O que descobrimos sobre crianças e telas no podcast de 0 a 5 - PORVIR

Inovações em Educação

O que descobrimos sobre crianças e telas no podcast de 0 a 5

Na primeira infância, qual o papel da mediação, do contato com a natureza, do incentivo à criatividade? Confira o podcast de 0 a 5

por Ruam Oliveira ilustração relógio 8 de dezembro de 2023

A presença de tecnologia na vida de crianças muito pequenas levanta muitos debates. A preocupação em usar ou não tecnologias digitais com elas têm ganhado os noticiários e sido objeto de pesquisas sobre desenvolvimento, comunicação e impactos na saúde.

Recentemente, o governo federal lançou uma consulta pública sobre o uso de telas com crianças, convidando responsáveis, familiares e educadores para opinar sobre esse uso intensivo. A proposta é preparar um guia com o resultado da consulta.

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Como em muitos temas importantes, este assunto também não deve ficar fora da escola. A comunidade escolar, os pais e responsáveis precisam estar atentos às discussões levantadas pela academia e pelos especialistas em saúde da infância, para entender os efeitos e os melhores caminhos a serem adotados.

A segunda temporada do podcast “de 0 a 5”, produção do Porvir dedicada à primeira infância, focou no uso de tecnologia na educação infantil e em como ela pode se integrar à rotina escolar das crianças. Confira abaixo alguns destaques da temporada:

O que é consenso?

Algo comum entre os especialistas é que a exposição às telas e à tecnologia digital na primeira infância não é recomendada. De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria, o tempo de uso recomendado para diferentes idades é: 

  • Dos 2 aos 5 anos: até uma hora por dia;
  • Dos 6 aos 10 anos: entre uma e duas horas por dia;
  • Dos 11 aos 18 anos: entre duas e três horas por dia.
  • “A gente tem visto evidências de prejuízos que não compensam os eventuais benefícios de uma criança menor de 2 anos de idade ter acesso às telas digitais. Esse é um dos poucos consensos”, comentou Rodrigo Nejm, pesquisador e doutor em psicologia, ex-diretor de educação na Safernet, no episódio um da segunda temporada do podcast. 

Entre os especialistas ouvidos pelo podcast, outro ponto comum é que o uso dessas ferramentas na educação infantil deve ter uma intenção pedagógica clara e objetiva. “Elas devem ser inseridas com cautela e sempre enfatizando muito a questão da autoria das crianças, nunca como um aparato de controle para que elas fiquem quietas”, pontuou Gislaine Munhoz, professora e consultora do Programa Escolas Criativas. Ela participou do terceiro episódio da temporada. 

Contato com a natureza?

Outro aspecto importante é dar a oportunidade para que as crianças tenham contato com a natureza. A Sociedade Brasileira de Pediatria orienta que meninos e meninas devem ter acesso diário, no mínimo por uma hora, a oportunidades de brincar, aprender e conviver com a natureza, “para que possam se desenvolver com plena saúde física, mental, emocional e social”.

Em uma sociedade imersa em tecnologia, mesmo que não seja possível evitar o uso em determinado momento, as escolas podem servir como esse espaço de interação longe das telas. 

Propor atividades que façam os estudantes olhar para a tecnologia de um jeito diferente também é possível com o apoio dos espaços verdes existentes no ambiente escolar. 

“Uma coisa que a gente também tem visto dos estudos é a importância da natureza na educação mesmo. Uma aprendizagem ao ar livre contribui demais tanto para o desenvolvimento no sentido de saúde da criança, como também no cognitivo. Ela aprende melhor, fica mais focada, mais centrada nesse processo de aprendizagem”, ressaltou JP Amaral, gerente de meio ambiente e clima do Instituto Alana.

Entre as sugestões apresentadas no podcast, está o uso de tablets ou celulares para fotografar os espaços escolares. Essa pode ser uma forma saudável de uso, além de auxiliar os estudantes a perceberem que há um uso da tecnologia que vai além de assistir a vídeos ou jogar. 

Como ir além dos vídeos?

Sobre este ponto, as chances de um uso mais significativo ganham outro destaque. O uso de tecnologias digitais por crianças muito pequenas não deve ser feito de maneira desordenada, ou seja, sem um objetivo específico. 

A professora Claudia Regina dos Santos, do CEI Jardim Reimberg, em São Paulo, realiza atividades que envolvam mostrar para a turma que é possível usar o celular para fotografar, criar vídeos ou interagir com outros ambientes usando aplicativos de criatividade. 

“Trabalho com diversidade, com autonomia e identidade. No projeto sobre identidade e autonomia, por exemplo, a gente usa os tablets e a câmera do celular para eles fotografarem o amiguinho que mais gostam, qual é o brinquedo preferido ou o espaço da escola que eles mais gostam”, contou Claudia. 

Um uso mais significativo também demanda que os professores se atentem para quais momentos da aula a tecnologia pode aparecer. O importante é projetar ações que estimulem as crianças a um uso não passivo das tecnologias, que as incentive à exploração, à criatividade e ao protagonismo. 

Diferentes atores 

O trabalho desenvolvido na escola também precisa ser acompanhado por quem está em casa. Para que as crianças entendam que não devem ficar horas usando celulares ou tablets, a escola deve manter um diálogo com as famílias para que trabalhem de forma colaborativa. 

“Eu acredito muito na parceria entre escola e família até a adolescência. Mas acho que na primeira infância isso é fundamental. E em relação ao uso de telas, ele tem que fazer parte do combo educação dos filhos, assim como a gente cuida de alimentação, de sono ou de rotina”, afirmou a consultora Fernanda Montano, no episódio 2 da segunda temporada do “de 0 a 5”. 

Para que compreendam os limites de uso das tecnologias digitais, as crianças não devem encontrar cenários muito distintos em casa e na escola, e essa comunicação é fundamental. 

Outras possibilidades de uso?

Ferramentas e plataformas digitais podem apoiar diferentes públicos, como estudantes com deficiência. Neste sentido, a educação inclusiva pode tirar proveito da tecnologia, sendo utilizada como um apoio para práticas pedagógicas significativas. 

Também por meio da tecnologia é possível trabalhar diferentes habilidades, como as socioemocionais. Fernanda Furia, consultora de Inovação em psicologia e educação, mencionou a inteligência emocional digital, que é a aplicação das competências socioemocionais no ambiente digital. 

O estímulo à descoberta das emoções também pode ser auxiliado pela tecnologia, sem que esse uso seja viciante ou feito sem a supervisão de um docente. 

Em linhas gerais, o uso de tecnologias digitais na educação – em qualquer etapa de ensino – precisa passar por uma proposta pedagógica clara. Sem isso, o uso pelas crianças pode ser evitado e substituído por práticas mais lúdicas e engajadoras. 

🎧 Ouça toda a temporada


TAGS

educação infantil, podcast, tecnologia

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