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Inovações em Educação

Conscientizar adultos é tarefa escolar em Santo André

Alunos do 3º e 4º ano do ensino fundamental se mobilizam para diminuir a quantidade de pombos no bairro

por Marina Lopes ilustração relógio 6 de outubro de 2014

Na região metropolitana de São Paulo, a excessiva quantidade de pombos se tornou um problema frequente para os moradores do bairro Bangu, em Santo André. Pensando nisso, um grupo de alunos do 3o e 4o ano do ensino fundamental da Emeief (Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental) Tarsila do Amaral elaborou um projeto de conscientização para tentar afastar as aves do local. Trabalhando com a metodologia do aprendizado baseado em projetos, os estudantes criaram a campanha “Não Alimente os Pombos!”.

“A gente está conscientizando os moradores do bairro para não alimentar os pombos porque eles causam muitas doenças”, explicou o aluno Vinícius Rojas, 9, do 4º ano. Da distribuição dos panfletos até a confecção dos materiais, a campanha inteira foi realizada pelos alunos, inclusive, as visitas aos comerciantes locais para arrecadar doações. “A gente fez uma carta, imprimiu e foi de loja em loja para pedir recursos”, contou Gabriel Bonfochi, 9, aluno do 4o ano.

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A ação começou a ser desenvolvida durante o ano com a ajuda e orientação das professoras Alexandra Henriques e Franciellen Moraes de Souza. Após uma atividade de percorrer a escola com um caderno para fazer observações, os alunos notaram a grande quantidade de pombos que ficavam no telhado, deixando o ambiente sujo. Quando saíram para observar o bairro, o problema se repetia. Após constatar essa situação, eles começaram a desenvolver um projeto que ajudasse a acabar com os pombos da região.

Integrando as duas turmas do ensino fundamental, as professoras pediram para os alunos pesquisarem sobre os pombos, as doenças transmitidas por eles e como poderiam elaborar uma ação para diminuir esse problema. Durante o desenvolvimento do projeto, eles confeccionaram desenhos, escreveram orientações em panfletos e elaboraram uma peça de teatro na escola. Após todo o período de planejamento, os alunos saíram pelas ruas da região para entregar os papéis na casa dos moradores.

Gabriel Epaminondas, 9, do 3o ano, era um dos alunos que estava ansioso para a distribuição dos panfletos. “Eu estava treinando em casa com a minha mãe. Até escrevi no papel ‘oi, meu nome é Gabriel e eu sou aluno da Emeief Tarsila do Amaral (…)”, exemplificou o menino, de maneira tímida, porém, com domínio sobre o projeto. Ele e outros 50 alunos saíram pelo bairro abordando os moradores e comerciantes para contar sobre os riscos causados por alimentar os pombos.

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Integração com o bairro 

“A escola é um agente de transformação. O que ela não consegue fazer quando começa a trabalhar em parceria com a comunidade?”, defendeu a professora Franciellen.

“Quando saímos, percebemos que o pessoal é muito receptivo com a escola. Eles querem fazer parte e ficam felizes de estarmos fazendo alguma coisa pelo bairro”, contou Alexandra. A dona de casa Silvana Pereira foi uma das moradoras que recebeu a visita dos alunos para falar sobre a campanha de conscientização. “Eu achei muito legal essa integração deles conhecerem a vizinhança e, por outro lado, a gente poder se integrar com os projetos da escola.”

A integração com a vizinhança também foi um fator de motivação para os alunos. “O mais legal é a gente poder sair pelas ruas entregando panfletos e falando para os moradores que eles não podem alimentar os pombos”, disse a aluna Larissa Yokoyama, 8, do 3o ano.

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Trabalhando por projetos

“O principal ganho da educação baseada em projetos é conseguir integrar todas as matérias de uma maneira que incentiva o interesse dos alunos”, destacou a professora Alexandra. Para desenvolver o projeto, diversos conteúdos curriculares foram interligados.  Em ciências, os alunos pesquisaram sobre os pombos e as doenças que podem ser transmitidas por eles. Na disciplina de geografia, estudaram a zona rural e a zona urbana, tentando entender os fenômenos de urbanização responsáveis pela mudança de habitat das aves. Nas aulas de português e produção de texto, elaboraram frases que seriam impressas nos panfletos. “Até os conceitos de matemática eles utilizaram para fazer os cálculos dos panfletos e das camisetas do projeto”, completou Franciellen.

‘A escola é um agente de transformação. O que ela não consegue fazer quando começa a trabalhar em parceria com a comunidade?’

Para Gabriel Bonfochi, 9, do 4o ano, além de melhorar as suas notas, participar do projeto ajudou ele a se soltar mais. “Antes eu era um pouco tímido, mas quando eu fui falar com as pessoas, me senti super confortável”, contou. Segundo a professora Alexandra, isso é reflexo do desenvolvimento habilidades como o trabalho em equipe, a oralidade e questões de valores. “O interessante é que eles também acabam se ajudando”, afirmou, ao relatar o caso de dois alunos que conversaram após a entrega dos panfletos sobre a melhor maneira de abordar as pessoas na rua. “Você tem que olhar para as pessoas, falar boa tarde, posso falar com você (…)”, exemplificou.

“É claro que a gente não vai conseguir eliminar os pombos, mas vamos conseguir mudar algumas atitudes aos pouquinhos. O bacana é isso. Perceber que a gente plantou essa sementinha. A gente não quer ficar só aqui dentro dos muros da escola”, disse Franciellen.

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Apoio para desenvolver os projetos

Segundo a professora Alexandra Henriques, ensinar os alunos por meio de projetos torna o aprendizado mais significativo, porém, requer mais tempo e preparação do educador. Para elaborar e estruturar o projeto “Não Alimente os Pombos!”, ela e Franciellen contaram com o apoio Programa de ECOA, uma iniciativa do Instituto Alcoa que apoia projetos locais de educação ambiental. O programa ajuda a organizar uma articulação comunitária e capacita equipes escolares para trabalhar por projetos.

Outra iniciativa consultada pela professora Alexandra para desenvolver o projeto foi o Tim Faz Ciência, uma ação do Instituto Tim que visa o fortalecimento do ensino de ciências na escola. Direcionado para professores e estudantes de 4º e 5º anos de ensino fundamental, o programa se baseia em diversas etapas de estruturação do conhecimento científico, incentivando os alunos a observar, verificar, classificar, questionar, definir, aplicar e generalizar.


TAGS

aprendizagem baseada em projetos, aprendizagem colaborativa, ensino fundamental, interdisciplinaridade

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