Projeto que filtra poluente extraído da mandioca vence Solve for Tomorrow 2024
Produção feita por estudantes de Carnaíba, no Pernambuco, quer ser uma solução sustentável para produtores quilombolas e rurais da região
por Ruam Oliveira 3 de dezembro de 2024
Quando a mandioca é prensada, ela libera um líquido amarelo chamado manipueira. Solto na natureza, ele é bastante poluente. Contudo, isso ainda acontece em muitas casas de farinha pelo Brasil, espaços bastante ligados à cultura de áreas rurais e quilombolas.
Como transformar o processo de descarte da manipueira em algo que preserve o meio ambiente e fortaleça a cultura local? A resposta vem do projeto “Filtropinha: dos resíduos aos recursos”, desenvolvido por estudantes do 2º ano do ensino médio da Escola Nacional Paulo Freire, de Carnaíba (PE).
O projeto venceu a 11ª edição do Solve for Tomorrow Brasil, que incentiva a investigação científica ou tecnológica de alunos do ensino médio de escolas públicas usando a abordagem STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática). Esta é uma iniciativa global desenvolvida pela Samsung para as juventudes pensarem em soluções para problemas atuais e em seus territórios. O anúncio dos vencedores foi feito na manhã desta terça-feira, 3/12, na Cinemateca Brasileira, em São Paulo (SP).
O “Filtropinha”, desenvolvido por Angela Santos, Eduardo Oliveira, Luana da Silva e Beatriz da Silva, é um sistema de filtragem que trata a água contaminada por resíduos sólidos, tornando-a potável e reutilizável. O protótipo foi feito usando cascas da fruta-pinha. Com o filtro, a ideia é reduzir a carga poluente da manipueira e desenvolver um fertilizante de liberação lenta.
O projeto foi apresentado a produtores rurais do Quilombo Travessão do Caroá, também localizado em Carnaíba. “A recepção e o interesse deles em implantar nosso filtro nas casas de farinha no futuro foram inspiradores para nossa equipe”, relata Eduardo.
A estudante Beatriz Vitória comenta que cada filtro sai por apenas R$5 e o refil custa R$0,25 , tornando-o acessível para membros da comunidade. Ela também ressalta que o projeto se liga aos itens 3, 6, 11, 12, 13 e 14 dos ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável).
“Vale ressaltar que nosso intuito não é condenar as casas de farinha, mas sim demonstrar que a manipueira, antes de ser descartada tem que ser tratada”, destaca.
O professor Gustavo Santos Bezerra, que orientou o projeto, comenta que esse tipo de participação dos estudantes em iniciativas como o Solve for Tomorrow é uma maneira de unir a teoria e a prática. Para ele, os alunos na prática que é possível mudar a realidade dos territórios onde vivem. No caso do “Filtropinha”, algumas alunas que atuaram no projeto também são quilombolas.
“O maior reconhecimento que a gente tem desse projeto é que quando for inserido nas comunidades, a gente vai modificar a vida de quem está inserido ali, seja parente, primos ou tios delas, que estão na comunidade do Quilombo do Caroá”, diz o educador.
“Nossa visão é transformar o rejeito poluente em recursos para as comunidades quilombolas e rurais, além de minimizar os impactos ambientais”, diz Angela Santos, que também integra o projeto.
Os selecionados para participar do programa Solve for Tomorrow recebem mentorias ao longo de três meses para o desenvolvimento do projeto. Letícia Araújo, coordenadora de programas do Cenpec, parceiro na iniciativa, explica que no momento da inscrição, os projetos não podem estar finalizados. Ou seja, é preciso apresentar uma ideia que será desenvolvida ao longo dos próximos meses com o apoio da equipe do Solve for Tomorrow.
“Incentivar a educação STEM desde o ensino médio é bastante importante para oportunizar experiências com os jovens, que eles possam trabalhar com a ciência, tecnologia, engenharia e matemática desde o princípio e conhecer esses novos caminhos”, ressalta Helvio Kanamaru, diretor de cidadania corporativa da Samsung para a América Latina. “Isso ao longo de sua jornada individual – seja pessoal, acadêmica ou profissional – pode ser muito interessante para abrir novas portas, mas também dá oportunidade para que eles identifiquem qual é a jornada que querem percorrer na vida”, complementa.
Completando o pódio
A premiação também destacou o segundo e o terceiro lugar no pódio.
Vindos de Franco da Rocha (SP), os estudantes Eduardo Pimentel, Iago Marinho, Kássia Regina e Raua de Oliveira, do 3º ano da Escola Estadual Professora Iraci Sartori Vieira da Silva, conquistaram a segunda colocação com o projeto “H.E.R – Hand Exoesqueleton for Rehabilitation”. Trata-se de uma mão robótica voltada para a reabilitação de pessoas com dificuldades motoras ou que possuem baixa funcionalidade nas mãos. O equipamento também foi produzido usando uma impressora 3D.
