Projeto para integrar imigrantes aposta no diálogo com brasileiros - PORVIR
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Inovações em Educação

Projeto para integrar imigrantes aposta no diálogo com brasileiros

Migraflix faz brasileiros colocarem a mão na massa em cursos de culinária, música e artes gráficas enquanto conhecem experiências de vida de estrangeiros

por Vinícius de Oliveira ilustração relógio 19 de janeiro de 2016

Dar os primeiros passos no tango e conhecer as primeiras palavras em árabe são atividades que podem fazer parte de muitas listas com resoluções para serem cumpridas em 2016. No caso de imigrantes que participam do projeto Migraflix, elas representam uma maneira direta de integração com os brasileiros, assim como a chance de recomeçar a vida e ter uma fonte de renda.

Desde setembro de 2015, o site criado pelo empreendedor argentino Jonathan Berezovsky e pelo jornalista brasileiro Rodrigo Borges usa o diálogo e experimentação como porta de entrada para que brasileiros se aproximem da culinária (síria, marroquina, peruana ou colombiana), da música latina e africana e da caligrafia árabe trazidas por imigrantes em espaços no bairro de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo.

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Nascido em Buenos Aires, Berezovsky passou a infância nos EUA e adquiriu espírito empreendedor em Israel, onde trabalhava em uma startup que fornecia microcrédito para imigrantes africanos vindos de países como Eritreia e Sudão, fugindo dos traumas e da violência de guerra civis. Há dois anos, desembarcou no Brasil, mas dar um copiar+colar na experiência de Israel foi um processo que encontrou obstáculos na legislação brasileira. Naquele tempo, Migraflix era apenas uma apresentação de PowerPoint. Foi então que conheceu o jornalista Rodrigo Borges, que edita o blog Migramundo.

A plataforma para empoderamento de imigrantes começou a ganhar cara durante o SocialGood Lab de 2015, programa de mentoria para colocar em pé negócios de impacto social. “O pessoal gostou e a gente começou a desenvolver o projeto em Florianópolis (SC), usando metodologias especiais para startups como a criação de um produto mínimo viável”, diz Berezovsky.

No caso da Migraflix, a primeira versão que foi ao ar em setembro tinha apenas três cursos. De lá para cá, a fórmula de três horas de aula para 10 interessados se manteve, assim como a demanda continua maior que a oferta, mas o número de workshops aumentou para 11, novos imigrantes se interessaram pelo projeto e a equipe de apoio chegou a 15 pessoas. Além de brasileiros, hoje a Migraflix possui integrantes da Argentina, Eslovênia, Espanha e Suíça.

“O primeiro objetivo da Migraflix é fazer com que os imigrantes se sintam importantes e apresentem sua cultura aos brasileiros. O segundo é a integração. No curso de caligrafia árabe, você sai escrevendo algumas palavras, porém mais importante que isso é o diálogo. É entender quem é o imigrante, como era a vida no país de origem dele”, diz Berezovsky.

Além de destinar 80% da receita de cada curso ao professor imigrante, Berezovsky diz que o projeto também busca capacitá-los para facilitar sua adaptação à vida longe de casa. “A Muna Darweesh, que é imigrante síria, tem aula de português com uma professora de Migraflix uma vez por semana. Quando a gente fala empoderamento, a gente quer dar a eles o tratamento que precisam para recomeçar sua vida no Brasil”.

Em breve, a Migraflix planeja abrir turmas para interessados em moda, com workshops sobre tecidos bolivianos e turbantes africanos. Além disso, Berezovksy fala em levar os workshops para o Rio de Janeiro e Belo Horizonte por meio de parcerias com empresas.

Outro eixo deve ser criado para atender escolas. “A maioria das escolas não possuem imigrantes. Alguns bairros, como o Bom Retiro (no centro da capital paulista) têm muitos alunos estrangeiros. Mas eu moro em Pinheiros e não têm”, explica Berezovsky. “A ideia é gerar um primeiro encontro com as crianças e começar a combater o preconceito que existe em qualquer grande cidade do mundo. A gente quer fazer isso desde cedo, para que as crianças deixem o medo de lado e abracem a ideia da imigração”, conclui.


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educação mão na massa, inclusão

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