Tamanho único? No currículo, não - PORVIR

Inovações em Educação

Tamanho único?
No currículo, não

Especialistas americanos desenvolvem o Universal Design for Learning, princípios para uma educação que respeita as diferenças

por Patrícia Gomes ilustração relógio 9 de janeiro de 2013

No fundo da sala de aula, um menino, aqui genericamente chamado pelo nome de João, pode não estar ouvindo direito o que a professora diz porque tem algum problema auditivo. Ou porque sofre de um distúrbio de atenção que ainda nem foi identificado. Ou apenas porque não está achando o assunto interessante. São vários os motivos que fazem com muitos que joões aqui e em todo o mundo não recebam adequadamente a mensagem de uma aula e não se engajem em seu próprio aprendizado. Contra essa situação, um grupo de especialistas norte-americanos vem desenvolvendo o UDL (Universal Design for Learning), uma série de princípios a serem considerados no momento do desenvolvimento do currículo e que permitem que todos os alunos, com necessidades especiais ou não, sejam capazes de participar ativamente de seu processo de ensino-aprendizagem.

A iniciativa, que chega neste ano ao Brasil pelas mãos do iABCD, organização especializada na educação de crianças com transtorno de aprendizagem, defende que os currículos sejam pensados a partir de três parâmetros: várias formas de apresentação do conteúdo, múltiplas possibilidades de envolvimento e formas variadas de ação e expressão. Para cada um desses três princípios, os especialistas norte-americanos do Cast (Center for Applied Special Technology) elaboraram um passo a passo, disponível em português, para ajudar professores de todas as séries e disciplinas a implementarem as orientações.

crédito Joe4560 / Fotolia.com

Sobre o primeiro princípio, que fala das diferentes formas de apresentar o conteúdo, Yvonne Domings, pesquisadora do Cast, exemplifica: uma aula que seja dada oralmente, mas que tenha a opção de ser dada também em vídeo legendado, ajuda não apenas os alunos surdos, mas também os que perderam o momento da explanação oral e o que fixa melhor lendo a legenda do que escutando. Todo o conceito se baseia na ideia, difundida pela organização em seu site, de que “a forma como as pessoas aprendem é tão única quanto suas digitais”. A ideia de que é possível melhorar a vida de um aluno com dificuldades a partir de ações que beneficiem a todos se aplicou também na bandeira da adequação dos espaços das escolas, que estiveram no centro das discussões do Cast em seu início, entre as décadas de 80 e 90 – afinal, uma rampa serve tanto a alunos em cadeiras de roda quanto a mães com carrinhos de bebê, ciclistas ou qualquer outro aluno.

“Todo mundo pode aprender. E aprender não quer dizer apenas escrever textos. Mas nós só avaliamos os alunos com textos”, lamenta Yvonne. Por tal razão é que os especialistas do Cast defendem que os alunos devem ser estimulados a exprimir o que aprenderam a partir de vários formatos, seja desenhando, fazendo diagramas, apresentando seus argumentos oralmente ou por vídeo. “Apenas privilegiados que podem se expressar por escrito podem mostrar o que entenderam. Com uma forma mais flexível de currículo, os outros também são contemplados”, afirma a especialista.

“Todo mundo tem que ser especialista nas suas próprias formas de aprendizado”

Seguindo a mesma lógica de que, em educação, não há peça tamanho único, chega-se ao terceiro pilar do UDL: o que interessa um aluno não necessariamente vai interessa outro e, por isso, cada um deve ser estimulado de uma maneira diferente. Assim, os professores devem tentar descobrir o que apaixona seus alunos e, a partir dessa descoberta, propor abordagens que os façam se interessar pela disciplina e se engajar em seu próprio aprendizado. “Todo mundo tem que ser especialista nas suas próprias formas de aprendizado”, diz ela.

As propostas do Cast foram recebidas com entusiasmo por organizações que representam alunos com algum tipo de deficiência, mas, ressalta Yvonne, são orientações que beneficiam todos os tipos de aluno. Por isso, ele traz no nome a palavra “universal”. Já a palavra “design” é a que garante que as orientações sejam flexíveis a cada demanda. “Se você desenvolve um currículo bom para quem está nas margens, ele vai ser bom para todo mundo”, diz a organização em um vídeo curto, em inglês, em que apresenta a proposta (assista abaixo).

 

 

Cast

Além de orientar professores e escolas a desenvolverem currículos, o Cast – formado por uma equipe de pesquisadores nas áreas de educação, políticas públicas, psicologia, engenharia e outras – tem também se dedicado a prestar consultorias e defender que suas orientações sejam levadas em consideração no momento de elaboração das políticas públicas. Mas, no seu nascimento, ainda na década de 80, o grupo se reuniu com o propósito de usar as inovações tecnológicas no aprendizado num momento em que os PCs começavam a aparecer mais acessivelmente no mercado. A organização já tinha como norte tornar o aprendizado acessível a todos.


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avaliação, inclusão, personalização

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