De acordo com a equipe, a ideia surgiu para auxiliar um aluno com Síndrome de Down que tem dispraxia, ou seja, problemas na coordenação motora fina. O projeto H.E.R é composto por motores e sensores, e foi desenvolvido a partir das habilidades de programação dos alunos envolvidos para realizar movimentos específicos, como abrir, fechar, subir e descer, além de segurar e mover objetos de até 5kg.
O terceiro lugar ficou com estudantes da Escola Estadual de Educação Profissional Professor Francisco Aristóteles de Souza, de Itaitinga (CE). Também focado em inclusão, o projeto “E-vision: transformando a educação com tecnologia inclusiva”, desenvolvido pelos estudantes Jadson da Silva, Ana Caroline Bandeira, Francisca Ferrer, Kayane Almeida e Sophia Lara Martins, que estão no 2º ano do ensino médio, é constituído por um óculos inteligente com visão computacional feito para auxiliar estudantes com deficiência visual.
Com esses óculos, é possível ler materiais impressos, fazer a descrição de ambientes e ler informações em tempo real, o que impacta na autonomia dos estudantes com esse tipo de deficiência.
“A ideia nasceu da necessidade de um ex-aluno com dificuldades em relação aos materiais pedagógicos, devido à uma deficiência visual, o que os fez pensar em uma solução que possibilite a leitura de ambientes, para que esses alunos se envolvam nas atividades práticas em sala de aula sem depender de um colega para compartilhar o que está acontecendo”, explicam.
A premiação também contou com uma etapa de votação popular, feita diretamente no site da iniciativa. O anúncio dos vencedores também aconteceu na manhã desta terça-feira. Confira abaixo quem venceu nesta categoria:
Bio cimento: blocos de papel para pavimentação intertravada de calçadas
Centro Territorial de Educação Profissional do Sisal – Serrinha, BA
Professor orientador: Thales Lima do Nascimento
Estudantes: Claudemir Carvalho, Thiago Ferreira e Felipe Macedo
Ano/Série: 1º ano
Resumo do projeto
Alunos do 1º ano do ensino médio criaram projeto inovador de utilizar blocos de papel para pavimentação intertravada de calçadas. A equipe utilizou como matéria prima o papel e a fibra do coco para a produção de precasts (blocos usados para pavimentos de calçadas), substituindo a areia convencional na massa do cimento, pois a retirada de areia em grande quantidade causa erosão no solo. O projeto pode contribuir para a melhoria da qualidade de vida nas cidades ao oferecer uma alternativa mais ecológica e acessível para a pavimentação de calçadas.
O projeto também venceu a categoria Menção Honrosa.
InfoLadies – Sustentabilidade e Nanotecnologia
Escola Estadual Professor Sebastião de Oliveira Rocha – São Carlos, SP
Professora orientadora: Bárbara Daniela Guedes Rodrigues
Professora parceira: Isabel Cristina Santana Kakuda
Estudantes: Giovana dos Santos, Ana Beatriz de Barros, Isabela de Paula dos Santos, Julia Feitoza e Rebeca de Oliveira Silva
Ano/Série: 3º ano
Resumo do projeto
Alunas do 3º ano do ensino médio da rede pública produziram uma tinta sustentável, a partir do reaproveitamento do isopor, diluindo-o em óleos essenciais, contribuindo para a solução de um problema ambiental: a não decomposição do isopor e o descarte incorreto. O grupo, formado exclusivamente por meninas, descobriu que o isopor pode ser dissolvido em óleo essencial de laranja, uma alternativa mais sustentável para o descarte desse plástico. Um dos diferenciais do projeto é o preço acessível e a sustentabilidade. A tinta desenvolvida custa 100 vezes menos do que a disponível no mercado.
Pharmakos
Escola Técnica Estadual Coronel Fernando Febeliano da Costa – Piracicaba, SP
Professor orientador: Marcos Anibal da Cunha
Professor parceiro: Luís Henrique Bernardo
Estudantes: Antônio Carlos Furlam, Arthur Thomas Zanin e Kauâ Benjamin Trombim
Ano/Série: 3º ano
Resumo do projeto
Alunas do 3º ano do ensino médio da rede pública criaram um protótipo que funciona como dispensador inteligente de medicamentos, liberando os comprimidos nos horários e doses programadas. Por meio de tecnologia embarcada e um sistema inteligente de divisão de comprimidos, o dispositivo é capaz de dispensar diferentes medicamentos em horários variados, inclusive múltiplos comprimidos em uma mesma dose. A programação do dispositivo pode ser facilitada utilizando a receita médica do paciente.
Para conferir os dez projetos finalistas acesse o site oficial da iniciativa.
As práticas vencedoras do programa Solve for Tomorrow tanto do Brasil quanto de outros países da América Latina estão sistematizadas no site “Solve for Tomorrow Latam”, com coordenação editorial e produção de conteúdo feitos pelo Porvir. Para conferir as práticas publicadas até o momento, acesse: solvefortomorrowlatam.com.