídeos. “Quando comecei a dar aula em escolas, passava por 300 alunos em um ano. Hoje, minha sala de aula é o mundo. Nós recebemos histórias muito bacanas, de gente que pega balsa para depois de duas, três horas chegar em um lugar que tem internet pra assistir um vídeo seu”.

Assim como outros vídeos postados na plataforma, a arrecadação gerada pelos conteúdos educacionais é feita pela compra e venda de anúncios. Urquiza explica que funciona como um leilão: o dono do canal vira parceiro do YouTube e, como empresa, o YouTube vende propaganda para outras empresas. Essas, por sua vez, fazem exigências sobre os canais nos quais querem anunciar. Por exemplo: uma empresa exige um canal de ciências com muita visibilidade para anunciar seu produto ou serviço. Para isso, paga um valor para cada mil visualizações e compra um milhão de visualizações. “O dono do canal ganha 55% do valor bruto das exibições. Só que é preciso que o comercial passe por pelo menos 30 segundos. Se a pessoa que tiver assistindo der o skip depois de cinco segundos (pular o comercial), você não ganha nada”.

Como começar?

Em entrevista ao Porvir, o professor Rafael Procopio separou algumas dicas que o ajudaram a fazer a transição do mundo físico para o virtual. “A dica é começar a produzir. Não adianta querer entrar na internet sem nunca ter produzido nada”.

Segundo ele, no começo de seu canal, o Matemática Rio, seus conhecimentos limitavam-se a “pouca coisa de Photoshop [programa de edição de fotos] e pouca coisa de PowerPoint [para apresentações]”. Com o passar do tempo e o número de vídeos produzidos crescendo, Procopio conheceu novas ferramentas que ajudaram na filmagem, como a mesa digitalizadora e conhecimentos mais profundos em tratamento de imagens.

Apesar de toda a disciplina exigida, ele diz ser possível conciliar o trabalho na sala de aula e na internet. “No ano passado, eu trabalhava só de manhã e de tarde ficava na escola fazendo vídeo com os alunos. Nós fazíamos vídeo de comédia e história da matemática, como se o matemático fosse uma criança. Era muito interessante. Eles se engajavam muito mais e as notas melhoravam”.

Desde aquela época, segundo conta Procopio, muitos alunos afirmavam gostar mais do vídeo que do professor presencialmente. “Eu acho que a nova geração tá nessa. É a geração do vídeo”.

Confira cinco dicas para um professor que está começando no YouTube, de Rafael Procopio:

1. Comece com o que você já tem: “Não adianta querer entrar na internet sem nunca ter produzido nada. O primeiro passo é produzir, publicar o conteúdo, ver se vai dar certo e se é isso mesmo o que você quer”.

2. Preocupe-se com o áudio: “O áudio é muito importante. Você nem precisa comprar um microfone. Eu comecei com o que eu tinha em casa, que é o headphone do celular. Se você colocar perto da boca, funciona como um microfone de lapela. Então, começa gastando literalmente zero”.

3. Faça um roteiro: “Não adianta querer preparar o aluno para o Enem e não saber o que é cobrado. O nome é Exame Nacional do Ensino Médio. Então o professor dá um curso completo do ensino médio, mas o exame cobra mais conteúdo do ensino fundamental [na área de matemática]. É preciso montar um roteiro baseado naquilo que você quer ensinar – e isso não só pra matemática, como também para qualquer outra disciplina”.

4. Invista em equipamentos: “Com o passar do tempo, se for isso o que você quer fazer de verdade, comece a investir em equipamento. Compre um câmera legal e um bom microfone. Quanto mais profissional for o canal, mais gente vai se interessar em assistir. Hoje em dia, a concorrência está muito grande, os canais estão cada vez mais profissionais. Conforme o seu material vai melhorando, o número de seguidores também aumenta”.

5. Divulgue, divulgue, divulgue: “Divulgue ao máximo o seu conteúdo, seja por Facebook ou Instagram. Você precisa arrumar uma maneira de divulgá-lo para que as pessoas conheçam e saibam que você está fazendo o seu trabalho”.

 Como fazer parte do YouTube Edu

Para fazer parte do YouTube Edu, é necessário ter um canal com, no mínimo, dez vídeos e preencher um formulário. Depois disso, seu canal será submetido a uma avaliação que leva em conta diversos fatores, como a qualidade pedagógica do conteúdo e a frequência de postagens. Para facilitar todo esse processo de submissão do canal, nesse link é possível encontrar um tutorial, explicando passo a passo o que os professores interessados devem fazer.

Uma outra maneira para entender todo o processo é assistir à websérie produzida pelos professores Rafael, Paulo, Ivys e Nerckie (do canal Vestibulandia). O material teve origem em um curso de formação oferecido na sede do Google, em São Paulo, e conta com todos os passos a serem seguidos: como abrir um canal, como gravar vídeos, como publicá-los.

Assista:

Para ver os demais vídeos da série, clique nos links abaixo:

Episódio 2 

Episódio 3 

 


TAGS

educação online, ensino médio, ensino superior, tecnologia, vestibular, videoaulas

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