Escola de Rondônia aposta na formação integral
No projeto Burareiro o currículo é voltado para o desenvolvimento completo dos alunos e desperta maior interesse
por Redação na Rua 28 de outubro de 2014
Do Centro de Referências em Educação Integral
O baixo índice de desenvolvimento humano se colocou como o principal desafio da gestão municipal de Ariquemes (RO), em 2005. Especialmente nos bairros mais periféricos, as acentuadas questões de vulnerabilidade social, violência, desemprego e violação dos direitos de crianças e adolescentes, acabavam por inflacionar um quadro de desinteresse educacional, marcado por baixa assiduidade, evasão escolar, repetência e baixa estima dos alunos.
O enfrentamento a esse cenário nasceu de uma aproximação da prefeitura com a Universidade Federal de Rondônia (UNIR), a partir do Centro Interdisciplinar de Estudos e Pesquisas em Educação e Sociedade, representado pelo professor doutor Antônio Carlos Maciel e pelas professoras Rute Moreira Braga e Adriana Ranucci. O grupo recebeu um pedido de apoio na formatação de um projeto de educação em tempo integral; a consultoria, no entanto, promoveu o desenvolvimento de um projeto, a partir do entendimento de que seria necessário promover o desenvolvimento de múltiplas capacidades humanas, ancoradas, sobretudo, por uma nova perspectiva curricular. Nascia o projeto Burareiro.
Proposta integrada
A experiência nasceu como um projeto piloto aplicado na escola municipal Roberto Turbay; em 2007, se expandiu para mais três unidades: Professor Pedro Louback, Professor Ireno Antônio Berticelli e Professor Venâncio Kottwiz. O trabalho partiu de uma integração curricular, que buscava nortear os conhecimentos a partir dos conteúdos de ensino, e de atividades culturais e esportivas. A proposta direcionou 840 horas anuais aos componentes curriculares nacionais e 800 às oficinas curriculares que abrangem atividades de estudos orientados, arte e cultura, atividades esportivas e motoras, saúde educacional, educação alimentar e ambiental. Segundo o professor Antônio Carlos Maciel, um dos orientadores do processo, a ideia é mostrar que as aprendizagens cotidianas não devem estar dissociadas daquelas obtidas no ambiente escolar.
A oferta de atividades prevê continuidade na construção do conhecimento, motivo pelo qual o projeto preserva também seus profissionais em tempo integral. A alta rotatividade é evitada justamente para que não haja descontinuidade da proposta pedagógica a ser trilhada. Os alunos são orientados a se envolverem a partir de suas habilidades, gostos e projetos de vida. Além disso, outras diretivas fundamentam a proposta: a politecnia, a ampliação do tempo, espaço e oportunidade, a escola como eixo integrador da comunidade e a construção de projeto pedagógico a partir de um conselho gestor multidisciplinar.
Grupos de estudos
A transição para o modelo envolveu um amplo trabalho de formação com as equipes gestoras que passariam a desenvolvê-lo, a partir de um questionamento central: “Como queremos que o aluno seja multidisciplinar com professores especialistas?”. As reflexões começaram em 2006, com a participação dos profissionais da rede em um Seminário de Educação Integral e Políticas Públicas. Depois disso, o percurso formativo se estruturou a partir de encontros bimestrais que buscavam o diálogo entre a teoria e a prática, momentos chamados de laboratórios sociais histórico críticos.
Os encontros previam a integração dos gestores das escolas que podiam vivenciar situações variadas de aprendizagem, como exemplifica Maciel. “A partir do futebol, por exemplo, era possível trabalhar conceitos de cooperação e competição, também presentes em nossa sociedade; e estabelecer outras relações matemáticas com a triangulação dos passes, sua velocidade e distância”.
Esses conhecimentos eram compartilhadas com as equipes pedagógica e administrativa das escolas, já que seriam elas as responsáveis pelo acompanhamento, e pela integração do planejamento e da execução dos projetos e atividades desenvolvidas.
Gestão participativa
A educação integral, aos poucos, ia se manifestando na proposta pedagógica das escolas que, por sua vez, se sustentava em gestão participativa. Mensalmente, as escolas têm assegurado em seu calendário momentos de planejamento coletivo, para os quais são convidados pais, familiares, comunidade, e outras secretarias. Os resultados das ações são frequentemente apresentados em exposições abertas ou feiras culturais, com ampla participação dos alunos.
Também está contemplada no projeto a participação das outras secretarias do município. O esforço intersetorial amplia a possibilidade de realizar ações e de fundamentá-las sob intencionalidades pedagógicas diversas e reais.
Principais resultados
A consolidação do projeto Burareiro veio, com o passar do tempo, contornando problemas sociais antes comuns ao território. Dados da Secretaria de Municipal de Educação mostram melhoras no índice de aprovação – em 2004, 80%; em 2013, 87%. Isso implicou em queda de retenção dos alunos, em 2004, 20% e em 2013, 13%, além do controle da evasão escolar, totalmente eliminada nesse ano. Atualmente, 1.580 alunos encontram-se matriculados em período integral no município.
Para os gestores locais, esse alcance foi possível a partir da ressignificação do espaço escolar, o que implica na valorização de toda a equipe pedagógica, com formações e atualizações constantes, amplitude de oportunidades educativas em diálogo com as demandas dos alunos e consequente reconhecimento de talentos, e a garantia de espaço participativo aos familiares e comunidade, que se tornaram parte da comunidade de aprendizagem.
Também é determinante o esforço de todas as secretarias do município no planejamento e execução das atividades, e a parceria com o Ministério da Educação (MEC), a partir de 2009, com o Programa Mais Educação que, para além das escolas atendidas pelo Burareiro, oferta educação integral para as unidades Mário Quintana, Magdalena Tagliaferro, Professor Levi Alves de Freitas, Aldemir Lima Cantanhede e Dr. Dirceu de Almeida, ampliando a oferta de possibilidades educativas no território.
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