Eleva adota minissérie inspirada na Netflix em programa socioemocional
Laboratório Inteligência de Vida propõe que adolescentes desenvolvam habilidades discutindo Malala, jogos e até uma série inspirada na TV, enquanto crianças cuidam do lobo Tomás e dos monstros na barriga
por Vinícius de Oliveira 19 de maio de 2017
A ênfase no desenvolvimento de competências socioemocionais que deve constar na versão final da BNCC (Base Nacional Comum Curricular) já faz grandes empresas de educação do país se movimentarem e desenvolverem programas específicos para atender a essa nova demanda. A Eleva Educação, por exemplo, criou o Laboratório Inteligência de Vida – LIV, um programa já aplicado na nova Escola Eleva de Botafogo, no Rio de Janeiro (RJ), que adota diferentes estratégias para apoiar alunos a lidar com suas emoções em uma aula que acontece desde a educação infantil até o ensino médio.
Durante a Bett Educar, o Porvir conversou com Caio Lo Bianco, coordenador do LIV, que ressaltou que o objetivo é mostrar ao aluno que “não é possível controlar o que se está sentindo, mas pode-se escolher o que fazer com os sentimentos”. Segundo Lo Bianco, que também é professor, esse trabalho vai contra o senso comum, que prefere apenas dizer para a criança não sentir raiva, não ter medo, não ficar triste e não chorar, como se tais manifestações fossem passíveis de escolha.
Da educação infantil até os três primeiros anos do ensino fundamental, o programa tem como pilares o autoconhecimento, autocontrole, empatia e relacionamento. Em uma estratégia similar ao projeto amigos do Zippy, que o Porvir tratou no guia sobre Competências Socioemocionais, a Eleva usa a obra “A caixa do Tomás”, da autora Blandina Franco e do ilustrador Carlos Lollo – que coloca o personagem diante de diferentes sentimentos, como medo, ciúme, coragem, amor, tristeza –, com uma versão em pelúcia do lobinho, que os alunos podem levar para casa e depois relatar sua experiência em um diário coletivo.
A própria turma faz os combinados sobre o que pode e o que não pode ser feito, e Lo Bianco conta que alunos realmente se comprometem. “Na minha última aula, o aluno que foi sorteado falou que não levaria no final de semana porque iria viajar para um lugar com animais, gato, piscina e tinha medo que pudesse acontecer alguma coisa com o Tomás. As regras são levadas a sério porque foram criadas por eles e não pelo professor”. Para conectar as crianças e suas famílias, o trabalho continua em casa e tem como base o livro “Tenho Monstros na Barriga”, da consultora educacional e especialista em educação socioemocional Tonia Casarin.
A partir do quarto ano e até o final do ensino médio, o foco do programa muda para habilidades de colaboração, perseverança, criatividade, proatividade, pensamento crítico e comunicação. A maneira com que elas são tratadas também muda e passa a ser transversal. Para dar conta disso, ao invés de apenas livros e discussões, foi feita uma pesquisa sobre os hábitos dos estudantes dentro e fora da escola. De maneira geral, descobriu-se que os adolescentes possuem uma rotina dominada por vídeos de YouTubers e séries da Netflix – no caso do 6º ano, a favorita era “The Walking Dead”, cujo enredo mistura zumbis e violência. Se não pode separar esses mundos, decidiu unir-se a eles, porém com a proposta pedagógica. Após montar uma equipe de produção com roteiristas, atores e diretores, da mesma maneira que acontece na TV, o grupo educacional lançou a minissérie “Supernova Eleva”, que tem um novo capítulo liberado a cada aula com tema a ser debatido no encontro seguinte.
“Você tem que atrair essa faixa etária de uma maneira um pouco diferente. Aqui vamos ter jogos, leitura com reflexão (incluindo livros de personalidades como os da ativista paquistanesa Malala Yousafzai e da alemã de origem judaica Anne Frank, vítima do Holocausto) conectados às habilidades. Em projetos como o Novos Olhares para o Mundo, usamos em aula fotos de quartos de crianças no Quênia, na periferia de São Paulo, e nos Estados Unidos para trabalhar o que esses quartos dizem e em qual realidade estão inseridos”, explica Lo Bianco.
Implementado dentro da rede Eleva em 2015, o LIV é aplicado em 60 escolas (35 parceiras e 25 próprias) de 27 cidades e atende 25 mil alunos. Desde o início o ano letivo de 2017, o programa começou a ser comercializado abertamente.