“São os professores que, de fato, têm transformado a educação”
Nesta entrevista, Débora Garofalo, uma das embaixadoras do Prêmio Professor Transformador, fala sobre a segunda edição da premiação e o papel do educador na atualidade
por Redação 19 de novembro de 2021
Débora Garofalo bem sabe o sentido do verbo transformar. Foi por meio do projeto “Robótica com sucata” nas suas aulas de informática na EMEF (Escola Municipal de Ensino Fundamental) Almirante Ary Parreiras, em São Paulo, que ela foi reconhecida como uma das 10 melhores professoras do mundo pelo Global Teacher Prize, em 2019.
Hoje coordenadora do Centro de Inovação da Educação Básica de São Paulo, a educadora também é uma das embaixadoras do Prêmio Professor Transformador. Promovido em parceria pelo Instituto Significare, Bett Educar e Base2edu, a iniciativa valoriza projetos de transformadores implementados na educação básica – e está na fase final do período de inscrições para a segunda edição. Professores têm até o dia 1o de dezembro para inscrever seus projetos, diretamente no site do prêmio.
“O trabalho de robótica com sucata nasceu de um problema real, a questão do lixo, que impedia crianças de irem para a escola em dias de chuva e que trazia doenças como dengue e leptospirose. Diante de tudo isso, o desafio foi realmente mostrar que eles poderiam ser protagonistas na superação dessa dificuldade e, principalmente, trazer algo que fosse realmente significativo”, relembra. Ela ressalta que a comunidade só começou a compreender o trabalho educacional quando notou a redução das enchentes e do lixo das ruas.
“Precisamos compreender que a educação pode ser transformadora e que o estudante é o centro do processo. Devemos quebrar velhos paradigmas e trazer inovação para dentro da sala de aula”, diz. Nessa entrevista que abre a série de conversas com os embaixadores do Prêmio Professor Transformador, Débora fala sobre a carreira e faz um convite: “Um prêmio é sempre a celebração de um longo processo, de um longo caminho do professor e, sem dúvida nenhuma, também a valorização do seu trabalho. Convido os professores para que eles possam se inscrever no Prêmio Professor Transformador 2021, para que possamos aprender um pouco com as suas práticas e nos inspirarmos por meio delas. O professor é um grande transformador da sociedade”, diz.
Os desafios impostos à educação pela pandemia não foram poucos. Muito foi feito com o apoio da tecnologia. Como você avalia e define o papel do professor transformador neste novo contexto da educação?
É preciso ter altas expectativas em relação aos nossos estudantes, mas que também é essencial ter altas expectativas para os nossos professores, sobretudo diante de um cenário que não foi pensado, não foi planejado por ninguém e que talvez, há algum tempo, se nos perguntassem se seria possível, por exemplo, conduzir aulas mediadas por tecnologia, diríamos que seria impossível ou muito difícil. Mas os professores, mesmo diante de tantos desafios, principalmente daqueles que realmente tinham dificuldades com a tecnologia, se reinventaram para que a educação não parasse ali no chão da escola. Foi muito bonito ver e ouvir os relatos dos colegas quanto a essa superação, para que pudessem estar ali, mediando esse processo de conhecimento e fazendo uma busca ativa com os estudantes, para tentar minimizar os impactos da pandemia na educação. De lá para cá aprendemos muito.
Poderia exemplificar?
Aprendemos a importância e papel da tecnologia, não como fim, mas como meio, como uma mola propulsora ao processo de aprendizado. Com ela, precisam vir metodologias e abordagens diferenciadas, como as metodologias ativas que visam tirar esse estudante da passividade e trazê-lo ao centro do processo de aprendizagem. Estamos evoluindo para novos tempos, nos quais é possível mostrar que você pode inovar com tecnologias existentes e que as tecnologias analógicas também funcionam. O importante é priorizar a humanização dessas tecnologias.
Quais as transformações possíveis e desejáveis que os professores podem ajudar a promover, com base nas suas práticas?
Os nossos professores são os que, de fato, têm transformado a educação. É por meio de suas práticas – e eu falo isso até por experiência própria, pois tive um trabalho reconhecido nacional e internacionalmente e que hoje é uma política pública – que ele pode direcionar caminhos para a nossa educação. Os professores precisam estar inseridos nos debates públicos, nas políticas públicas. Olhar para o que têm feito em sala de aula nos ajuda a direcionar e transformar essas boas práticas em caminhos para uma verdadeira transformação na nossa educação.
Quem é o professor transformador, que possibilita conectar a educação a um presente e futuro desejáveis?
Um professor transformador é aquele que tem a capacidade de mediar o conhecimento, de fazer essa mediação do estudante com o conhecimento, mas buscando diversas formas de inovar. É aquele que possibilita caminhos para que o estudante assuma esse protagonismo. É aquele que guia a educação e a faz acontecer na ponta; uma peça fundamental que precisa, sim, ser valorizada, reconhecida, mas que acima de tudo tem um papel essencial em toda essa engrenagem que é a educação, de transformar vidas.
Como pode ser essa escola que possibilita conectar a educação a um presente e futuro desejáveis?
A educação e a escola, principalmente, mudaram os seus papéis. Por muito tempo, a escola teve um papel muito passivo, de trabalhar somente ali, com aqueles estudantes, e o professor ser o transmissor do conhecimento. Hoje, essa escola exerce um papel fundamental, principalmente como vimos na pandemia: ela não é só um local de aprendizagem, e sim uma real rede de proteção para a infância e a juventude. É um espaço onde o estudante exerce o seu papel de se integrar com o mundo, de conhecer possibilidades. Essa escola hoje é ativa, mas ainda precisa romper com alguns paradigmas, principalmente entender que escola não é ilha. Ela precisa se abrir, trazer novas vozes para estarem ali, dialogando dentro do seu dia a dia, como trazer os órgãos públicos, por exemplo, para conversar e dialogar dentro da unidade escolar.
Qual mensagem você deixa para os professores e professoras que superam desafios diários para empreender uma educação transformadora?
A mensagem que eu deixo para os meus colegas é que eles possam ser resilientes, persistentes. A mudança para uma educação transformadora não ocorre da noite para o dia, mas é uma mudança cultural. E como toda mudança cultural, ela passa por fases. Por isso, é preciso persistir, ter essa resiliência para poder realmente apoiar o nosso estudante nessa transformação. Que o nosso estudante possa não ser apenas consumidor de tecnologia, mas sim produtor. E para que ele possa exercer esse papel, ele precisa ser protagonista. É aí que o professor tem esse papel essencial, que é o de mediar e guiar esse conhecimento.
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