Projeto usa arte para falar sobre respeito
Explore Carlotas vai percorrer dez escolas em SP para levar conceitos como tolerância e aceitação; experiência vai virar livro
por Vagner de Alencar 24 de abril de 2013
Ela começou a empilhar no quarto inúmeros cadernos de desenhos com ilustrações de personagens nada perfeitos: olhos desproporcionais, cabelos e pele coloridos, nenhuma estatura física pré-estabelecida. Passou a grafitar os muros de sua casa, até que migrou para as ruas, pintando paredes alheias. Interrompeu a arte urbana quando se viu correndo da polícia ao ser flagrada com um spray na mão. Decidiu se acolher na calmaria de seus cadernos, até perceber que poderia usar de sua arte para trabalhar a imperfeição, tema que, intrinsicamente, envolvia todos os seus desenhos. Hoje aos 30, Carla Douglass, artista plástica paulistana, partiu de suas experiências pessoais para criar o projeto ExploreCarlotas, que trabalha com crianças e jovens temas como tolerância, aceitação, respeito e a utopia da imperfeição. Para levar os conceitos a 580 estudantes, de cinco a 15 anos, entre os dias 29 de abril e 10 de maio, Carla visitará dez instituições de ensino – como ONGs, escolas públicas e privadas – da Grande São Paulo. A experiência, inclusive, pretende virar um livro, que irá mostrar o desdobramento desses encontros, para que também sirva como um viral.
“É preciso trabalhar esses conceitos principalmente na infância. As crianças precisam entender que não há perfeição, que o cabelo dela não é o melhor do que o do colega ou que seus pais não melhores que os dos outros. O espírito do projeto é abrir a mente dessas crianças para levá-las a aceitar as diferenças, antes que se moldem nelas os preconceitos e ignorância da sociedade”, afirma Carla, que é radicada em Nova York desde 2009, quando deixou de trabalhar na área administração e marketing a qual se formou, para realizar um curso de artes nos EUA e se dedicar exclusivamente ao tema.
A maratona de Carla nas instituições será realizada em duas etapas. A primeira delas consiste em um workshop, que abordará com educadores e crianças, a partir de cartões postais com imagens “imperfeitas”, temas como tolerância e aceitação. A experiência pretende mostrar que cada criança pode ter uma visão diferente da mesma imagem e que todas elas são verdadeiras e corretas. Um dos cartões será usado para abrir a discussão sobre a utopia da perfeição. “Quem aqui está vendo uma princesa? Uma baleia? Eles podem imaginar e enxergar quantas histórias quiserem. Não existe uma resposta certa. Sempre vemos coisas diferentes em tudo!”, explica Carla sobre a dinâmica da atividade.
Os alunos, que ficarão com os postais trabalhados nos workshops, serão estimulados ainda a entregá-los ou enviá-los para outras pessoas, sejam amigos ou familiares. Após a conversa, cada criança também receberá um quinto cartão postal, só que em branco, para que ela registre, por meio de desenhos e um breve texto, a experiência vivida no projeto. Os postais serão enviados ao estúdio de Carla, em Nova York, e serão reunidos no livro, assim como ilustrações inéditas da artista. Segundo ela, a ideia da dinâmica é reforçar nos alunos “a necessidade de respeitar e aceitar todos que estão a nossa volta como uma fórmula de viver em um mundo mais harmônico e solidário”.
Já a segunda etapa do projeto será dedicada a atividades práticas, por meio do manuseio com materiais básicos de artes, como giz de cera, canetinhas, lápis de cor e papéis. Os estudantes serão estimulados a pensar como seria sua “casa perfeita”, representando no papel essa idealização. “Queremos que fique claro a elas que não há uma casa ou alguém melhor ou pior, que cada um pode enxergar um mundo da sua própria forma”, salienta Carla, que realizou a primeira experiência, ainda piloto, no fim de 2011.
Santa do Parnaíba
Em visita ao Brasil na época, a artista plástica visitou três turmas de crianças do primeiro ano da escola de ensino infantil Benedito Venâncio, em Santana de Parnaíba, na região metropolitana de São Paulo. “Descobri realmente que deveria investir no projeto depois que percebemos que um garoto, que não falava com seus colegas há mais de três meses por problemas familiares, voltou a conversar com os colegas depois da dinâmica e das atividades com artes”, diz Carla que no futuro planeja desenvolver um aplicativo que trabalhe o tema da imperfeição.
Para a produção do livro, a artista plástica criou um perfil na plataforma de financiamento coletivo Catarse, para arrecadar R$ 7 mil, até o dia 5 de maio. O valor, além de ajudar no custeio da publicação, também será utilizado para a compra de cadernos de desenhos, que terão capas customizadas por Carla.
Veja vídeo sobre o projeto.