Programa federal estimula criação de app de educação
Celulares sairão da fábrica com aplicativos nacionais instalados ou pré-instalados; na Apple, 24% deles serão educativos
por Davi Lira 11 de outubro de 2013
A partir de agora, todos os smartphones produzidos no país deverão sair da fábrica com um pacote de pelo menos cinco aplicativos nacionais instalados ou pré-instalados no equipamento. Isso porque as multinacionais que produzem esses celulares inteligentes no país (Apple, Huawei, Motorola, LG, Positivo, Samsung e Sony) resolveram participar do Programa de Inclusão Digital, uma ação do governo federal que vai conceder isenção de impostos a aparelhos que custam até R$ 1.500. Como contrapartida à isenção tributária, o governo exige a inclusão de apps nacionais como forma de impulsionar a indústria brasileira. Espera-se que o preço final dos smartphones caia 7%, segundo o setor.
A medida foi bem recebida por desenvolvedores, já que, com a inclusão ou recomendação prévia dos aplicativos durante a instalação inicial do celular, as soluções criadas pelas startups chegará a mais gente. Para as empresas de edtech – tecnologia e educação –, a notícia foi ainda mais animadora. Ao considerar a cesta de aplicativos a ser inserida no pacote, a educação não deve ficar de fora. Ao analisar a proposta de aplicativos sugerida pela Apple e aprovada pelo governo, por exemplo, constata-se que dos 21 apps apresentados pela empresa (um número bem superior ao exigido pela norma do programa), cinco (ou 24%) são educativos. São eles: HandTalk, EnemQuiz, Concursos, Turma da Galinha Pintadinha e Bookishelf do Doki. Os demais são aplicativos utilitários de trânsito, finanças e lazer.
“Hoje quando a gente entra numa loja dessas de aplicativos [AppStore, GooglePlay, dentre outras], raramente aparecem opções nacionais [para serem baixadas]. Quando muito, há sistemas [aplicativos] desenvolvidos no exterior e traduzidos para o português”, afirma, em nota, José Gontijo, diretor de Indústria, Ciência e Tecnologia do MiniCom (Ministério das Comunicações). Gontijo ainda prevê que os pequenos desenvolvedores de apps estarão entre os mais beneficiados com a isenção de tributos federais. “Os fabricantes deverão promover concursos e eventos para selecionar aplicativos, o que, naturalmente, fomentará o setor. Além disso, a indústria deverá abrir um canal para receber propostas do pequeno desenvolvedor.”
Foi exatamente com a abertura desse canal entre a fabricante e os desenvolvedores de apps que a startup alagoana HandTalk conseguiu entrar nessa primeira cesta de aplicativos selecionadas pela Apple. O HandTalk – vencedor do prêmio WSA-Mobile, promovido pela ONU –, é um aplicativo para tablets e celulares que traduz, em tempo real, qualquer palavra ou frase, em português, para Libras (Língua Brasileira de Sinais). Para Ronaldo Tenório, CEO da empresa, a escolha da Apple pelo aplicativo o surpreendeu. “Havíamos sido contatados anteriormente pela empresa, mas eles não nos haviam comunicado oficialmente sobre a escolha. Descobrimos apenas ontem, via portaria do Ministério das Comunicações, que a gente havia entrado no pacote deles. Recebemos a notícia com muita alegria”, fala Tenório.
A satisfação do jovem desenvolvedor, de 27 anos, é tamanha que pode até ser medida em números. “Ainda não sabemos, por exemplo, quantos celulares a Apple produz no Brasil. Mas a nossa expectativa é que, a partir da medida, a nossa meta de alcançarmos 100 mil usuários até o final do ano seja alcançada sem grandes dificuldades”, afirma Tenório. Atualmente, o aplicativo – que é gratuito – já foi baixado mais de 70 mil vezes. “Independentemente da forma como ele aparecer no celular, seja já previamente instalado ou sugerido durante a configuração inicial do aparelho, o fato é que levaremos a nossa solução social a mais gente”, diz.
Para o desenvolvedor de jogos digitais Rodrigo Mamão, CEO da empresa mineira Ilusis, a busca pelo consumidor final (o usuário de smartphones ou tablets) é um dos principais desafios dos produtores de aplicativos. “Está cada vez mais fácil produzir apps e disponibilizá-los nas lojas digitais. O problema maior é a estratégia de divulgação a fazê-lo aparecer nos primeiros resultados de busca dessa lojas. Destacar-se entre uma imensidão de opções é o X do problema. Para se sobressair, é preciso investir muito dinheiro com marketing”, afirma Mamão.
Com a seleção prévia e inclusão do app no aparelho do usuário, como propõe o programa, pula-se então essa etapa mais difícil: a da promoção e divulgação. “É certo que, por essa nova sistemática, as startups selecionadas chegarão de forma mais fácil até os usuários. Ganha quem conseguir entrar nessa lista, já que hoje é preciso lutar muito para se diferenciar dos milhares de aplicativos que existem no mercado”, fala Débora Basso, coordenadora de busca e seleção da aceleradora de startups Artemisia. Segundo ela, o programa poderá “forçar” ainda uma melhoria na qualidade desses produtos. “Com o tempo, vão conseguir se manter no mercado aqueles que se provarem eficientes, tanto dentro do ponto de vista da usabilidade, quanto do ponto de vista pedagógico e da sua utilização para a melhoria da aprendizagem do usuário”.
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