Série de Diálogos debate conectividade nas escolas - PORVIR
Crédito: Zé Campos

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Série de Diálogos debate conectividade nas escolas

Evento reúne especialistas para desenvolver plano técnico que visa a garantir a universalização da internet de qualidade na rede pública

por Redação ilustração relógio 29 de abril de 2015

O Porvir/Inspirare e a Fundação Lemann, com apoio do Instituto de Tecnologia & Sociedade do Rio (ITS) e da rede Minhas Cidades se reuniram nesta quarta-feira (29) em São Paulo para um novo encontro da “Série de Diálogos O Futuro se Aprende”, sobre conectividade nas escolas. Para tratar do assunto, foram convidados profissionais especializados em educação, tecnologia, financiamento e compra de equipamentos, mobilização social, leis e regulação. O grupo traçou recomendações como fortalecimento da demanda, modelos de financiamento e meios para garantir infraestrutura de qualidade.

Na fala de abertura, Anna Penido, diretora executiva do Inspirare, ressaltou que a discussão atual já superou a simples digitalização de velhos equipamentos como a lousa, que passou a ter “inteligência”, e se tornou mais complexa. “É preciso conectividade maior que 2 Mbps para garantir que escolas públicas consigam rodar plataformas complexas”, diz. Segundo a diretora do Inspirare, é necessário um esforço conjunto. “Não basta cobrar, é necessário se engajar e contribuir”.

serie_dialogos_internaCrédito: Zeh Campos

 

Denis Mizne, diretor executivo da Fundação Lemann, também vê o país diante de um novo desafio após conseguir universalizar o acesso à educação básica. “Distribuir um tablet por aluno, assim como se faz com livros didáticos, é fácil, mas não mexe no problema”, afirma Mizne. “Deve-se criar condições técnicas, financeiras e políticas para que as escolas tenham internet de alta velocidade, permitindo que surjam novas ideias”.

Para ilustrar o potencial de transformação na vida do aluno, o evento abriu espaço para o depoimento de Manoel Bonfim, estudante de 19 anos nascido em Icó, cidade de 67 mil habitantes no interior do Ceará. Hoje cursando faculdade de biomedicina em Fortaleza, Manoel recebeu um impulso em seu aprendizado quando ainda cursava o ensino médio. Por mais que sempre tenha sido um aluno esforçado, ele caiu na realidade quando fez o Enem como treineiro ainda no segundo ano. Foi aí que entrou em cena a tecnologia das plataformas adaptativas. “Fiz o primeiro simulado e recebi um plano de estudo [da Geekie, fabricante da plataforma]. No Enem de 2013, consegui melhorar a nota em 35%”, diz Manoel.

Veridiana Alimonti, do coletivo Intervozes, que reúne comunicadores e advogados, trouxe para o debate números que servem para analisar o panorama da conectividade no país: 56% dos domicílios ainda estão desconectados da internet, segundo a pesquisa TIC Educação de 2013. Enquanto estados do sul e do sudeste do país possuem metade das casas conectadas, a região nordeste tem apenas 30%, e o norte, 26%. Além dos fatores geográficos, a convivência nem sempre pacífica do regime público (com metas de universalização) e do privado (que visa lucro) traz dificuldades e abre clarões na cobertura do sinal de internet.

O encontro também trouxe exemplos do que acontece nos Estados Unidos com a participação de Evan Marwell, CEO da Education Superhighway. Em vídeo exclusivo para o evento, o executivo defendeu que o tema seja colocado como prioridade para que o Brasil consiga fazer com que suas escolas atendam as demandas do século 21. Nos EUA, o programa ConnectED, do governo Obama em parceria com grandes empresas, promete no mínimo 50 Mbps por escola, com fibra e wi-fi nas salas de aula.

serie_dialogos_interna2Crédito: Zeh Campos

 

Por aqui, Juliana Müller Reis Jorge, analista do Ministério das Comunicações, reconheceu que ainda existem ajustes a serem feitos no PNBL (Plano Nacional de Banda Larga): “Embora a penetração seja alta, a velocidade das conexões ainda é baixa”. Para  entender o sistema e traçar um plano que garanta qualidade, com fibra passando perto da escola, em 2014 o governo cruzou dados da educação básica com a quantidade de alunos e professores. “Hoje é possível saber o valor do investimento levando em consideração o perfil de cada escola”, afirma Juliana.

Se 94% das escolas urbanas já possuem acesso de até 2 Mbps, no caso das rurais a frequência da conexão por rádio sacrifica a velocidade para atingir maior alcance. Por isso, o governo aposta no lançamento de um novo satélite, em 2016.

A segunda parte do evento trouxe experiências relacionadas à realidade das redes públicas, começando pela rede de São Paulo, a maior do país, com 5378 escolas, 4,3 milhões de estudantes e 251.906 professores.

Dentre as iniciativas, a rede estadual possui a secretaria escolar digital, em que foram informatizados dados sobre atribuição de aulas, frequência e avaliação, além do boletim. A comunicação da secretaria  com as escolas também acontece via streaming e o Currículo+, baseado na plataforma Escola Digital, leva conteúdos digitais ao professor para tornar as aulas mais dinâmicas, significativas e atrativas.

Outra rede que participou dessa edição da “Série de Diálogos” foi a do município de Cascavel, no Paraná, que já conectou todas as suas escolas, após ter um primeiro contato com a internet em 1997 (veja reportagem do Porvir). Apesar disso, Jocemar do Nascimento, coordenador do núcleo de tecnologia local, pediu atenção a outro problema. “Não é só a velocidade que importa, mas a estrutura. Nem todos os alunos conseguem acessar um site ao mesmo tempo”, diz. Para lidar com a baixa velocidade de banda (2 Mbps), a rede municipal usa um proxy de cache. “Antes da aula, o professor acessa o conteúdo com uma única máquina e baixa para o servidor local”, diz.

serie_dialogos_interna3Crédito: Zeh Campos

 

A diretora da Escola Municipal de Ensino Fundamental Professora Maria Mednuneckas, de Barueri, na Grande São Paulo, falou sobre a experiência da escola com a plataforma Khan Academy. A escola distribui certificados mensais como forma de reconhecer o desempenho dos alunos, como Gabriel Serrano, que também deu seu depoimento. “Com o Khan, o aluno pode rever diversas vezes um conteúdo, até entender. Na sala de aula, ele não poderia pedir pro professor explicar tantas vezes, porque atrasaria os outros”, diz.

A partir do material produzido nas mesas de discussão, será desenvolvido um plano técnico com alternativas  para levar internet veloz para todas as escolas brasileiras. Esse material também deverá esclarecer uma bandeira de mobilização social e incidência política sobre o tema. As recomendações também vão integrar um novo material formativo sobre tecnologia na educação a ser publicado pelo Porvir.


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conectividade, dispositivos móveis, fundação lemann, instituto inspirare, plataformas adaptativas, série de diálogos

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