A universidade onde o fazer é o mais importante
Especializada em engenharia, Olin College, nos EUA, tem currículo estruturado por competências e baseado em projetos
por Fernanda Kalena 1 de agosto de 2014
Primeiro o fazer, depois o aprender. Essa é a base da cultura e da filosofia da universidade Franklin W. Olin College of Engineering, em Massachusetts, nos Estados Unidos. Lá os estudantes primeiro praticam e testam ideias para depois terem aulas teóricas sobre os assuntos relacionados aos projetos. “Desse modo, os estudantes entendem o porque desses conteúdos precisarem ser aprendidos. Eles apreciam e valorizam mais o que está sendo transmitido”, explica Lynn Andrea Stein, professora de computação e ciência cognitiva e diretora do Collaboratory, setor da instituição que tem como missão catalisar a mudança no ensino da engenharia.
A universidade foi fundada em 2002, com o objetivo de formar engenheiros de uma forma diferente da tradicional, mais voltada para a inovação, o empreendedorismo e para a solução de problemas do mundo contemporâneo. Esse é o tema da quinta reportagem da série do Porvir “O futuro do ensino da engenharia”, que também traz artigos com reflexões de pesquisadores da Escola Politécnica da USP.
Segundo a diretora, o programa foi estruturado com base em uma demanda do mercado e em estudos de diversos setores que mostravam que o engenheiro deveria ser um profissional capaz de trabalhar em equipe, colaborativo, com boas habilidades de comunicação, que saiba entender e compreender problemas que nem sempre estão claros e de resolver esses problemas através de soluções adaptáveis a diferentes realidades, possíveis de serem implementadas e sustentáveis. “Sabíamos que eram essas as características que queríamos que os nossos alunos tivessem ao final curso. O que estamos nos dispondo a fazer é dar suporte para que eles desenvolvam essas habilidades”, conta a diretora que compõe o quadro docente da universidade desde a sua criação.
O programa pedagógico estruturado por competências e baseado em projetos da universidade tem o intuito de desenvolver a autonomia de aprendizado dos alunos por meio. É valorizado mais o que o aluno consegue fazer do que o que ele sabe. “Fomos inspirados por muitas coisas diferentes, mas uma muito importante para nós é a de que você aprende o que você pratica. Então, se nossos estudantes praticassem apenas o sentar e ouvir, estaríamos formando engenheiros ótimos em sentar e ouvir. Enquanto alunos, eles devem praticar a engenharia e interiorizar esse hábito para continuar aprendendo mesmo depois de formados”, diz Lynn.
Por isso, o aprendizado independente é incentivado. Para que eles aprendam a trabalhar em equipe, muitas atividades são realizadas em grupos; para que compreendam problemas, são entregues desafios que nem sempre têm uma resposta certa. Além disso, todos os estudantes moram no campus, o que, segundo a diretora, desenvolve neles a cultura de viver a engenharia. “É comum, ao dar uma volta pelo campus à noite, ver grupos de alunos trabalhando empolgados em alguma coisa. E não sabemos se é para uma aula, uma competição, se estão iniciando um novo negócio ou apenas se divertindo”, conta.
Seleção
Os jovens interessados em ingressar na Olin enfrentam duas etapas para a admissão. A primeira é igual a de outras instituições dos Estados Unidos, em que é avaliado o currículo escolar, cartas de recomendação e o resultado do exames do ensino médio. Já na segunda parte, os estudantes considerados academicamente qualificados para o programa são convidados a passar um dia no campus da universidade e lá tem que desenvolver um projeto. Esse programa é coordenado pelos estudantes da própria universidade e funciona como um momento de experimentação para que os futuros alunos testem o modelo de ensino da instituição e como se adaptam a ele.
O fato de serrem os estudantes que comandam este programa está relacionado com a visão da instituição sobre o papel que eles desenvolvem durante a passagem pela universidade. “São eles que moldam o seu próprio aprendizado”, ressalta Lynn. Desse modo, cabe ao professor o papel de mentor desse aprendizado. “Entendemos que é algo que cabe ao aluno, o professor não pode aprender pelos estudantes”.
A vida pós universidade
Um dos indícios que faz com que a universidade tenha convicção de seu modelo é o rumo profissional que os estudantes de Olin seguem. Segundo Lynn, um terço dos engenheiros formados nas universidades norte-americanas acaba entrando para carreiras no mercado financeiro. A área atrai esses profissionais devido aos altos salários e os deseja pela sólida formação teórica que recebem na graduação. No Brasil, apenas 54% dos graduados na área trabalham como engenheiro de fato.
Já entre os engenheiros formados pela instituição esse é um caminho incomum. A diretora diz que a universidade acompanha a vida profissional de seus ex-alunos e que se lembra de dois ou três que hoje atuam no mercado financeiro. Isso porque eles possuem uma vasta experiência em realizar projetos, o que lhes abre portas para assumirem posições de gerência e liderança de equipes em empresas de tecnologia, como Google e Microsoft, e também em companhias de engenharia.
Ei Porvir, ei pessoal, vocês repararam que a abordagem do Franklin W. Olin College condiz com o conceito do “Flipped Flipped Classroom” do Paulo Blikstein?
“Primeiro o fazer, depois o aprender”. Os resultados do Blikstein apontaram também para o “hands on” primeiro, o que motiva os alunos a devorarem as vídeo aulas para compreender melhor a experiência.
Bora trazer essa ola para o Brasil tb!
bjs e abs
É bem bacana, Nilton!
Fizemos ano passado uma reportagem sobre o flip the flipped classroom:
http://porvir.org/porfazer/invertendo-sala-de-aula-invertida/20130814
Alô pessoal do Porvir,
Matéria muito legal. Conhecemos Olin e desde 2012 a Escola de Engenharia da UFMG vem trabalhando também por uma nova Engenharia através do Programa ENG200 (https://www.facebook.com/engduzentos). A partir das ideias de Olin e conhecendo nosso contexto estamos na luta por uma engenharia inovadora. Se houver oportunidade, gostaríamos de partilhar nossa experiência além de conhecer melhor os trabalhos da USP.
Um abraço,
Alessandro.
Oi, Alessandro, obrigada pelo interesse.
Na matéria publicada hoje falamos sobre o que está acontecendo na UFMG:
http://porvir.org/porfazer/cursos-de-engenharia-se-aproximam-de-problemas-sociais/20140808