Rede de portfólios digitais reconstrói experiências
Já usada em mais de 500 campi universitários dos EUA, plataforma Seelio permite que alunos apresentem melhor suas habilidades
por Carolina Lenoir 14 de janeiro de 2014
Toda trajetória escolar tem narrativas que merecem ser contadas de um jeito menos engessado que o dos currículos conservadores. Um histórico recheado de notas altas chama a atenção, mas deixa escapar outras nuances importantes para se fazer um retrato mais completo do estudante. Ter a possibilidade de documentar digitalmente, por meio de fotos, vídeos e áudio, projetos que demandaram de semanas a semestres para serem realizados – além de experiências práticas fora da universidade, em estágios ou trabalhos voluntários, por exemplo – pode fazer toda a diferença para mostrar talentos e competências que só as notas tradicionais não são capazes de fazer. Uma rede de portfólios online, que começou como uma parceria com a Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, e hoje está presente em mais de 500 campi americanos, reúne em um só um ambiente as possibilidades oferecidas de forma isolada por outras redes virtuais, ao unir as conexões profissionais do LindkedIn, a interatividade do Facebook e os atrativos visuais do Pinterest.
Desenvolvido por especialistas em tecnologia e em ensino superior, o Seelio não só se tornou um aliado dos alunos, como também uma ferramenta para que os professores possam acompanhar a evolução dos seus estudantes, além de incrementar a divulgação das instituições de ensino e, no caso de empresas, ajudar na busca por profissionais qualificados. A partir dos recursos disponibilizados pelo Seelio, os estudantes podem criar um material gráfico e descritivo substancial sobre suas realizações em qualquer área de atuação. Podem ser os detalhes de um robô construído em aulas de mecatrônica, o desenrolar de uma proposta de comunicação e marketing para uma empresa durante o estágio ou até mesmo o desempenho em competições realizadas fora do ambiente acadêmico. Neste vídeo bem humorado é possível entender melhor a proposta da rede.
O carro-chefe da rede é o Seelio for Educators, uma plataforma desenvolvida de forma customizada para as universidades contratantes, que aproveitam as possibilidades do Seelio como uma espécie de vitrine. “Seelio for Educators permite às universidades colocar a plataforma para funcionar em uma rede privada para todos os seus alunos. Com isso, estamos possibilitando aos professores a curadoria de muitos projetos de seus estudantes em uma galeria centralizada, que pode ser compartilhada com toda a comunidade acadêmica e até com interessados em estudar na instituição e doadores”, explica Moses Lee, CEO do Seelio, em entrevista ao site da revista Forbes. As informações da Seelio for Educators podem ser públicas ou privadas, de acordo com os interesses das universidades.
Um exemplo de como os professores têm se aproveitado da rede é o trabalho feito na Universidade de West Virginia. Professora do Departamento de Estudos de Comunicação da instituição, Andrea Weber explica, em entrevista ao jornal Times West Virginian, que sempre foi requisitado que os estudantes nos últimos anos de graduação criassem um portfólio físico ou virtual e, desde o ano passado, o Seelio foi a opção mais escolhida. A partir disso, Andrea começou a pensar de que forma o departamento poderia expandir as possibilidades permitidas pela rede e a trabalhar com ela nessa customização. “Passamos a usá-la como uma ferramenta de aprendizagem, em que os alunos que iniciam o programa de estudos de comunicação podem criar uma conta relacionada a cada conhecimento adquirido e colocado em prática de alguma forma, com algum tipo de resultado”, diz a professora. O departamento conta hoje com um programa de orientação aos alunos, com o perfil de quase uma centena de acadêmicos que se disponibilizam a ser mentores e que, com essa ferramenta, podem mostrar aos estudantes informações mais palpáveis sobre suas atuações.
Para Lee, essa é a realização de uma visão que se iniciou com uma visita a uma escola secundária de Michigan, num evento conhecido como Dia do Portfólio. “Fui à Scarlett Middle School, na cidade de Ann Arbor, para participar da apresentação dos alunos para alguns profisionais da comunidade. Eles usavam pastinhas de papel com uma compilação rica de trabalhos feitos em sala de aula e outras realizações. Eu comentei com os professores sobre como esse tipo de portfólio era destinado a acabar em uma estante na casa dos meninos, sem que ninguém os visse novamente. O pior disso é que as pessoas que poderiam ser a chave para o desenvolvimento educacional e profissional desses alunos nunca analisariam esse material.” Inspirado, Lee se juntou aos sócios David Jsa e Jerry Wang para criar o Seelio no fim de 2011. Dois anos depois, a ideia é conseguir expandir a rede, no futuro, para todos os níveis de formação, do pré-escolar ao pós-doutorado.
Atualmente, criar uma conta é gratuito e pode ser feito por qualquer estudante, mesmo os que não têm vínculos com as universidades parceiras. Empresas também podem postar até 10 vagas de emprego na rede sem custo. Já no caso do Seelio for Educators, a rede cobra as instituições de acordo com o número de alunos e o tipo de personalização – algo em torno de US$ 10 a US$ 15 por aluno ao ano. De acordo com Moses Lee, muitas das instituições de ensino que contrataram o Seelio querem que seus alunos se formem com uma compilação relevante de trabalhos e não apenas com um histórico acadêmico e um título. “Quando você cria um portfólio, você pode realmente fazer uma reconstituição das suas experiências, do seu trabalho e das suas realizações. Trata-se de uma ferramenta poderosa para concorrer a um emprego ou a uma vaga de mestrado ou doutorado”, afirma o CEO.