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Alunos de escola pública lançam satélite em órbita

Estimulados por professor de matemática, estudantes de 12 anos desenvolvem peça aeroespacial capaz de mandar mensagem

por Patrícia Gomes ilustração relógio 18 de junho de 2012

Eles não são doutores do MIT, não trabalham para a Nasa, nem fazem pós graduação em um programa milionário de alguma das agências espaciais espalhadas pelo mundo. A turma, que há quase dois anos estuda técnicas para construir uma peça aeroespacial e maneja tecnologia específica para lançar um satélite em órbita, o Tancredo I, é formada por meninos e meninas de 12 anos da Escola Municipal Presidente Tancredo Neves em Ubatuba, São Paulo. Sim, 12 anos. Estão no oitavo ano do ensino fundamental e vêm, principalmente, da comunidade de baixa renda vizinha à escola.

Sem que soubessem, porém, um mundo de oportunidades iria se abrir a partir de fevereiro de 2010, quando uma notinha publicada em uma revista de ciências caiu nas mãos do professor de matemática Candido de Moura. O texto falava que uma empresa na Califórnia estava vendendo kits que permitiam a construção de satélites de pequenas dimensões e que, depois de pronta, a peça poderia ser lançada no espaço.

crédito Pablo Kaulins / Fotolia.com

 

Moura resolveu tentar comprar o kit para construir o satélite com os alunos. “Eu gosto dessa parte prática. Não queria fazer esses exercícios de sala de aula que vêm prontos, com número preparado para a resposta não dar valor quebrado”, afirma o professor. Ele telefonou para a empresa, disse que queria comprar. A recepção foi calorosa, mas veio com um aviso. “Eles ficaram empolgados com a perspectiva de ter meninos de 10 anos construindo o satélite, mas avisaram que precisaríamos de ajuda técnica para colocar o projeto em prática”.

Moura tinha então três problemas para resolver: reunir gente que tivesse vontade de tocar o projeto, conseguir financiamento de US$ 8.000 para comprar o kit e, por fim, ter a ajuda de quem entendia do assunto para o desenvolvimento do conhecimento específico. O primeiro, diz o professor, foi o mais fácil, afinal não era difícil juntar pessoas interessadas em construir um satélite. O segundo, que era verba, também se resolveu com o contato com patrocinadores. Para vencer o terceiro desafio, bateu à porta do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), foi recebido com entusiasmo e fechou a parceria.

crédito Divulgação

Desse ponto até o início do trabalho com os alunos, foram meses lidando com o ir e vir de papeis para firmar convênios e trazer o que os EUA chamavam de “tecnologia sensível” para a América Latina. Enquanto resolvia a parte burocrática, Moura começou a sensibilizar os alunos com filmes sobre missões aeroespaciais bem e mal sucedidas, para despertar na turma o interesse pelo assunto. Com todo o projeto devidamente autorizado e regulamentado, revelou o plano para os meninos, que aceitaram o desafio. Começaram, então, os treinamentos para transformar o kit em um satélite. “É preciso ajustar o projeto, soldar os componentes que vêm no kit, comprar algumas peças no mercado”, afirma o professor.

“Quando você coloca um satélite em órbita aos 12 anos, você lida com muito mais tranquilidade com os problemas da vida”

Os meninos foram apresentados à função de cada componente, aos conceitos de eletrônica, de eletricidade estática e aprenderam a soldar segundo as especificações da Nasa – no espaço, a variação de temperatura e a radiação são fatores que exigem cuidados a mais no processo. Com a construção do satélite em andamento, nove dos alunos participantes foram aos EUA, no mês passado, conhecer a empresa fornecedora do kit e a Nasa.

“O projeto mudou a vida deles. A gente tem aluno querendo ser engenheiro eletrônico, astronauta”, afirma o professor. Além do aprendizado específico, incomum para a faixa etária, Moura acredita que construir um satélite e lançar em órbita tem ajudado em outras dimensões da vida, tornando-os mais autoconfiantes, comunicativos e interessados nos estudos de uma maneira geral. “Quando você coloca um satélite em órbita aos 12 anos, você lida com muito mais tranquilidade com os problemas da vida”, brinca o professor, que planeja escrever com os meninos um artigo científico sobre o impacto que o projeto tem tido na vida deles.

O satélite deve ser lançado no ano que vem e está sendo projetado para conseguir enviar uma mensagem captável por qualquer radioamador do planeta. Segundo Moura, essa é uma função simples que foi escolhida propositalmente para não criar muitas dificuldades. Mas no segundo satélite que a escola quer lançar, com a próxima turma de sexto ano do fundamental, a intenção é que os alunos menores façam a parte operacional de montagem e os maiores e mais experientes, com idade entre 13 ou 15 anos, desenvolvam uma função mais complexa para o satélite.


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