‘Recursos abertos são mais baratos e dão melhores resultados’
Hal Plotkin, consultor do Creative Commons, defende política pública REA para ampliar oportunidades educacionais
por Marina Lopes 21 de agosto de 2015
Você gostaria de ir a um restaurante que apenas aquece e serve comidas feitas em outros lugares? Com essa indagação, o pesquisador norte-americano Hal Plotkin, consultor sênior do Creative Commons, defende a participação de professores na produção e adaptação de materiais didáticos. Na última quinta-feira (20), o responsável pela implementação da política pública de REA (Recursos Educacionais Abertos) do governo de Barack Obama, nos Estados Unidos, esteve em São Paulo para participar do fórum ARede Educa.
Aluno egresso de uma universidade comunitária, na Califórnia, Plotkin teve sua primeira experiência com recursos abertos quando integrava o conselho da instituição que estudou. Questionando como um aluno entrava em uma escola comunitária (mais barata) e tinha que comprar um livro de matemática que custava US$ 180, ele e os demais membros começaram a levantar recursos para que os professores produzissem e adaptassem materiais para a internet, permitindo o acesso gratuito sob licença aberta. “Temos que proteger e promover a liberdade na educação”, afirma.
O trabalho desenvolvido na universidade comunitária rendeu a Plotkin um convite para ser consultor do governo norte-americano. Há cinco anos e meio, ele começou a desenhar um plano federal para oferecer recursos abertos em todo o país. A ideia era que um bom número de materiais didáticos pudessem ser acessíveis para todos sob licença aberta, que permite o uso, distribuição, melhora e adaptação dos conteúdos.
Com a meta de ampliar o acesso aos recursos, além de impulsionar a produção de livros didáticos abertos, o programa estabeleceu uma exigência de que toda produção viabilizada com verba pública fosse disponibilizada na licença creative commons. “É preciso garantir que os materiais financiados pelos recursos federais resultem em trabalhos que podem ser usados e melhorados por outros”, destaca. Desde 2011, já foram destinados quase US$ 2 bilhões para alavancar a produção de REA nos Estados Unidos.
O trabalho com recursos abertos trouxe para os professores a possibilidade de usar, adaptar e criar os próprios materiais didáticos. De acordo com Plotkin, isso aumenta o envolvimento e o empenho deles, já que não existe a obrigação de usar apenas conteúdos prontos e fechados para modificações.
Para o pesquisador e consultor, essa conclusão pode ser muito clara após observar uma pesquisa da professora Linda Darling-Hammond, de Stanford, que avaliou os pontos em comum entre os melhores colocados na avaliação do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos, em livre tradução). “O que mais me saltou os olhos é que nenhum desses sistemas educacionais usavam livros didáticos comerciais que alguém soltou de um helicóptero na cabeça deles”, diz.
“Estamos em um ponto da história onde recursos abertos são mais baratos e nos levam para resultados cada vez melhores”, explica. Segundo Plotkin, o incentivo da produção de REA nos Estados Unidos faz com que os alunos aprendam mais, permaneçam mais tempo na universidade e consigam se formar.
“Um dos nossos sonhos, nos Estados Unidos e no mundo, é usar recursos educacionais abertos para envolver todos os alunos e professores na resolução de problemas globais”, define. “Com os recursos educacionais abertos nós podemos chegar onde os modelos antigos jamais chegarão.”