Projeto faz desenhos de monstros divertidos em buracos nas calçadas
“Monstros Urbanos” busca conscientizar alunos do 1º ano do fundamental sobre problemas encontrados no caminho até a escola
por Alessandra Calegaris Marins de Paulo 2 de dezembro de 2015
Eu trabalho com crianças de primeiro ano e o tema de monstros é muito interessante para elas. Eu já tinha apresentado o livro “Pequeno manual de monstros caseiros”, de Stanislav Marijanovic, e o “Monstruário”, da Katia Canton. Pensando nisso, procurei outros livros e encontrei o “Monstros urbanos”, da Renata Bueno.
Moro bem longe do meu trabalho e, durante o percurso, reparo na mudança do ambiente. Queria que as crianças pudessem olhar um pouco para isso também, percebessem os pequenos problemas urbanos e buscassem soluções. Filmei o caminho que faço do estacionamento até a escola, compartilhei com as crianças e pedi que falassem quais problemas viam ali. Foi uma tomada de consciência sobre o que está a nossa volta e não percebemos. Os alunos foram falando: “ah, esse buraco parece um mapa, aquele parece um bicho”.
Nesse processo, perguntei qual o sentimento deles ao verem um buraco, uma calçada quebrada, um lugar que não era acessível a um deficiente. Eles falaram dos sentimentos de tristeza e que era um pena, porque nem todo mundo podia caminhar como eles. Depois dessa conversa, questionei o que poderíamos fazer para ajudar as outras pessoas. Surgiram várias ideias: fazer placas, deixar um bilhete, um recado. Nós conversamos sobre cada hipótese até chegar ao desenho, logo que apresentei o livro da Renata Bueno. Eles ficaram encantados com a ideia dos monstros.
O passo seguinte foi pedir na lição de casa que observassem o entorno de suas casas e da escola e que trouxessem duas fotografias de problemas que encontrassem. Quando trouxeram o material, foram compartilhando os problemas identificados e qual intervenção poderia ser feita.
O desenho e a pintura dos monstros foram feitos em cima da foto que eles tiraram. Depois, nós chegamos à conclusão que, para mostrar esse problema para outras pessoas, precisaríamos pedir autorização ao dono do imóvel, que é o responsável pela calçada. Os alunos organizaram uma cartinha para o morador, pedindo para pintarem a calçada. Montamos um envelope com o projeto e eu fui com os dois representantes da turma entregar as cartas. Com o sim dos moradores e a autorização dos pais para que as crianças deixassem a escola, nós saímos três vezes para pintar as calçadas.
Foi uma experiência muito bacana. As pessoas que passavam na rua conversavam com as crianças, os idosos perguntavam o que elas estavam fazendo, ao que elas respondiam: “a gente tá ajudando vocês a não caírem no buraco!”. Foi muito interessante dar às crianças a possibilidade de sair da sala de aula e atuar fora do ambiente que estão acostumadas.
Com esse projeto, os alunos pararam para olhar o outro, para quem está do lado e o caminho até a escola. Trata-se de pensar o que você pode fazer para ajudar minimamente. Elas são pequenas, só têm seis anos, mas com o trabalho, viram que são capazes e que isso foi valorizado nas ruas e no jornal.
Alessandra Calegaris Marins de Paulo
Formada em pedagogia pela Universidade Bandeirante, cursou pós-graduação em alfabetização no Instituto Superior de Educação Vera Cruz. Professora desde 2005, tem experiência com crianças de 2 a 7 anos. Participa de grupos de formação continuada pelo Centro de Formação da Escola da Vila. Atualmente atua como Professora do 1º ano na Escola Santi, em São Paulo.