Turma de ensino médio usa mapas digitais para explorar saberes do território - PORVIR
Crédito: Sundry Photography/iStock

Diário de Inovações

Turma de ensino médio usa mapas digitais para explorar saberes do território

Atividade em escola pública de São Luís do Maranhão (MA) inspira o aprendizado com as referências socioculturais da comunidade

por Marlon Marcelo ilustração relógio 31 de março de 2023

A implantação do Novo Ensino Médio nas escolas públicas trouxe mais desafios para gestores, coordenadores pedagógicos e, principalmente, para nós, professores. A BNCC (Base Nacional Comum Curricular do Novo Ensino Médio) inseriu novas disciplinas nas matrizes curriculares estaduais e revolucionou as formas de aprender e ensinar.

Como professor do Centro de Ensino Integral Y Bacanga, situado na região do Anjo da Guarda, na periferia de São Luís do Maranhão (MA), fui desafiado a refletir sobre minha prática pedagógica quando me tornei responsável por lecionar a eletiva Projeto de Corresponsabilidade Social para as turmas de itinerários formativos da 2ª série do Novo Ensino Médio. Essa disciplina tem o objetivo de articular os conhecimentos do plano teórico com a experimentação e aplicação prática dos saberes adquiridos ao longo da vida acadêmica. Visa, também, conferir sentido e significado ao aprendizado por meio da elaboração de um projeto social que envolve a comunidade escolar e o contexto da sociedade em geral.

Desenhando e executando o projeto

Pensando no aspecto comunitário e no envolvimento dos estudantes no projeto, destinei as primeiras aulas para rodas de conversas e debates sobre questões que afligem a comunidade. Durante os debates, os alunos argumentaram que a falta de pertencimento era uma das principais causas dos problemas sociais da região. Por isso, propus um mapeamento das referências socioculturais da comunidade, com o objetivo de reconhecer as diferentes realidades do entorno da escola e despertar nos alunos uma leitura do território em que vivem, buscando localizar as referências, marcos e problemas comuns.

Para a execução do mapeamento, elaborei um plano de ação e um cronograma de pesquisa com o objetivo de desenvolver as competências socioemocionais no ambiente escolar. Esse planejamento tinha a finalidade de instigar nos estudantes a capacidade cognitiva de buscar um aprendizado sobre o território, por meio da leitura e construção de mapas usando a tecnologia de forma crítica, reflexiva e consciente dentro da sala de aula.

Para apoiar esse processo, foi decidido que os elementos mapeados seriam inseridos como pontos de referência na ferramenta My Maps, formando um mapa digital personalizado. Cada turma elaborou seus critérios e elementos a serem mapeados, definindo o que iriam buscar reconhecer na sua região. O uso da tecnologia do Google Maps possibilitou o uso crítico e significativo do mapa, bem como disseminar informações e o exercício do  protagonismo do lugar onde vivem. O uso de diferentes linguagens no mapa também proporcionou experiências, sentimentos e ideias, que produziram sentidos de pertencimento ao território e à comunidade.

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Mapeando o território e saberes

Durante as aulas, realizamos leituras de textos sobre cartografia social, metodologias de pesquisa qualitativa e quantitativa e métodos de pesquisa de campo. A partir das leituras e debates, o itinerário de humanas e linguagens escolheu mapear danças, festas, artes visuais, os modos de fazer e edifícios de importância sociocultural, definindo-os como bens culturais materiais e imateriais. Os estudantes realizaram entrevistas com os mestres ou detentores do saber e fizeram registros audiovisuais.

O itinerário de ciências exatas mapeou os indicadores socioeconômicos da comunidade escolar, a partir de um estudo sobre o censo, realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A elaboração dos indicadores e os resultados foram compartilhados entre a turma.

Por fim, o itinerário de ciências da saúde mapeou as diversas práticas de saúde e cuidado existentes na região. Os próprios estudantes definiram os conceitos que seriam listados, buscando abranger os conhecimentos tradicionais, médicos e estéticos existentes nos bairros. Além disso, tiveram uma atenção especial à saúde mental, buscando mapear lugares que podem ajudar pessoas que passam por alguma questão psicológica.

Impactos sociais e digitais

A leitura do território por meio da cartografia digital possibilitou aos estudantes identificar as múltiplas realidades que coexistem nos seus espaços cotidianos, bem como estabelecer uma nova relação com a comunidade. Aliar o uso tecnologia com os repertórios culturais dos estudantes foi interessante para incentivar o desenvolvimento de competências socioemocionais previstas na BNCC, como o autoconhecimento, colaboração, criatividade e curiosidade e motivação. A tecnologia foi um meio de construir habilidades de leitura que incentivam o questionamento e uma compreensão diferente de mundo, exercitando a cidadania e a transformação.

O que é preciso para implementar o projeto?

O uso da cartografia digital pode ser replicado de diferentes formas, adequando-se ao contexto escolar e aos interesses dos estudantes. É fundamental que o professor promova espaços de escuta em que os alunos possam expressar os elementos que querem mapear. A ferramenta MyMaps é gratuita e requer pouco domínio digital. Uma das etapas possíveis do projeto pode ser a realização de oficinas de aprendizado coletivo sobre o uso da ferramenta, partindo de uma curadoria de materiais disponíveis na internet.


Marlon Marcelo

É licenciado e mestre em história, atuou como professor do ensino fundamental (anos finais) e ensino médio, e como consultor pedagógico. Desenvolveu projetos na área de elaboração de material didático para a Secretaria de Educação de São Paulo, de formação de professores e gestores para rede estadual do Maranhão na área de letramento digital e tecnologias educacionais com parceria da SUPERP (Supervisão de Espaços e Recursos Pedagógicos), setor da Secretaria de Estado da Educação do Maranhão responsável por planejar, executar e monitorar as ações pedagógicas em espaços educativos não-formais, como bibliotecas, laboratórios de informática e salas de vídeo.

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ensino médio, tecnologia, uso do território

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