Uso de plataformas e soluções tecnológicas pode favorecer colaboração entre estudantes
Para não proibir o uso do celular na volta às aulas presenciais, educadores e especialistas apontam como professores podem planejar o uso da tecnologia
por Maria Victória Oliveira 9 de dezembro de 2021
Se antes da pandemia era comum encontrar avisos e placas proibindo o uso de celulares em sala de aula, com a retomada das aulas presenciais esse cenário poderá ser diferente. Depois de tanto tempo de aulas remotas, redes de ensino e instituições transformaram sua relação com a tecnologia no período de distanciamento social.
Sheldon Assis, gerente de relacionamento da Conexia Educação, explica que nas escolas em que foi possível adotar novas maneiras de ensinar e aprender mediadas pela tecnologia, houve mudanças significativas e positivas. “Para as escolas que deram uma resposta rápida e boa em meio ao isolamento e colocaram o hibridismo como modelo de fato, não será possível voltar ao antigo modelo de ensino tradicional, de professor palestrante e aluno ouvinte. Mas, provavelmente, aquelas que tiveram dificuldade em adotar o modelo híbrido devem tentar voltar para o modelo anterior ao qual já estavam acostumadas.”
Vale afirmar também que o planejamento e preparo para adoção de tecnologia vai muito além do uso das plataformas, que já é significativo, mas abarca todo um redesenho da educação. Esse processo foi muito acelerado no contexto de suspensão das aulas presenciais durante a pandemia.
Maria Teresa Gerbasi, diretora do Colégio Maria, em Jaboticabal (SP), explica, justamente, que um dos principais benefícios do novo formato didático com a adoção de tecnologia é o rompimento com o modelo tradicional, que traz novas possibilidades para a aprendizagem.
“Podemos adotar uma educação baseada na Ciberarquitetura, ou seja, estruturada no uso de plataformas digitais, seja de forma presencial ou não. Além disso, temos o desenvolvimento da autonomia do aluno, o exercício e o trabalho em equipe, a integração entre teoria e prática, o desenvolvimento da visão crítica da realidade, o papel mediador e curador do professor na pedagogia da problematização, entre outros elementos.”
Tecnologia e interatividade
O uso de soluções tecnológicas e plataformas educacionais apoiou o trabalho dos professores e equipes pedagógicas de diferentes maneiras, como na promoção de maior interação e colaboração entre os estudantes. Sheldon afirma que as instituições de ensino que investiram nessas soluções, bem como em diferentes recursos e games interativos, conseguiram promover maior diversificação das aulas, uma vez que surgiram novas possibilidades de interação com e entre os alunos.
“Isso é genial, há tempos a educação brasileira precisava dar esse salto. Mas para as escolas que não fizeram esse investimento, o que vemos é uma tentativa de replicar de maneira online as aulas presenciais, e isso é o pior que poderia ocorrer, pois são meios distintos, que precisam de abordagens totalmente diferentes”, defende.
Entretanto, considerando as desigualdades sociais que produzem inúmeras e profundas diferenças no acesso a equipamentos e à internet banda larga, Sheldon comenta que o modelo híbrido de ensino está longe de ser aplicado de maneira ideal nas escolas das redes públicas – municipais, federais e estaduais – do país.
Tecnologia não substitui o professor
Para Liliane Rezende, professora de matemática dos anos finais do ensino fundamental e professora universitária na UEMG (Universidade do Estado de Minas Gerais), um dos maiores aprendizados desse período é a clareza de que a tecnologia não substitui o professor ou a necessidade de interações físicas, que são muito importantes sobretudo na educação infantil e ensino fundamental.
“Na escola onde trabalho, nós recebemos 90 tablets, e são cerca de mil alunos. Apesar de ser pouca quantidade, os aparelhos acabam sendo mais ou menos suficientes porque não são todos os professores que utilizam. Ou seja, é necessário investir em formação continuada para que os profissionais saibam como utilizar as plataformas e tecnologias digitais.”
Além disso, a educadora também pontua que a vivência durante a pandemia mostrou a importância de uma cultura digital como um todo no mundo da educação, como por exemplo com a criação de endereços de e-mail para os estudantes, para a escola e seus funcionários. “O que fica de aprendizado é que podemos nos reinventar o tempo todo e trazer a tecnologia para agregar e somar com o nosso trabalho, e não substituí-lo.”
Múltiplas possibilidades da tecnologia
Durante as aulas remotas, algumas propostas envolveram a colaboração entre os estudantes como um dos pilares para a construção do conhecimento. Elas usaram documentos e apresentações compartilhadas e incentivaram a realização conjunta de pesquisas, trilhas e produções, reforçando a importância do contato com o colega mesmo à distância.
Na volta ao presencial, entretanto, é importante não confundir ações superficiais, como por exemplo dividir um aparelho tecnológico, com colaboração. “Mesmo eventualmente usando o mesmo aparelho, os alunos podem ser desafiados a realizar tarefas diferentes e/ou complementares. Um fica responsável por pesquisar e o outro por construir um infográfico. Ou os grupos devem complementar o trabalho uns dos outros. Quanto mais colaborativo, melhor”, explica Sheldon.
Como preparar a aula?
Para promover mais colaboração entre os estudantes, o planejamento é um dos pontos essenciais. É necessário pensar qual ferramenta o professor irá utilizar para ministrar a aula, em quais momentos as crianças ou jovens terão oportunidade de interagir, o que irão produzir e como a atividade será avaliada. Pensar sobre essas temáticas ajudará o docente a ter mais clareza sobre a proposta a ser construída.
Liliane comenta que, para o próximo ano, seu planejamento vai incorporar o uso das tecnologias digitais na prática do dia a dia, mesclando propostas de momentos mais expositivos com abordagens voltadas à metodologias ativas de aprendizagem. “É muito difícil, por exemplo, fazer um ensino personalizado em uma sala de 30, 40 alunos sem usar a tecnologia digital. Uma possibilidade é combinar momentos de explicação no quadro com propostas de exercícios em casa e momentos de uso do tablet em sala de aula. Tudo isso pensando a partir de plataformas que contam com recursos de compartilhamento e de gamificação. E para a avaliação, podemos pensar no uso das rubricas”, explica.
Maria Teresa, por sua vez, dá algumas dicas do ponto de vista da gestão. Para a diretora, um bom planejamento, enquanto o norteador de uma aula diferenciada, deve conter itens de sondagem, problematização, sistematização e generalização, com o objetivo de transformar a informação detida pelo aluno em conhecimento essencial para a vida.
Para que os alunos participem ativamente, é necessário mobilizá-los e torná-los corresponsáveis de seu processo de aprendizagem, o que pode ser possível a partir da adoção de metodologias ativas e didáticas que promovem o chamado ‘aprender fazendo’. “As metodologias ativas são um excelente mecanismo, pois seu principal foco é a vivência, experimentação, resolução de problemas, as simulações e, de maneira geral, a abordagem de uma educação maker, criadora e mão-na-massa. Além disso, as plataformas digitais também são facilitadoras nessa caminhada”, completa.